Ser pandémico numa pandemia

Vindo d’uma longínqua terra do oriente,

A cavalo de um morcego moribundo,

Surgiu um vírus silencioso e imponente,

Determinado a percorrer todo o mundo.

 

 

Atravessando destemido as fronteiras,

Mostrando-se mortífero e muito ardiloso,

Nunca se importou com cores de bandeiras,

Infectando pessoas e sendo muito cauteloso.

 

 

Enquanto pátrias entravam em confinamento,

Por terras lusas de Ronaldo, Eusébio e Amália,

Raiou uma senhora de óculos e embaciamento,

Afiançando que os tugas não usariam algália.

 

 

Graça Freitas, o seu nome num gemido,

Tentou afastar a terrível “bicheza” do país,

Ao lado de excelentíssima Marta Temido,

Supôs que o vírus não viria por um triz.

 

 

Enganada pelo desmesurado optimismo,

O vírus chegou e atacou forte,

Graça Freitas engoliu o seu brilhantismo,

P´ró governo sacudiu a água do capote.

 

 

Português e com traços de Indiano,

António Costa teve de conter a mágoa,

Tentou transformar milagre em plano,

E colocou o povo a pão e água.

 

 

Fechado em casa abandonado à sua sorte,

O Zé Povinho desesperou à janela,

Mas acelerado passou o desnorte,

O verão veio e cozeu o “bicho” na panela.

 

 

Usar ou não usar a asfixiante máscara,

Eis a questão mais emaranhada,

Costa informou até para a petizada,

Que a mascarilha servia até p’rá caminhada.

 

 

Logo surgiriam os negacionistas,

Insurgindo-se contra o governo,

Quiseram ser astutos reacionistas,

A Temido pediu-lhes mais trambelho.

 

 

O “bicho” atacou vigoroso antes do Natal,

Mas o povo tuga não se importou,

Festejou sem saber que era fatal,

Pois naquela altura o bicho despertou.

 

 

No final do ano a vacina chegou,

O povo estava mais tranquilo,

Com as 12 badaladas embalou,

Pois aguardara todo o ano aquilo.

 

 

Novo ano e novo vírus surgiu,

Vindo de terras de Sua Majestade,

Uma nova estirpe emergiu,

Trazendo tudo menos benignidade.

 

 

Dispararam casos e óbitos tais,

Que guiam a novo confinamento,

Tiveram na sua origem tantos Natais,

Agrupados por avós, filhos e pais.

 

 

Toda a gente quer a famígera pica,

Não dignificando quem construiu a nação,

Até com a desgraça que por cá habita,

Governa a tão portuguesada corrupção.

 

 

Pois vivendo numa pesarosa pandemia,

Que desponte alguém para nos salvar,

Com tanta aflição a arruinar a economia,

Até os reles esboços de humanidade vão ao ar.

 

FIM