Os Muggles Não Conseguem Ler Este Artigo – Carla Vieira

Eu tenho um hábito muito interessante de ler à noite quando já estou na cama. É um hábito calmante, estar deitada a ler um livro, a folhear as páginas já conhecidas do famoso Harry Potter.

Nunca fui muito de dizer que sou fã de isto e daquilo, geralmente prefiro dizer que “gosto”, sendo estes livros a única excepção. Quando fui à estreia do último filme, o ano passado, neste mesmo mês, havia um sentimento de nostalgia no ar que é bastante difícil de explicar; o grande grupo de pessoas com quem eu fui ao cinema estava ansioso por entrar na sala, tal como o resto dos fãs que por lá apareceram carregando varinhas, malas com o símbolo dos Deathly Hallows, t-shirts, uniformes de Hogwarts e outros acessórios que tais.

A premissa era a mesma: o grande ícone das nossas infâncias ia acabar. Era o último filme. Nunca mais iria haver a pressa de correr para as livrarias para comprar o volume em inglês de capa dura, reservar bilhetes de cinema por amigos, criar grandes concentrações de Potterheads aqui e ali, conviver com pessoas que nunca vimos na vida e agir como se fossemos amigos desde sempre. Tudo isso iria acabar naquele dia, àquela hora.

No entanto já passou um ano. Do grupo de pessoas a que eu me juntei para a estreia criei grandes amizades e outras coisas ainda mais bonitas. Continuo a estar a par de tudo o que está relacionado com Harry Potter e foi com muita alegria que vi a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos e testemunhei o regresso de Lord Voldemort e a leitura da J. K. Rowling. Cada vez mais os grupos no facebook sobre coisas relacionadas ao feiticeiro mais famoso do mundo proliferam e expandem. O Pottermore está em alta e já existem sites semelhantes. E eu? Como todos os bons Potterheads, continuo a ir para a cama e a ler todos os sete livros embrulhada em cobertores e a fazer de conta que pertenço a este mundo tão mágico; e acredito que não sou a única.

Há coisas inexplicáveis neste mundo: a magia e familiaridade destes livros é uma dessas coisas. Sabe tão bem fazer parte desta grande família de feiticeiros e saber que nos reconhecemos uns aos outros sem julgamento nenhum; que apesar de haver quatro equipas rivais, estamos unidos embora separados; que em todos os cantos do mundo, não interessa a língua nem os costumes, existem aglomerados de feiticeiros escondidos-à-mostra em todas as nações.

Os livros são realmente algo muito bonito, embora cada vez menos as crianças estejam motivadas a ler. Nunca me orgulhei tanto de ser fã de alguma coisa, e não poderia encontrar melhores fãs mesmo que tentasse. É esse o espírito do Harry Potter, e tenho a certeza que nunca acabará.


Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente