Natal

Queridos leitores, neste Natal decidi partilhar convosco os momentos do meu ano 2014, até porque vocês, se me conhecem bem e se lêem as minhas crónicas, os temas que preenchem ‘o meu lugar ao sol’ são diversificados. Desde uma liderança eficiente ao desenvolvimento de competências, a minha crónica de segunda-feira tenta chegar ao coração de todos e de cada qual. Este ano tive a oportunidade de respirar bem o fundo de mim própria, de sentir a transparência do amanhecer no olhar da madrugada, tive oportunidades experiência em que fui vítima e em que me senti ofensora dos direitos e dignidade humanos. Reparei que por entre os olhos do mundo que me via, eu me enxergava e assim que não gostava, colocava a bagagem nas costas e ía por aí, pelo vazio de alguma perpendicular que me enxugava as lágrimas. Perguntava-me: ‘És tu meu amor?’ e só depois percebia que a minha memória ainda não respirava suficientemente bem para me sentir limpa com o mundo. Isto de viver todo o ano tem que se lhe diga…«oportunidades, diga-se»…segundos, minutos, horas, positividade e otimismo – ser para vencer e vencer para ser – mas no fundo, bem lá no fundo, o olhar, o coração e os sentimentos acolhem-se no verdadeiro e puro amor; e são tão descartáveis as minhas palavras que eu nem me importo que vocês, queridos leitores, nem se interessem com o que escrevo agora ou durante todo o ano, porque no fundo é a ação e o sentimento de pertença e de verdadeira humanidade que conta. Hoje comentei com uma cliente: ‘O dar no Natal, é uma recompensa a quem nos faz feliz o ano inteiro’; ela fez questão de me lembrar: ‘não se esqueça dessa frase; olhe que eu até vou escrever isso num postal de Natal que vou dar’. Aí eu pensei: ‘caso escrevesse essa frase, a quem a enviaria eu?’. Porque se me deleito logo me contenho, e porque se dou, logo me chega do mundo a exigência, e se eu falo é porque o silêncio é o mais necessário dos preceitos, e se contemplo é a minha ação pró-ativa que está em falta, e se mereço é porque devo no minuto a seguir e se não mereço pergunto-me: ‘Afinal, a quem é que vou eu dirigir aquela frase de Natal?’ O mundo está carente de afetos…e mesmo no outro dia eu me perguntava: ‘aquilo que eu te queria dar eu não tenho, como é que te vou poder dar…e eu falava simplesmente de amor, simples…amor’. Contudo, ter amor e poder recompensar quem nos faz feliz o ano inteiro parece-me sublime, se estivermos com as condições certas e confortáveis, numa felicidade acordada do aconchego divino até ao propósito maior: ‘Ser feliz’. E como diz um amigo meu: ‘…mas não é isso que todos queremos?’. Sofre quem sofre e quem vê o outro sofrer, então livrar o mundo do sofrimento seria o ideal; mas será possível fazê-lo? A doação é algo maravilhoso, a entreajuda e a cumplicidade ainda são instrumentos que nos movem de um sentido de estar para ser; a amizade verdadeira, aquela tão disponível, reconhecida por ambos em todo o esplendor, protegida das manchas sombrias e fortalecida diariamente por uma confiança quase divina que nos sabe acontecer maravilhosamente. A liberdade de criar, do sentido do conquista, do alcance, nos interpela a ação perguntando-nos: ‘e não há mais nada para fazer?’. A prudência, a proteção, a reconciliação vão-se confundindo com o stress do afazer e do separatismo, irrealidades que nos podem ser mais confortáveis diariamente mas que são, fundamentalmente, irrealidades, ilusões criadas para nos mantermos vivos na miséria do que sabemos ser. Mas há tanto a agradecer, a saúde, os novos conhecidos, os segundos de mar de rosas, aquele livro que nos aqueceu o coração, aquele abraço acolhedor, aquela mão que nos ajudou, aquela palavra que nos incentivou, aquela força que nos salvou, aquele ‘amo-te’ que nos sustentou, aquele respeito que nos inebriou, aquele sorriso que nos fortaleceu…aquela ação, aquele sentimento, um pensamento até…tudo para nos dizer: ‘Ei, vês como és, também eu fui, sou, serei!’…

Queridos leitores…um santo e feliz Natal!