Papa Francisco

Desde que me tornei um “ser pensante” e comecei a prestar mais atenção a tudo aquilo que me rodeava, sem ser o vale dos lençóis e a Britney Spears, apercebi-me que a posição da Igreja Católica primava sobretudo por atitudes retrógradas. A título de exemplo refira-se que o uso de métodos contraceptivos era altamente desaconselhado e punível por esta, o divórcio era um ultraje, não havia espaço nem lugar para pessoas homossexuais, entre tantas outras coisas. A Igreja afirmava que quem escolhesse deliberadamente tais caminhos pecaminosos obtinha um passaporte directo para o inferno (não sei porquê, mas imagino sempre a Teresa Guilherme a entregar este documento e a gritar “Bem-vindo ao desafio final!”), esse lugar no subsolo com temperaturas elevadíssimas capazes de fritar um ovo em menos d’um segundo.

Perante este cómico cenário senti-me a agir como um ateu. Se na TV passasse uma declaração proferida pela Igreja recusava-me a ver e a ouvir. Só entrava em igrejas naqueles contextos que não podemos de todo evitá-las, ou seja, nas cerimónias fúnebres. Muitas vezes trocei a Maria que não era virgem e o José que era c… Cabeludo. Em suma, fui um jovem rebelde com a Igreja e ainda me orgulhava disso. Mas cresci, e embora ainda me sinta ateu, não concordando com os múltiplos preceitos impostos por esta; já não mudo o canal da TV, continuo a não entrar nas igrejas (apenas porque não têm aquecimento) e já não troço com a Maria e os c… cabelos do José (agora o meu alvo é a vaca). Esta mudança radical deve-se sobretudo a um ex-porteiro de uma discoteca argentina, o Francisco. Só pelo facto de este ter tido uma vida “normal” e com isto não me interpretem mal, porque o que eu quero dizer consiste no seguinte: geralmente imaginámos estes indivíduos enclausurados em seminários, envoltos de livros antiquíssimos, e agarrados a terços e quarteirões, pedindo perdão veemente pelos pecados alheios (mas que falta de ocupação! E jogar ao sudoku?). Mas o Francisco não. Trabalhou, e até teve uma profissão em nada relacionada com a vida religiosa, divertiu-se certamente e só aqui já primou pela diferença em relação aos seus antecessores, pelo menos é isto que sabemos.

Reagi com indiferença à chegada do sumo-sacerdote, mas não tardei a prestar-lhe a devida atenção quando o vi mudar radicalmente algumas atitudes impostas há muito tempo pela Igreja. Do dia para a noite, os cristãos não deviam acasalar como coelhos e se o fizessem, pelo menos, ponderassem o uso de contraceptivos… Uau! O Francisco disse isto? Disse! E há mais! Passou a haver lugar e muito espaço para as pessoas homossexuais, porque “Deus aceita-te como és”… Ai já aceita? O que O fez mudar? Será da idade? Alzheimer? Os divórcios, bem, isso não mudou muito, ou melhor, nota-se uma ligeira mudança para as pessoas divorciadas… Ser divorciado implicava não poder casar-se uma segunda vez pela igreja e apadrinhar crianças, por exemplo. Continuam a não poder casar-se uma segunda vez pela igreja, mas já não existem restrições em apadrinhar alguém. Também já não vão para o inferno. Agora, em vez de uma eufórica Teresa Guilherme, deparam-se com um S. Pedro no andar de cima com um ar muito entediado a sussurrar qualquer coisa como “agora vem tudo para aqui, é uma festa” ou “isto deve ser a casa da mãe Joana”.

Existe um velho ditado que diz o seguinte: “quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. A Igreja pré-Francisco encontrava-se num caos: muita incoerência, demasiados escândalos (especialmente relacionados com práticas pedófilas), poucos fiéis (e jovens nem vê-los) e muito desagrado com as atitudes old fashion. Ser católico não estava na moda e foi precisamente por esta razão que o Papa Francisco foi cuidadosamente escolhido. Na verdade, estas mudanças significativas não me espantam, tinham mesmo de ser tomadas, era imperativo! Qual o objectivo? Atrair novamente os fiéis, claro. Escuto muitas vezes comentários como “ele tem mesmo bom coração”, “ele é um anjo”, “ele é uma lufada de ar fresco”… Será? Ou estará apenas a desempenhar correctamente e com afinco a função de angariador comercial?

Independentemente de desempenhar ou não as funções de angariador comercial e/ou relações públicas numa discoteca mundial, o Papa Francisco não deixa de ser uma lufada de ar fresco na Igreja Católica. De igual forma espero que nos surpreenda com mais medidas revolucionárias e que, pelo menos, uma delas consista nos padres poderem casar! Vá alguém compreender o celibato…