O vendedor de sapatos

Hoje, casualmente, ouvi a história do vendedor de sapatos. O tipo de histórias que nos contavam em crianças, pequenos tesouros literários cujo conteúdo simples e breve, pautava sempre por uma lição de moral que nos era apresentada no final da mesma. E se a memória falhou visto que não me recordo de me terem contado esta narrativa na infância, é certo que em adulta já não a esqueço. Aprecio a simplicidade, sempre.

Somos um povo sofredor, um povo heróico, que desbravou mar e terras, somos um povo crente, no Sebastianismo, na Cova da Iria, em milagres, mitos, bruxas, santas, karmas e em tudo aquilo que não vemos mas temos a certeza absoluta que existe. Semelhante às pequenas histórias que vamos ouvindo aqui e acolá, em crianças e em adultos, que nos oferecem uma aprendizagem muitas vezes perspicaz.

Escrito por palavras minhas, o conto do vendedor de sapatos: Era uma vez…uma indústria de calçado que estava em grande crescimento a nível internacional. Um dia, surgiu a oportunidade de exportarem o seu produto para a Índia, para efectuar uma pesquisa de mercado viável o gerente enviou dois dos seus melhores vendedores, o Francisco e o Pedro, para realizarem o trabalho em áreas distantes. Após alguns dias de estudo no local, ambos enviaram os resultados das suas averiguações: O Francisco concluiu que o projecto na Índia seria um péssimo investimento pois na Índia ninguém usa sapatos. Por sua vez, o Pedro finalizou a pesquisa afirmando que o projecto de exportação tinha todas as condições para ser um sucesso de vendas, pois na Índia ninguém usa sapatos.

Moral da historia: na vida, tudo é uma questão de perspectiva! Ambos presenciaram a mesma situação mas tiveram pontos de vista diferentes – o negativo e o positivo.

E os leitores, que neste momento estão a ler o que escrevo, com mil pensamentos sobre as vossas vidas, com assuntos pendentes para resolver, situações difíceis para lidar, magoas, memórias, sentimentos assombrosos, mudanças e adaptações vertiginosas que tivemos todos de fazer devido à pandemia mundial, a perspectiva sobre o que nunca devia ter acontecido e a perspectiva do que poderia ter acontecido. Podemos fazer uso da autocomiseração e da negatividade ou podemos aproveitar o caos e a paz para criar algo novo, mudar o rumo, aproveitar o presente, fazer o que realmente gostamos. A vida pode ser boa, é tudo uma questão de perspectiva.

 

“Um homem é logo outro homem quando toma uma decisão”

Saramago