No fim, quem come é o ladrão – Maria João Costa

Enganam-se quando pensam que é boa ideia chamar a polícia depois de um assalto em casa; também estão muito enganados quando pensam que o ladrão vai ter o que merece, e que ainda vão receber uma indemnização  pelos danos morais. Não, a vítima não é quem é assaltado, mas quem entrou sem pedir licença e ainda levou o que não lhe pertencia. Sim, a vítima é o ladrão, porque o tribunal ainda encontra uma forma de fazer com que vocês paguem a comida e a roupa lavada que ele usa todos os dias. Ele agradece por estar preso, e vocês arrependem-se por terem cumprido a lei.

Acontece todos os dias, não é novidade, e já nem merece um lugar na última página do jornal regional. Um assalto. Estraga a porta e leva um computador. Ele é preso (isto é que já não é comum), e quem fica sem porta e sem computador é chamado a tribunal. Aqui é que complica.

Porque é que o juiz perde tempo com um caso que nada tem de complicado? O ladrão confessou, o computador já estava fora da validade, ninguém pediu dinheiro, era só arquivar o processo e ponto final.

Porque é que continuam a fazer audiências durante dois anos; porque é que obrigam as pessoas a faltar ao trabalho para repetirem a mesma coisa pela milésima vez; porque é que enviam cartas atrás de cartas, e porque é que faltar a uma audiência (quando o correio não chega às mãos certas) é a desculpa perfeita para exigir um subsídio de alimentação para o ladrão? Com 250 euros já se consegue comprar algumas latas de salsicha, e se tiverem a sorte de estar com 50% em cartão ainda se podem dar ao luxo de usar o cartão do Passos Coelho.

Não, não estudei direito, nem tenho intenções de o fazer, iria terminar a licenciatura sem perceber a diferença entre autor e réu.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!