Passos Coelho: Chefe, mas Pouco (Episódio 2) – Nuno Araújo

António José Seguro, do PS, exigiu que Portugal tivesse condições favoráveis, como as da Grécia, no seu ajustamento. Mais tempo e menos juros, basicamente, para pagar o empréstimo da Troika. Com efeito, Passos Coelho deu-se por vencido na sua “birra política” e já afirmou estar de acordo com essa exigência de Seguro.

Essa mudança de opinião de Passos Coelho é uma lufada de ar fresco para Portugal.

Essa mudança de opinião de Passos Coelho é uma vitória do PS e de Seguro.

Essa mudança de opinião de Passos Coelho retira o próprio do isolamento a que se penitenciou, ao teimar em não pedir melhores condições à Troika, para Portugal cumprir com as suas obrigações.

Essa mudança de opinião de Passos Coelho reinsere o próprio na ordem do dia da cena política portuguesa.

Essa mudança de opinião de Passos Coelho demonstra que é sendo humilde que o próprio tem mais a ganhar; evidencia também que não é por ele que passa o poder da governança, propriamente dito. O poder, esse, passa antes por outras mãos.

Seja como for, pelos vistos, a entrevista de Seguro à TVI, na passada Quarta-feira, deu frutos. A mudança de posição de Passos Coelho também se deu por força de duas outras coisas: a primeira, a posição de Paulo Portas, parceiro de coligação de Passos Coelho, em que publicamente defendeu melhores condições para Portugal no que respeita ao cumprimento do memorando assinado com a Troika, e a segunda, a carta que o CDS afirmou estar a escrever à Troika, por ocasião da 6ª avaliação da Troika ao cumprimento do programa de ajustamento português.

Essa cedência de Passos Coelho demorou, mas cumpriu-se. Um dos primeiros a defender melhores condições para Portugal cumprir o assinado com a Troika foi o Presidente da República Cavaco Silva, para depois o ministro de estado Paulo Portas juntar-se-lhe nessa tomada de posição.

Isolado, Passos Coelho nada mais poderia fazer senão render-se às evidências: se a Grécia, que não está a cumprir sequer metade do que Portugal está a cumprir, porquê não exigir melhores condições à Troika? Exigir melhores condições à Troika não rebaixa Portugal, antes dignifica o nosso país, pois Portugal e o seu povo tem sido cumpridor das obrigações e dos ajustamentos forçosos de fazer.


Melhores condições dão oportunidade a Portugal de retomar o caminho certo para o crescimento económico, e salvam no imediato o país de uma ruptura social e económica.

Os juros que Portugal terá pago, aquando do término da assistência financeira a Portugal, serão cerca de 35 % do total de dos 79 mil milhões de euros de empréstimo à Troika. Esta situação escandalosa tinha que ter fim, desse por onde desse.

Notas

A TAP, companhia aérea portuguesa, pode vir a ser vendida a preço de saldo a um senhor multimilionário de nome Gérman Efromovich. A TAP poderá apenas render ao estado português cerca de 500 milhões de euros, valor oferecido por Efromovich, que é o único interessado na compra de 95% da TAP. Se a TAP fôr vendida “apenas” por 500 milhões de euros, será como que vender ao desbarato uma das “jóias da coroa” portuguesa. Caso para dizer, “não havia necessidade”.

A RTP é um dossier com perigosas ligações. Nuno Santos, quando disse que o seu afastamento, do cargo de director de informação da estação pública de TV, foi um “saneamento político”, a administração da RTP moveu-lhe um processo disciplinar. Esse processo disciplinar segue-se a um inquérito duvidoso e parcial efectuado pela mesma administração, que sabe que a PSP visiounou imagens não editadas da manifestação de 14 de Novembro. De tal forma, a demissão/suspensão de Nuno Santos reveste-se da maior incredulidade, isto claro em democracia. O governo de Portugal, estando inserido na União Europeia (UE), não pode dar a imagem, através do ministro Miguel Relvas, de que compactua com ingerências da administração da RTP no conselho de redacção da estação de TV. Ou seja, esta situação ambígua de Nuno Santos não pode dar sinais de ter sido, efectivamente, um “saneamento político”. Mal do nosso país se tal fosse verdade…

Os Estados Unidos da América (EUA) vêem a sua taxa de desemprego descer pelo segundo mês consecutivo, desta vez uma décima, situando agora em 7,7 %. Os EUA têm estes números simpáticos, a UE tem uma média de 11,7% como taxa de desemprego…

O conselho europeu de 12 e 13 de dezembro abordará a crise financeira na UE, uma vez mais. As condições especiais para a Grécia, e quiçá para Portugal, lá serão abordadas. Desta vez, a Alemanha já tem a sua economia estagnada, a Finlândia está em recessão técnica, a Holanda também, enquanto que a França também caminha para uma inevitável recessão. Na UE, o ritmo é de desaceleração económica, enquanto a Moody’s baixa o rating do MEEF (que, curiosamente, nem sequer entrou em vigor, só em Janeiro de 2013 é que dará início…).

A Grã-Bretanha de David Cameron, isolada na UE por posições eurofóbicas e em risco de fracturação por força do ímpeto independentista da Escócia, mostra-se uma monarquia preparada para aceitar oficialmente casamentos homossexuais nas Igrejas, numa lei polémica mas vanguardista, sem dúvida. Esses casamentos poderão não ser aceites pelas instituições religiosas, mas a verdade é que a lei do estado parece ultrapassar um qualquer conceito de “commonlaw”. Junte-se a esse o problema do referendo à independência da Escócia para 2014 e percebemos que David Cameron tem assuntos mais importantes do que a UE em que pensar, até porque a Libra Esterlina não deixará de ser a divisa britânica, digamos nos próximos 30 anos.

A Espanha também se debate com a vitória de Artur Mas na região autónoma da Catalunha, sendo que Mas se trata de um líder de pendor nacionalista e pouco moderado, requerendo a independência da Catalunha e consequente abandono do euro. Aí, terá o apoio dos escoceses, que também desejam não estar inseridos na UE.

Será que lá se irá falar da já tão discutida adesão da Turquia? Não me parece. Mas talvez se aborde uma possível adesão da Islândia.

Tem sido abordada a hipótese, nalguns meios políticos suíços, de que a Suíça federal (e não regional) terá vontade política em aderir à UE. Será que este conselho europeu já terá este ponto na ordem de trabalhos? Daria jeito à Suíça participar activamente no MEEF, pois a sua moeda de referência (franco suíço) continua a valorizar, e assim a sua economia cresce menos, logo nada melhor do que aderir ao euro, que é mais estável e resistente às flutuações especulativas de mercado. Quanto à UE, a essa, dar-lhe-ia jeito que o MEEF tivesse apoio político e financeiro da Suíça, país próspero e muito bem visto por diversos investidores mundiais, que lá depositam quantias avultadas de dinheiro, por ter um sistema bancário altamente rigoroso e seguro para grandes fortunas.

Abordando algumas questões que serão mais de fundo, como o orçamento comunitário para 2014-2020, política de defesa da UE quanto à formação de exército europeu e ruptura com a NATO, harmonização de leis e impostos a nível europeu, entre outras ideias, serão adiadas, como sempre têm sido, no tempo. A UE tem tempo para verificar os pressupostos do novo governo chinês, assim como o próximo ano eleitoral na Alemanha, em que Angela Merkel, reeleita com quase 98 % no seu partido (CDU), se terá de preparar bem para enfrentar o candidato do SPD, Peer Steinbrück, um sindicalista de centro-esquerda, licenciado em economia, que já foi ministro das finanças de Merkel, até 2009.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana