Quem será o carrasco da economia portuguesa? – Nuno Araújo

Paulo Portas votará ao lado do PSD a favor do orçamento de estado para 2013 (OE 2013). Afinal de contas, o que é que se podia esperar? Que Portas findasse a coligação e, com isso, o tempo do seu poder? Nem por sombras!

O PSD atacou o CDS com a arma de um “orçamento da coligação, que não pertence só ao PSD”. Esta estratégia de chamar o CDS à responsabilidade marcará, doravante, o rumo das declarações menos abonatórias face ao “estado de alma” (citando o ministro Miguel Relvas) de Portas e do CDS.

O CDS, a braços com um terrível orçamento, quererá melhorá-lo. Sabe que se “esticar muito a corda” das folgas orçamentais e adendas e emendas ao documento do OE 2013. a corda quebra-se. E o CDS, se há facto que nunca quereria que lhe fosse imputada a responsabilidade, seria a de uma necessidade de segundo resgate, ou mesmo bancarrota, por falta de acordo político.

Pedro Passos Coelho sabe, assim, que o CDS será “presa fácil”. Creio mesmo que esta atitude do CDS denota desconforto interno nesse partido de direita conservadora, porém, poderá revelar até, quem sabe, perda de margem de manobra na luta por mais lugares no governo. Porque o CDS é assim mesmo. Porque em política é essencialmente disto que se trata.

Em boa verdade, diga-se: o acordo assinado com a Troika, tal como foi já modificado pela coligação PSD-CDS, é um autêntico carrasco da economia portuguesa. Deixo o desafio: quem será o carrasco da economia portuguesa? Troika? Vítor Gaspar? Paulo Portas? Passos Coelho? O ministro-mais-do-que-remodelável-do-governo (quem será este)?

“A festa socialista”
Na passada Quinta-feira, o ministro Álvaro Santos Pereira decidiu dizer que o OE 2013 é “a factura da festa socialista”. Será que este ministro, que é o ministro-mais-do-que-remodelável-do-governo, decidiu entrar numa “louca correria” para não ser “remodelado”? Assim parece. Quem atirar a bola mais alto ganha, é como naqueles jogos de futebol das crianças.

O PS não deixou o ministro-mais-do-que-remodelável-do-governo sem resposta. Carlos Zorrinho, líder da bancada socialista, respondeu da seguinte forma: “O senhor (Santos Pereira) representa um Governo que não conseguiu formular um orçamento exequível (…) É um discurso inaceitável, de desespero, sem sentido de Estado (…) O último ano e meio foi uma tragédia para o País e o senhor é o rosto dessa tragédia (…) Fez uma epifania sobre o vazio (…) Não, o senhor fez uma epifania sobre um milhão de desempregados”.

Uma resposta óptima e certeira, diga-se. Álvaro Santos Pereira é o “coveiro-mor” da economia portuguesa, e é o rosto de uma governação mais do que falhada: desgraçada, diga-se.
Notas

Controlinveste vende “media” a grupo angolano: Uma nota muito breve acerca deste tema. Dizer que a comunicação social em Portugal é um bom espelho que reflecte uma imagem de pobreza (“Poortugal”) ao exterior, mas que também refectirá uma pálida imagem de democracia aos seus concidadãos mais esclarecidos. Depois verão porque digo isto.

Obama vs Romney: Continua a disputa eleitoral norte-americana. Barack Obama venceu o segundo debate presidencial, aparecendo mais enérgico e com mais estudo efectuado acerca dos dossiers dos temas abordados no debate. Obama também se sente mais à vontade com debates onde os actores (“players”) não estejam estáticos no seu palanque, ou na sua tribuna. Romney, aparentemente, arrancou mais aplausos do que Obama no jantar de gala, que reúne os candidatos à Casa Branca, em Washington D.C., para um pequeno espectáculo de “Stand-Up Comedy”. Terá mais jeito para aquela profissão cujo objactivo é fazer as pessoas rirem muito: a de palhaço.

União bancária europeia: Só teremos união bancária na UE lá para 2014, na melhor das hipóteses. Na reunião da semana passada, dez horas que juntaram os líderes dos 27 foram suficientes para clarificar que essa união só avança com as condições alemãs bem estipuladas. Primeiro deverá surgir uma figura responsável pela supervisão de todos os bancos operantes na zona da UE, depois alteração de alguma legislação relativa ao assunto, para depois se atingir a meta da união bancária. Claro que este assunto já estaria arrumado se, por ventura, ainda não existissem tensas reuniões à volta do quadro orçamental para 2014-2020. O Reino Unido cada vez mais isolado, a zona euro cada vez mais segura de si mas dividida em três (Alemanha e nórdicos de um lado, França apoiando Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, e os restantes países que não sabem para que lado se hão-de virar).

Panamá quer aderir ao Euro: Se dúvidas haviam quanto ao futuro do Euro, elas acabam de se dissipar. Quando o Panamá pretende aderir ao Euro, é porque o Euro será divisa de eleição para pagar transacções no canal do Panamá. E isto colocará o Dólar sobre pressão, pois deixa de ter a importância enorme que existia até a este momento.

Autárquicas 2013: Estas eleições já mexem! Ora teremos o anterior secretário de estado da Saúde, Manuel Pizarro, a ombrear com o social democrata Luís Filipe Menezes (actual presidente da Câmara de Gaia) na luta da Câmara Municipal do Porto; teremos em Sintra o socialista Basílio Horta a disputar a eleição com Marco Almeida do PSD, o número dois de Fernando Seara em Sintra. E em Lisboa, será que teremos Fernando Seara a desafiar o presidente António Costa? É o mais certo, diz-se em certos sítios. Será que o PCP irá aceitar a proposta de António Costa para uma ampla coligação de esquerda em Lisboa? Seria bom que sim, a bem da cidade!
Reflexão da semana

Estando o OE para 2013 quase arrumado, no que toca à sua aprovação na Assembleia da República, é importante deixar claro uma coisa: se este governo não cair até Março do ano que vem, Portugal estará “de rastos”, pois os impostos que Vítor Gaspar prevê arrecadar serão bem menores, sobretudo devido ao aumento do desemprego que se fará registar. E, com isso, todos os portugueses “normais” (aqueles que não ganham mais de 3 mil euros por mês) terão a certeza de que foram enganados pelo governo de Passos Coelho. Enganados mais uma vez.


Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana