O mistério da anatomia humana…

Falemos das coisas mais naturais da nossa existência — as necessidades fisiológicas. A mais usual, denominada de necessidade fisiológica número um, trata-se da libertação de líquidos que estão acumulados na bexiga. Depois, mas não menos importante, surge a necessidade fisiológica número dois, que consiste na libertação de — e tentando ser o menos escatológico possível — cocó que está recluso no interior do intestino e que está prontíssimo para sair o mais rapidamente possível. O que, por vezes, resulta num comportamento algo erróneo por parte do shôr cocó, quando o malandro decide querer sair nos momentos mais inapropriados que possam existir na vida de um ser humano. Pronto, agora que descrevi, de uma forma breve e pacóvia, o funcionamento do sistema intestinal e urinário do corpo humano, vamos abordar um tema que me incomoda cada vez mais. Falo, mais concretamente, na relação misteriosa e, por vezes, até demasiado medonha, entre o cérebro e a bexiga.

Pode parecer absurdo, mas a verdade é que existe uma espécie de ligação sobrenatural entre estes dois importantíssimos órgãos do corpo humano. E essa ligação serve, apenas, para atazanar a vida ao seu senhorio. Não se trata de nada mais relevante — serve apenas para atormentar ou torturar a vida da pessoa que transporta esses dois órgãos no seu interior. Tenho total autoridade para afirmar que eles estão ligados entre si de uma forma oculta, porque, indubitavelmente, decidem juntar-se e funcionar como um só, nos momentos mais horríveis e inesperados da vida de um ser humano. Para demonstrar este ponto de vista, apresento, de seguida, um exemplo da malvadez e atrocidade que estes dois órgãos são capazes de provocar, quando se decidem juntar.

Ficar-se estagnado numa fila de trânsito devido a um acidente entre dois ou mais carros, resulta num sofrimento pessoal e interno, por vezes muito complicado de gerir. Não falo do facto de se estar atrasado para ir a algum lado, mas sim, pela questão da importância da realização de necessidades fisiológicas naquele momento. Parece existir sempre naqueles momentos intermináveis de espera, uma espécie de ligação maquiavélica entre o cérebro e a bexiga no sentido de piorar ainda mais a situação. E pensamentos como “espero que não me dê vontade de fazer chichi agora…”, resultam, imediatamente, em pensamentos tais como “oh, porra, tenho tanta vontade de fazer chichi!”. É automático. Como se funcionasse por osmose, eis que o cérebro decide enviar uma espécie de mensagem de WhatsApp para a bexiga, anexando uma imagem, e ordenando: “psst, olha, ele está com medo que lhe dê vontade de fazer chichi, já sabes o que tens de fazer, avança!”. Ou, então, parado numa fila de trânsito, basta olhar-se para o lado e constatar-se que está alguém, no carro ao lado, a ingerir água para que, numa espécie de “lei da atracção”, surja imediatamente a vontade de fazer chichi. Tenta-se desviar a atenção da mente para aquele facto, para aquela necessidade momentânea, mas quase nunca resulta e acaba-se a elaborar planos para conseguir livrar-se daquele problema, ao mesmo tempo que se reza aos sete deuses para que aquele aglomerado de carros comece a circular o mais rapidamente possível.

Agora… aliado a esta “união de malvadez e desconforto” entre o cérebro e a bexiga, Deus nos livre de a bexiga deixar de dar ouvidos ao cérebro, porque aí, nessa situação, tenho a certeza que o cérebro irá imediatamente enviar um Tik Tok aos intestinos e está a confusão armada…