Roubaram-lhe a identidade

Podia ter acontecido consigo. Acha que é só com os outros, mas pode estar a acontecer consigo neste momento.  Podem estar a fazer créditos online, podem estar comprar os objetos mais inúteis com dinheiro que não existe mas que já tem o seu nome gravado. Neste momento o seu nome já pode estar sujo no Banco de Portugal, neste momento o seu banco pode ter perdido a confiança em si, assim como o seu chefe e os seus colegas de trabalho. Não, não vi isto no filme de domingo à tarde, vi isto a acontecer perto demais dos meus olhos.

Percebi que estas coisas acontecem, que há quem use  identidades falsas, quem consiga destruir a vida de alguém, e viver assim sem insónias, nem peso na consciência. Não foi a perda de uma carteira, não foi um cartão clonado na internet, foi uma «amiga», ninguém estava à espera, mas aconteceu.

Descobrir que isto está acontecer connosco é uma sorte quando está no início, quando ainda há alguma coisa a fazer. Descobre-se por acaso, porque se quer comprar um carro e o banco avisa que não é possível, é um murro no estômago. deixa-se de existir, porque há outra pessoa a viver por nós.

Os processos judicias começam, as cartas em casa com contas de mais de três dígitos, as penhoras, a vergonha e o medo de atender um número desconhecido.Vive-se em função disso, ou antes, não se vive.

Os próximos anos vão ser de luta, medos diários, de defesas em tribunal, de muitos 200 euros perdidos em burocracias, de acusações e de batalhas ganhas. No fim, vai acabar tudo bem, mas até lá vai ter que deixar de existir!

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!