Ora cá estamos para mais uma crónica “Graças a Dois”, cheia de pinta e humor – pelo menos está catalogada como tal, o que facilita um pouco o trabalho aos seus autores.
Ser cronista exige, naturalmente, um poder de observação acima da média. A minha mãe chama-lhe “cusquice”, mas eu prefiro chamar-lhe “poder de observação acima da média”. Sempre fica mais catita e com uma entoação menos ofensiva. Mas, ao mesmo tempo que absorvemos tudo o que se passa ao nosso redor com o intuito de a nossa criatividade criar um tema para ser dissertado na próxima crónica semanal, corremos igualmente o risco de apanhar uma bela de uma dose de nervos – mesmo que a situação não esteja directamente relacionada connosco. “E porquê?” – perguntará o caro leitor, com um enorme ponto de interrogação a pairar sobre a cabeça. E eu respondo, só para que o leitor não pense que não dou a devida atenção aos meus leitores: “Tenha mas é cuidado com esse enorme ponto de interrogação que paira por cima da sua cabeça, porque se ele cai de repente, é coisa para abrir-lhe um enorme lenho na testa. E se há coisa que eu menos desejo, é provocar lenhos sangrentos nas testas dos meus cerca de 2 leitores – porque tenho aversão ao sangue, e ainda acabo por desmaiar.” Certamente não será a resposta esperada, mas neste momento sinto-me privado de capacidade de elaborar respostas mais objectivas, porque estou a sofrer de cólicas terríveis, o que me retira toda qualquer capacidade de raciocínio lógico.
Quando o Universo pensa que já viu todo o tipo de aberrações (como por exemplo: Miley Cyrus, Justin Bieber, Cher, José Castelo Branco, Lily Caneças ou mesmo a representante de Portugal no próximo Festival da Eurovisão, a Susy!) eis que surge algo mais. Falo das bestas que, ao deslocarem-se a um posto de combustível para encherem o depósito do carro, optam por deixar o carro estacionado em frente às mangueiras – mesmo após terem atestado o raça do carro – e ir para a zona de restauração beber um cafezinho ou mesmo tomar o seu pequeno-almoço. Enquanto ali estão, sossegados, a comerem um belo pastel de nata e a beberem o raio do café, lá fora começa a formar-se uma enorme fila de carros, com os respectivos condutores à espera que o raça do carro que se encontra em frente às mangueiras desimpeça o lugar.
Como se isto não fosse bizarro o suficiente, essas bestas quadradas ainda acham que são os donos da razão quando alguém os interpela, para que retirem o carro daquela zona, visto que já abasteceu. Eu assisti a um diálogo surreal entre um funcionário de um posto de combustível e uma besta que estava a tomar o pequeno-almoço, enquanto a sua viatura era alvo de violência sonora por parte de outros condutores que desesperavam por atestar o carro. Diálogo esse que não resisto em partilhar aqui.
Funcionário (num tom cordial): Bom dia, senhor.
Besta (mastigando de boca cheia): Hum… Bom… Hum… Dia…
Funcionário (mostrando-se calmo): Olhe, não se importa de ir num instantinho retirar o seu carro em frente às mangueiras de abastecimento…?
Besta (surpreendido): Como disse? Fazer o quê?
Funcionário (repetindo): Se não se importa de ir num instantinho retirar o seu carro em frente às mangueiras de abastecimento…?
Besta (fazendo-se desentendido): Desculpe? Fazer o quê? Mas, como assim?
Funcionário (começando a perder a paciência): É que estão pessoas à espera para abastecer os seus carros, e você está a ocupar o local… O que não é nada correcto…
Besta (mostrando-se aborrecido): O que não é nada correcto, é o facto de o senhor decidir usar o seu tempo, possivelmente precioso, para vir aqui importunar-me desta forma!
Funcionário (visivelmente agastado): Ó homem, você já abasteceu o carro, por favor, se não se importa, vá retirar o carro!
Besta (fazendo birra): Era o que mais faltava! Não vou! Eu sou um cliente que, caso não tenha reparado, está a usufruir do vosso estabelecimento neste preciso momento. E acho uma tremenda falta de respeito o que o senhor está a fazer!
Funcionário (visivelmente irritado): Eh pá! Vá tirar já o carro, ou senão…
Besta (armado em chico-esperto): …senão o quê? Bate-me, é? Já lhe disse que não tiro, e está para nascer a pessoa que me irá obrigar a retirar dali o meu carro!
Funcionário (arregaçando as mangas): Não está para nascer, não! Já nasceu!
Besta (observando o funcionário a crescer na sua direcção): Olhe, escusa de estar a empoleirar-se todo, que não me mete medo, está a ouvir?! Eu vou tirar o carro sim senhor, mas é porque eu quero e porque já terminei de tomar o pequeno-almoço! Não pense que é por causa de estar a ameaçar-me, porque eu não tenho medo de sim, hem!
Funcionário (descarregando os nervos): Que enorme besta que você me saiu!
Besta (gozando com a situação): Não, o meu caro amigo está equivocado. Eu chamo-me Ernesto, e não Besta. Passe bem…
E nisto, abandona o posto de combustível debaixo de intensas e dolorosas buzinadelas por parte dos condutores que esperavam, visivelmente impacientes, na enorme fila que já se tinha formado.
A minha vontade ao assistir a todo este absurdo diálogo, era de ir ao carro, pegar no taco de basebol que lá tenho e que está estipulado exclusivamente para situações deste calibre e não para bater em bolas, e aplicar-lhe umas 50 pancadas na real tromba. Mas depois pensei melhor e decidi ir embora, porque já tinha bebido o meu cafezinho, e porque tinha uma enorme fila a formar-se atrás do meu carro…
Até para a semana, malta catita…
Crónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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