Eu já perdi a piada, já não corro pelo jardim, já não uso laços na cabeça, já não arrasto a fralda pela casa e já ninguém me bate palmas por fazer xixi no pote. Já não faço birras, já não deixo que me apertem as bochechas, e o pior de tudo, já não como Cerelac. Cresci, mas ela diz que não.
Já lhe mostrei o B.I e a carta de condução, mas ela continua a apertar-me as bochechas. Continua a dar-me colo, encher-me de esperança, a abraçar-me e a esbugalhar-me os olhos sempre que chego depois da meia-noite a casa. Continua a deitar-se ao meu lado nas noites em que fico sem dormir e, sem eu perceber, segura-me sempre quando estou quase a cair. E quando tropeço, ela é a primeira a dar-me a mão.
Partilhamos segredos, medos e gargalhadas, choramos juntas e acabamos sempre com um sorriso nos olhos. Ficamos juntas quando a distância nos separa, ela deixa-me fazer as malas, mas não me deixa sem saldo no telemóvel. Deixa-me viver, ou antes, quer que eu viva, mas não quer que eu viva sem ela. Nem eu quero que ela viva sem mim.
Eu continuo a querer que ela me aperte as bochechas, que faça birras quando ando com o relógio atrasado; quero o colo, os conselhos, e quero poder voltar à beira dela sempre que eu quiser. E quero Cerelac. Não quero independência dela. Da minha mãe quero dependência.
Eu sei que houve alguém que decidiu que o Dia da Mãe era no primeiro domingo de Maio, mas eu tenho o relógio atrasado …ah, afinal está certo!
Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!
Mais crónicas
A solidão
Será assim tão mau ser-se solitário?
O sonho comanda o Universo