O palhaço

O Cuca não era um palhaço normal, não fazia rir ninguém e não gostava de ser palhaço. Mas sempre fizeram dele palhaço, ele escondido por trás da sua máscara era uma pessoa conformada com o seu destino, apesar de saber que um dia se revoltaria com todo o sistema que o fazia de palhaço. Hoje não, pensava ele… e assim ia passando os dias. Mesmo ali com a sua família, pronta a festejar mais uma passagem de ano, ele sentia que toda a família era palhaços, não por tradição e sim, por obrigação. Ainda se lembra do tempo em que sonhava ser apenas alguém com um bom emprego e com a uma família. Aquela velha máxima “plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro“ não era para ele, na sua cabeça era mais ter um bom trabalho, uma família e ao Domingo descansar com a família. Porém, o emprego que tinha, nunca lhe deixou tempo para a família e acabou por perder o emprego, a casa, uns dos seus sonhos e na televisão só via dinheiro para os bancos, os mesmos que lhe tiraram a casa e toda o resto de dignidade. Muitas vezes pensava fazer uma revolução, não passava de um pensamento, pois os palhaços não merecem o respeito, pelo menos palhaços como ele…

Alguém quebrou o seu pensamento, com um grito: está quase na hora! Alguém saltou para cima da mesa, há sempre alguém que o faça. Não para iniciar uma revolução e sim para fazer a contagem decrescente, tudo com os copos no ar e a comer as passas como se ouvissem as 12 badaladas e na meia noite todos começar a fazer mais barulho, a desejar feliz anos novo. Depois foram ver o fogo de artifício à varanda e quando todos voltaram para dentro, ele ficou olhando o céu. Tirou a carta da mulher do bolso onde estevera um adeus seco, depois de 15 anos de um casamento mais ou menos feliz. Ele sorriu como um palhaço e disse para sim mesmo, bem vindo 2016 e pensou despedir-se em grande, voando daquela janela. Mas depois resgou a carta e disse: vou fazer uma revolução, talvez tivesse que adiar para 2017 porém um dia fazia uma revolução.

Ao voltar para dentro, viu aquela confusão toda e pensou, ano novo e continuava a ser palhaço, quando queria apenas ser alguém. Saiu para a rua onde o frio batia na cara, somos todos palhaços! Gritou, todos somos roubados e nós nada fazemos. Palhaços! Mas ninguém o ouviu, ele foi para casa da mãe