O tipo do escritório – Parte 3

É um problema quando um homem de quarenta anos se apaixona. E é um problema ainda maior quando é casado e se apaixona pela amante. Confundir tesão com paixão acontece com alguma frequência. Escusado será dizer que Estela despachou o tipo do escritório. Ela tinha sido bem clara antes de se envolverem, nada de sentimentos, sentimentalismos, paixões e merdices, esses difíceis tópicos ficam a cargo das esposas, elas que os tolerem, ela nunca quis ser esposa de ninguém, nem tão pouco espera que alguém deseje ser seu marido.

Estela gosta de flirts, sexo, aventuras, encontros de uma noite, sexo a três, casos breves, gosta da sua independência, das suas nádegas, da sua boca, de acordar sem ninguém a seu lado, dos seus horários ora loucos ora rotineiros, gosta de não ter de dar satisfações a ninguém, Estela gosta de aproveitar a vida à sua maneira e ter uma relação amorosa implicava abdicar de tudo o que foi descrito anteriormente e isso, meus caros, nenhuma mulher deveria ter de o fazer, mas falemos de feminismo em alturas mais felizes, concentremo-nos nesta fabulosa história de Estela e da sua colossal inteligência em não se prender de forma afectiva a nenhum homem. Um pequeno aparte para evitar vicissitudes de alguns leitores mais sensíveis às causas femininas: Estela teve uma infância feliz, rodeada de amor pela mamã e pelo papá, nunca foi maltratada nem teve nenhum desgosto amoroso na sua adolescência, portanto, não existe no comportamento de Estela nenhum trauma relativo à sua infância e puberdade, espero ter ajudado a dissipar as vossas dúvidas.

A aventura terminou, Estela não estava para aturar tipos carentes, era mais o que faltava. Os dois mal se viam, quando se cruzavam acidentalmente na empresa, à saída, à entrada, na pausa para o almoço, mal se cumprimentavam, o clima outrora fervoroso e cintilante tinha diminuído de tal forma que, ambos pareciam dois perfeitos desconhecidos. As mensagens de conteúdo pornográfico foram apagadas e as chamadas tinham cessado. Para Estela era tranquilo, hoje mesmo ia se encontrar com um tipo que conheceu no Tinder, provavelmente casado, “a fila anda” disse a amiga de Estela quando descobriu que o homem com quem dividia cama e contas há 20 anos, afinal gostava do mesmo que ela, tem acontecido muitas vezes por esses lares portugueses.

O mesmo não se podia dizer do tipo do escritório, ele estava francamente mal, estava apaixonado, coitadito, dava pena olhar para ele, não é que ele não se sentisse feliz com a mulher, ela é boa esposa e boa mãe e boa dona de casa, o sexo é razoável, embora quase inexistente, mas Estela, Oh…a Estela tinha os seus encantos naturais, o sexo era estrondoso, Estela não tinha tabus e estava sempre excitada, os encontros sexuais provocavam no tipo uma espécie de adrenalina que lhe gerava autoconfiança – ego masculino, se me permitem a audácia – ele quis continuar a relação mas Estela não, ele não compreendia, confessou os seus sentimentos e em troca foi desprezado. Ridículo e diminuído, era como o tipo do escritório se sentia. Não há pior sentimento para um homem do que se sentir inferiorizado perante uma mulher, seja ela quem for.

O tipo do escritório era um bom tipo, não fez nada de mal, ele só queria o melhor dos dois mundos: A amante que finaliza o sexo oral e a mulher que cuida dos filhos. O que o tipo do escritório estava prestes a descobrir é que é impossível ter o melhor dos dois mundos…

Continua