Trafulha sem cunha – Francisco Capelo

Não sei.

Porque deixamos as peles nos tremoços.
Porque deixamos de ser moços.
Porque do nada se faz muito.
E depois, o universo vai vazio.

Deixou de ter calma, deixou de ter alma.
Pagamos demasiados impostos. E pagamo-los a impostores, não a cobradores banais.
Temos, na rua, na cidade, demasiados rostos normais.
De qualquer vida, de qualquer mãe, de qualquer idade!

Veja-se bem:

Quem foi Pessoa?

Foi apenas um pouco de gente?

Fardado de algo, para não ser considerado demente?

Para quê usar da palavra?

Para quê jurar toda e qualquer solenidade?

Se, para ser gente, precisamos de alguma pouca liberdade?

Eu sei que sou por vezes confuso.

Confundo uma barata com um parafuso.

Uma gravata com uma mesa, onde se deita um ouriço caixeiro.

Sem dinheiro.

 

Uma bicicleta, presa numa gaveta.
De onde sai, sem cheta, um avião trombudo.
Ou um alifante macambúzio.

Ahh… precisava de arranjar uma roupa, de qualquer lavra, de qualquer valor.

Para ser esse alguém a quem chamam pessoa, sem a gente atrelada, sem qualquer dor.

Isso sim, seria EU !

Caro leitor, veja bem:

Só assim seria alguém.

Alguém a quem um Zé ninguém desse um vintém, mas tolo sem.

Pareço distante?

Farsante, errante?

Poeta maldito?

Raçudo, sem guito?

 

Deus é minha testemunha:

Entrei no Inferno sem cunha.

 

FranciscoCapeloLogoCrónica de Francisco Capelo
O Suspeito do Costume
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