O facilitismo enquanto fenómeno de auto-sabotagem

No mundo ocidental vivemos um tempo de paz que, ao que parece, será duradoiro, pelo menos a julgar pelo cenário geopolítico actual. Temos tudo, ou quase tudo, à distância de um clique, sem necessitarmos de fazer muito esforço para conseguirmos aquilo que desejamos. Quando alguma coisa quebra não se conserta, compramos novo, no fim de contas até sai barato! Vivemos aquela rotina casa-escritório-escritório-casa, sem sabermos muito bem qual foi a última vez que fizemos alguma actividade que exigisse, por exemplo força e destreza física. As lutas de hoje já não são corpo-a-corpo, os indivíduos preferem “ajustar contas” de formas menos violentas, na maior parte das vezes através da discussão. Tudo mudou não é verdade?

O ecrã tomou conta das nossas vidas. Deixamos de praticar futebol para ver futebol na TV, deixamos de sair com os nossos amigos para ver o filme “X” ou a série “Y” na TV, deixamos de conversar com as pessoas presencialmente para o fazer no “chat”, imagine-se até que alguns deixaram de ter relações sexuais substituindo as mesmas por pornografia.

Esta dependência do ecrã é altamente castradora de uma vida minimamente saudável. Esta existência quase paralela fixada nos jogos de vídeo, na TV, no computador etc. faz-nos retroceder enquanto Homens. Alimentamos a nossa auto-sabotagem ao ponto de já não sabermos mudar um pneu, arranjar a dobradiça da porta que range, pintar uma parede, lavar a loiça, passar a ferro etc. Assumimo-nos como inúteis sem darmos por isso quando, ao invés de fazermos, chamamos o outro para fazer. O tempo presente, propício à lei do “estraga deita fora” e da absurda especialização, faz com que o funcionário administrativo não saiba pregar um prego e que o carpinteiro não saiba tirar uma fotocópia. Isto leva os homens a progressivos e sistemáticos atestados de inutilidade.

O Homem multi-funcional que sabia fazer de tudo um pouco foi substituído pelo “Homo-fordismo”  que leva até ao exagero a sua área de especialidade ficando um autêntico inútil em áreas que, para os nossos pais, mães ou avós foram apreendidas desde cedo devido ao facto destes terem nascido em tempos diferentes, nos quais a necessidade aguçava o engenho.

Aprender para muitos é sinónimo de “ler e viajar”. É um cliché, uma frase feita, que ouvimos vezes sem conta. Desenganem-se! Aprender é muito mais que isso; aprender é fazer, é praticar, é colocar as mãos à obra e tentar saber de tudo um pouco, desde lavar, passar a ferro ou desentupir a sanita até fechar um grande negócio, aprender outras línguas ou escrever um artigo reflexivo acerca de um qualquer tema complexo.