Total Frustração – Rafael Coelho

Assumindo inteiramente o benfiquismo, venho hoje falar um pouco acerca das promessas não concretizadas com que o Benfica desta época fez toda a nação benfiquista e muitos outros portugueses voltassem a sonhar com mais títulos interna e externamente. Após uma inesquecível temporada, numa semana desmoronou-se todo um castelo que ao longo de meses se foi construindo, vitória após vitória, exibição após exibição, espetáculo após espetáculo.

Para gáudio dos adversários mais ferrenhos e para tristeza dos simpatizantes benfiquistas, a um ano inteiro de vitórias, o Benfica terminou a época com um fatídico empate e três violentas derrotas.

Pergunta-se de uma forma muito honesta, o que terá faltado a este Benfica para ganhar alguma coisa esta época? Cansaço? Falta de estofo? Falta de estrutura? Falta de sorte? Falta de engenho? Falta de artistas? Falta de Inteligência?

Bem esmiuçando um pouco – sem cansar nem ser exaustivo – em relação ao cansaço, julgo que o mesmo não pode ser desculpa para os fracassos. Os jogadores são profissionais muito bem pagos, que representam um dos maiores clubes mundiais e têm um emblema, uma tradição, um nome e o reconhecimento de mais de 10 milhões de portugueses espalhados pelo mundo, que são simpatizantes ou que seguem o Benfica. Falta de estofo? Talvez. Apesar de um plantel com inúmeras soluções ao dispor de JJ, com um banco de luxo, capaz de fazer uma gestão eficaz dos recursos humanos, talvez nem sempre essa gestão tenha sido feita da melhor forma. Falta de estrutura? Penso que não. A estrutura do Benfica é forte e organizada. Eventualmente a camisola possa ser demasiado pesada para alguns jogadores e por isso não a conseguem sustentar com a dignidade e orgulho necessários. Falta de sorte? Talvez. Mas a sorte também se procura. Durante a época foi evidente em muitos jogos o rápido conformismo da equipa quando se via em vantagem escassa e muitas das vezes apanhou alguns sustos… muitos foram os jogos em que o Benfica sofreu pelo menos 1 golo, devido a esse baixar de alerta ou de excesso de confiança. Falta de engenho? Penso que não. A esmagadora maioria dos artistas da equipa são excelentes executantes e cumpridores táticos da estratégia montada para casa jogo. Falta de artistas, como já vimos, também não é.

Analisaria agora a falta de inteligência mais aprofundadamente, porque julgo residir aqui a maior diferença entre o Benfica e os rivais para os quais perdeu os títulos desta época. Analisando as diferenças entre Benfica e Porto, por exemplo, verificamos que o Porto, praticando um futebol que não “enche o olho“, é uma equipa que, nas derradeiras decisões, se suplanta e aparece com motivação renovada e espírito vencedor. É uma equipa pragmática, para a qual não interessa o meio, mas o fim, para atingir os seus objetivos. Em dois anos consecutivos, o Benfica teve o campeonato na mão e ofereceu-o ao rival Porto nas últimas jornadas.

Este ano, sem ser assumidamente o seu principal objetivo, conseguiu chegar à final da Liga Europa, que brilhantemente disputou, chegou a humilhar o Chelsea em futebol praticado, mas mais uma vez dois pequenos-grandes erros ofereceram a vitória ao adversário. O mesmo aconteceu na Taça de Portugal contra o vitorioso e afortunado Guimarães.

Até era bonito, se chegássemos ao final da temporada com quatro vencedores diferentes para quatro títulos diferentes… houve certa altura, em que até foi isso que desejei: Taça da Liga para o Braga, Taça de Portugal para o Guimarães, Campeonato para o Porto e Liga Europa para o Benfica. Todas as contas me saíram furadas para o lado do Benfica.

Então, o que resta? Se o Benfica tem tudo: excelentes jogadores, ótima equipa, fenomenal, experiente treinador, inigualável estrutura? Qual a contratação que falta para que o Benfica se supere e, assim, consiga superar os seus adversários? Já repararam que o Porto há mais de vinte anos (para trinta) que domina a cena do futebol português? Quaisquer se sejam as alterações na equipa de ano para ano? Qualquer que seja o treinador, todo aquele que para lá vai arrisca-se a ser campeão, mesmo que seja um iniciado e algo inexperiente (como Vilas Boas e Vítor Pereira, por exemplo)? Então, nestes 20 a 30 anos o que se tem mantido no Porto, que o torna quase imbatível internamente e com grande prestígio e vitórias internacionais nestas décadas? Claro, o Presidente! Será que um dia quando este Presidente se for embora, o Porto irá continuar nesta senda se sucesso? O discurso do Benfica neste momento é o de afirmar que aos poucos se tem ido aproximando do seu rival e que o caminho é este… então porque não chega mais cedo algum título mais interessante do que apenas Taças da Liga? Será que este Presidente do Benfica, sendo o melhor homem ao nível financeiro e que estabilizou o clube e a SAD e o puxou de dentro do poço para onde se estava a afogar, será o mesmo o Presidente ideal para o Benfica campeão de outro tempos?

Se calhar, o Benfica deveria ter uma presidência bicéfala (ao exemplo do Bloco de Esquerda), na qual um era o presidente do dinheiro e o outro um presidente desportivo… É essa característica essencial que tem o Presidente do Porto!

Aqui fica a sugestão para as próximas épocas: contratar um Pinto da Costa para o Benfica, assim, talvez a nação Benfiquista volte a ter mais alegrias, e não apenas bons jogos e boas exibições. Se eternamente segundo já aborrece…

 

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro