As «velhotas» do prédio

Ficam acordadas até às duas da manhã, fazem jantares com as amigas à sexta-feira noite, têm um cão que na outra vida foi um espanador, e estão sempre indecisas quanto à localização dos móveis da sala. São elas, as velhotas do 7ºD.

Lisboa, sexta à noite, 23 anos, eu nem devia de estar em casa às onze da noite, mas estava, e já estava de pijama; mas elas não, elas ainda iam na sobremesa, as velhotas. Para ser sincera, nunca pensei que fossem elas as causadoras de uma «pré-noite» de sono tão atribulada. Culpava os da minha idade, e esperava que mais minuto menos minutos, eles acabariam por fechar a porta do perto, e abrir a porta do Bairro, mas não, isso não aconteceu … pelo menos até às duas da manhã.

Era o «cuchicho», os saltos altos de um lado para o outro, as cadeiras que não se decidem onde querem ficar, e eu com uma vontade de dormir de levar as mãos à cabeça. Comecei por pôr os phones nos ouvidos, depois mais dez voltas na cama, mas um «Já são estas horas?!», mas um liga e desliga a TV, e quando já não dava mais … fui bater à porta das vizinhas.  Pensava eu que não eram elas, pensava eu que elas já estavam a dormir, se eu queria estar elas deviam já deviam de estar no quarto sono, pensei eu, pensei mal.

Bati à porta, de pijama, chinelos de quarto, despenteada, com olhos entreabertos e tive que gritar que era a vizinha debaixo, e que queria dormir. Afinal eram elas, afinal eu é que sou a velhota do prédio, eu é que quero dormir, eu é que reclamo com o barulho, eu é que fico em casa à sexta-feira à noite.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!