No dia 10 de Outubro de 2020 será o Dia mundial da Saúde Mental, nesse dia a Organização Mundial da Saúde irá realizar um evento virtual onde lideres mundiais, celebridades e pessoas qualificadas na área irão debater o estado da saúde mental com o propósito de obter financiamento para esta especifica área, que tem sido agravada devido à pandemia.
Um recente inquérito da OMS concluiu que em 93% dos países do mundo foram suspensos os serviços mentais, devido à pandemia. Não deixa de ser irónico o número percentual que estes mesmos estados gastavam em saúde mental antes da pandemia: 2%.
Num ano atípico e tão caótico já seria de prever que houvesse uma procura exponencial destes serviços: a perda de familiares e amigos, o desemprego, o fraco rendimento familiar, o medo da doença, a paranóia do vírus, as preocupações pelo indivíduo e pelo mundo em geral, o isolamento obrigatório, o confinamento, a negra actualidade que chega até nós através de noticias tendenciosas e pouco fidedignas com o objectivo de chocar e impressionar – todos os dias somos confrontados com os números dos infectados, dos mortos, dos que estão entre a vida e a morte, dos que se safaram desta, números parciais, integrais, por distrito, por área, por país – primeira vaga, segunda vaga, terceira vaga, 2020, 2021, 2022, foram estabelecidas regras e o cidadão tenta cumprir à risca, uso da máscara, desinfectante, álcool só até as 20 horas, estabelecimentos que abrem mais tarde e encerram mais cedo, ajuntamentos não superior a seis pessoas, mesas só com quatro, escolas que parecem autênticos quartéis, crianças a adaptarem-se a uma realidade que não pediram e pais no desespero para sentirem alguma normalidade.
Estima-se que que a pandemia tenha agravado os problemas relacionados com o consumo do álcool, estupefacientes e outra substâncias, pessoas a sofrer de ansiedade, depressão, problemas psiquiátricos e até neurológicos. A prevenção, tratamento e resposta efectiva a estes problemas graves foram seriamente afectados, prevendo que num futuro próximo estaremos com um problema à escala mundial bem mais crítico que o vírus covid-19 e esse problema não será resolvido com uma simples lavagem de mãos.
Em Portugal a taxa de perturbações mentais é elevada, somos o país europeu com maior consumo de tranquilizantes, ansiolíticos e antidepressivos e receio que este ano e nos próximos continuemos no topo da lista. Estes números dizem muito da forma como vivemos, usando um termo que me ocorreu há alguns meses atrás: vivemos numa espécie de carcoma mental, o indivíduo consome lentamente os maus pensamentos, a autocomiseração, as memórias que o assolam, as más acções que pratica e não consegue esquecer, os problemas que não se dissolvem e não permite um total relaxamento do cérebro, este está em processo contínuo desde que o indivíduo acorda e até mesmo durante o sono, este descontrolo e sobrecarga mental negativa provoca problemas emocionais, mentais, físicos e hormonais.
Os números também demonstram a incapacidade que os nossos governantes têm em lidar com este problema. Primeiro, a saúde mental é interpretada como algo sem grande importância, ter apoio psicológico ou frequentar um psiquiatra ainda é visto com algum desprezo e crítica, as terapias medicinais e não convencionais são vistas com grande cepticismo, ” depressão é para quem tem tempo para isso “ quem já ouviu esta frase de alguém próximo? Quando o indivíduo assume que precisa de ajuda ( já o caminho na jornada depressiva vai longa ) a menos que tenha a sorte de encontrar um profissional de saúde altruísta e com tempo não contado para ouvir o paciente, a resposta vai ser perecível: 2 caixas de comprimidos, um ao acordar, outro ao deitar, faça exercício e tenha uma boa alimentação…Segundo, o orçamento disponível para a saúde mental comprova a importância que lhe é dada, apenas um psicólogo e um assistente social por agrupamento escolar, uma psicóloga no centros de saúde para mais de 300 doentes, acesso a consultas dificultado para crianças e adolescentes, consultas privadas incompatíveis com o bolso da maioria dos portugueses, não obstante, o estado gasta milhões nas comparticipações de medicamentos para combater a ansiedade e a depressão, muitas vezes reincidente, não seria melhor o Estado apostar na prevenção?
Estamos em 2020, a combater um vírus há dez meses, o combate é mundial, a doença é imparcial, o futuro é incerto desde sempre, hoje mais do que nunca, julgo que será imprescindível que os governadores das nações olhem para o individuo como pessoa e não como parte de uma estatística, de uma percentagem, 0 ser humano merece ser mais que um número. A sabedoria do povo diz : “Depois da tempestade, vem a bonança”, pois não creio que a sabedoria do povo nos salvará desta vez.
” Aonde devemos ir…nós que peregrinamos por este deserto à procura do melhor de nós? “
O primeiro Homem da História
Mais crónicas
O segredo do Amor é viver num T1
A Morte
Ai, que fome!