Agosto já lá vai e, infelizmente, levou com ele o Verão puro e duro (sendo que, para nossa sorte, ele é teimoso e ainda por cá anda!). Com a chegada de Setembro volta o trabalho (pelo menos para quem já teve férias), regressa a escola (para os pequenotes e para os universitários) e o Ideias e Opiniões reforça ainda mais a sua aposta nas entrevistas! O compromisso é para manter e, prova disso, é o conteúdo exclusivo que lhe trago hoje!
E depois de terem passado por aqui uma jogadora da Selecção Nacional de Andebol, uma DJ, um ávido jogador de Pokemon Go e o primeiro humorista negro em Portugal é tempo de regressarmos aos grandes nomes da música nacional. Graças à simpatia e profissionalismo da enorme Raquel Laíns e da sua Let’s Start a Fire, uma grande amiga e parceira do Ideias e Opiniões, e à disponibilidade dos próprios Capitão Fausto foi possível concretizar esta entrevista e trazê-la agora até vós!
Eles são, sem sombra de dúvida, um dos nomes maiores da música portuguesa actualmente. Têm uma sonoridade em constante evolução, uma base de fãs de meter inveja a projectos bem mais maduros que eles e um novo álbum que deu que falar pela superior qualidade e pelo curioso título. Foi para mim uma honra entrevistar uma das bandas mais promissoras do actual panorama musical português!
Leiam, desfrutem e, acima de tudo, oiçam os Capitão Fausto e os restantes projectos talentosos que por aí andam!
Qual era a vossa relação com a música durante a infância e a adolescência? Que referências musicais tinham nessa altura?
Os nossos pais sempre nos mostraram muita música. Ouvíamos o que eles gostavam mais e que, por coincidência, acaba por ser o que nos preenche muito hoje em dia. Durante a adolescência dispersámos um bocado. Devíamos estar à procura do que nos dava mais gozo.
Desde sempre que queriam ser músicos ou o pequeno Tomás, o pequeno Manuel, o pequeno Domingos, o pequeno Francisco e o pequeno Salvador tinham outros sonhos e ambições?
Queríamos ser muita coisa ao mesmo tempo, entre elas ser músico, sim! Agora apenas queremos ser aquilo que somos: músicos.
Quais foram os vossos percursos até formarem os Capitão Fausto? Tiveram outras bandas antes?
Tivemos sim! Conhecemo-nos no liceu, e na altura tínhamos bandas diferentes. Passado pouco tempo juntámos-nos os cinco para fazer uma nova banda. E assim nasceram os Capitão Fausto.

Uma das perguntas mais frequentes é a origem do nome da banda e vocês certamente que não são excepção. O que já não é normal é uma banda admitir que deu muitas explicações diferentes e que todas elas eram meras brincadeiras (dado não haver uma razão concreta para o nome “Capitão Fausto”). Como é que começou essa brincadeira com a imprensa?
A brincadeira começou porque achamos que é uma pergunta pouco relevante! Pelo menos para nós. Achámos que tinha mais graça para todos inventar histórias com piada, porque a verdadeira não tem nenhuma. (Risos)
Quanto tempo separou a formação da banda do lançamento do primeiro álbum dos Capitão Fausto?
E do que tratava a vossa “Gazela” (2011)?
Cerca de dois anos. Não tratava de nada em específico para ser sincero, é apenas um conjunto de canções. Cada uma delas trata de assuntos diferentes.
Esperavam que o vosso álbum de estreia tivesse um impacto tão grande? É que bastaram alguns meses para os Capitão Fausto passarem de desconhecidos a novo fenómeno da música nacional!
Acho que ainda não somos, nem fomos, um fenómeno…Mas sim, teve um impacto bastante maior do que esperávamos!
Entretanto passaram três anos, chega o ano de 2014 e com ele o segundo disco dos Capitão Fausto, “Pesar o Sol”. Depois de um primeiro disco extremamente consistente, e que foi um fenómeno de dimensões muito consideráveis para um disco de estreia em Portugal, tiveram receio de não estar à altura das expectativas que a crítica, e os fãs, tinham criado?
Não, o único receio que tínhamos era de fazer um disco que não gostássemos. Felizmente os 5 gostámos mesmo muito do resultado final!
“Pesar o Sol” teve a particularidade de ter sido composto em Paredes de Coura, gravado na Adega da Quinta de Santo Amaro (nos arredores de Cantanhede) e masterizado por Greg Calbi (que trabalhou com MGMT, Tame Impala ou Kurt Vile, por exemplo). Sentiram que o local onde compuseram e gravaram este disco acabou por influenciar o resultado final?
Sim, o local influenciou estas canções em todos os aspectos! Estávamos isolados de tudo e todos, e muitas das coisas que nos aconteceram nessas semanas são retratadas nas canções.
E como o tempo passa a correr (ou a voar, se estivermos a ouvir os Capitão Fausto) rapidamente chegamos ao presente. Que histórias estão por detrás deste “Capitão Fausto Têm os Dias Contados”?
Histórias do nosso dia-a-dia. O Tomás é que escreve as letras das canções e para além dos assuntos pessoais dele fala também sobre a nossa vida enquanto amigos e o facto de tentarmos ser músicos e ligeiramente mais adultos do que antes.
Em “Os Dias Contados” dizem “Eu vou morrer/ Mas antes vou-me aproveitar bem/ Se não crescer eu vou morrer/ Por baixo das saias da mãe/ Onde eu estou tão bem”. É justo afirmar que enquanto o “Gazela” e o “Pesar o Sol” refletem mais a adolescência, e a transição para a vida adulta, este “Capitão Fausto Têm os Dias Contados” é um choque frontal com uma nova fase e com os desafios da vida adulta?
É sim porque é exactamente por isso que estamos todos a passar agora (Risos)

Este disco veio dar continuidade aos dois trabalhos anteriores mas trouxe novas sonoridades e uma identidade musical ligeiramente diferente. Já foram alvo das críticas cliché: “Os Capitão Fausto já não são o que eram”; “O primeiro disco é que foi bom, depois tornaram-se mainstream” ou ainda o clássico “Eu até gostava dos Capitão Fausto mas depois venderam-se, tornaram-se demasiado comerciais”?
Já ouvimos um pouco de tudo (Risos). Os nossos discos são todos muito distintos uns dos outros e provavelmente vai continuar a ser assim. Esses clichés não nos incomodam nada.
Durante o último ano foram acompanhados pelo Ricardo Oliveira e agora tudo o que foi por ele registado está prestes a chegar até nós em formato documentário. Como surgiu a ideia de fazer um documentário baseado neste disco?
Na verdade foi por mero acaso. O Ricardo é um grande amigo nosso e um dia, em conversas, falámos sobre ele vir filmar uns ensaios para as novas músicas. Acabou por filmar um ano inteiro que resultou num filme, é tudo menos um documentário normal. É a visão pessoal dele sobre o que é compor, fazer música e arte no geral. Vejam que é bem bonito!
Visualmente falando os Capitão Fausto têm uma identidade muito vincada e interessante. Falem-nos um pouco sobre a componente visual dos vossos álbuns e videoclips.
Mudamos muito, tal como nas canções que fazemos. Com cada disco a arte e os vídeos que o acompanham são sempre muito diferentes do anterior. No fundo só queremos fazer mais, melhor e diferente do que fizemos previamente.
Embora fizessem parte de uma das bandas mais promissoras a nível nacional mantiveram sempre a aposta nos estudos e hoje já concluíram as vossas licenciaturas. Porque tomaram esta decisão? Foi difícil resistir ao impulso de deixar tudo para trás e apostar apenas na música?
Não muito, porque gostamos todos das áreas de estudo que escolhemos. São coisas pelas quais nos interessamos. A dificuldade foi em tentar fazer tudo ao mesmo tempo! (Risos)
Porque decidiram criar o “selo” Cuca Monga? E de onde surgiu o nome?
Digamos que foi uma desculpa para termos um gangue e darmos um nome a tudo que fazemos juntos.
Para além dos Capitão Fausto têm alguns projectos paralelos (todos eles pertencentes à Cuca Monga, segundo julgo saber). Que projectos são esses, quem faz parte deles, e porque decidiram criá-los?
Os nossos projectos paralelos são os seguintes: BISPO (onde toca o Domingos, o Francisco e o Manuel); El Salvador (onde o Salvador faz canções e pede ao Francisco, ao Manuel e ao Diogo Rodrigues para as tocar) e os Modernos (onde toca o Manuel, o Salvador e o Tomás). Decidimos fazer estas bandas porque gostamos muito de música e de tocar todos juntos. Não há melhor razão do que esta!
Quando terminam um disco começam logo a pensar no próximo ou precisam de um período sabático antes de se atirarem de cabeça a um novo desafio? Ou seja, o que o Ideias e Opiniões quer realmente saber é: já têm algumas novas músicas escritas/compostas?
Para já ainda não temos nenhum material novo, é um facto, mas gostamos de começar o mais cedo possível!
Já encheram as maiores salas nacionais, já passaram por alguns dos maiores e melhores festivais de verão portugueses, são amplamente elogiados pela esmagadora maioria da crítica e construíram uma base de fãs extraordinariamente sólida (e que está em constante crescimento). O que vos falta atingir? Que desafios e sonhos permanecem passadas tantas conquistas?
O nosso maior desafio/sonho é podermos continuar e fazermos disto a nossa vida. Não há nada que queiramos mais do que isso!
Existe espaço na cena musical internacional para os Capitão Fausto ou o facto de não cantarem em inglês vai sempre tornar difícil a vossa internacionalização?
Não sabemos muito bem….estamos mais preocupados em fazer música de que gostemos do que música que sirva apenas e só para nos internacionalizarmos. Queremos é tocar as nossas músicas, seja em que país for!
Equacionam a possibilidade de colaborar com outros músicos e/ou cantores no futuro? Se pudessem escolher qualquer artista em Portugal quem seria?
Sim, claro! Aliás, já colaborámos com outros artistas. Por exemplo: este ano tocámos canções com o Diego Armés, o Luís Severo, o Jónatas Pires, o José Cid e os Ganso por exemplo. Foram momentos muito bonitos!
Tantos ensaios, concertos e viagens pelo país fora certamente vos permitiram colecionar algumas histórias engraças e bizarras. Recordam-se de algumas que possam partilhar connosco?
Recordamo-nos de muitas, e demasiadas que não convêm ser partilhadas! (Risos) Mas também temos algumas ligeiras e engraçadas: uma vez um homem subiu ao nosso palco e abriu um extintor, foi perigoso e divertido! (Risos)

Imaginemos que um festival de verão lusitano vos convida para serem curadores do seu palco principal numa das noites (e embora existam limitações financeiras a liberdade é bastante considerável). Qual seria o alinhamento do “vosso” palco nessa noite? Aproveitavam, por exemplo, para trazer a Portugal algumas bandas mais alternativas e desconhecidas do grande público?
Talvez, é difícil dizer, mas provavelmente chamaríamos apenas bandas de amigos. Tem tudo mais graça quando se está em família não é?
A vida de músico é feita de contrastes: da solidão que envolve a criação e a escrita de músicas e letras em casa ou no estúdio, à apoteose e loucura que pode ser estar em palco em frente a centenas de pessoas, por exemplo. É-vos fácil gerir os pensamentos, as emoções e as expectativas ou todos estes altos e baixos (e variações de adrenalina) tornam a vossa profissão numa autêntica aventura?
Não, não é nada fácil mesmo! Mas isso só dá ainda mais gozo a esta profissão. Se não tivesse tantos altos e baixos não seria tão entusiasmante.
Imaginem que encontram uma lâmpada mágica e que essa lâmpada vos permite pedir um desejo muito particular e que vos garante que nunca ninguém saberá que a usaram. Com um estalar de dedos o Génio da Música pode fazer com que três músicas (de qualquer cantor/músico do mundo, de qualquer era e de qualquer língua) passem a ser uma criação vossa (com todo o prestígio, reconhecimento, lucros e fama que isso traria, claro). Que músicas escolhiam e porquê?
Nenhuma! Isso não tem piada! Acho que preferiríamos antes pedir um ordenado mínimo para cada um de nós para o resto das nossas vidas. Assim poderíamos fazer músicas sem nos preocuparmos com as contas no final do mês! (Risos)
No Ideias e Opiniões somos curiosos por natureza e gostamos tanto de descobrir jovens projectos quanto de ouvir música por isso impõe-se colocar a seguinte questão: na vossa opinião que jovens bandas, portuguesas ou estrangeiras, é obrigatório que o Ideias e Opiniões oiça assim que terminar esta entrevista?
Aconselhamos que oiçam os nossos amigos Ganso, que estão a acabar de gravar o seu disco de estreia, que será editado pela Cuca Monga. Fiquem atentos!
Que músicas, álbuns ou artistas mais têm ouvido ultimamente?
Esta pergunta terá sempre 5 respostas diferentes, uma para cada um de nós. No entanto eu (Francisco) actualmente tenho ouvido muito Gram Parsons e Badbadnotgood.
Estamos literalmente a meio de 2016 por isso esta é a altura ideal para um balanço musical do ano. Na vossa opinião qual é, até agora, o Melhor Álbum Nacional e o Melhor Álbum Internacional do ano?
Outra pergunta com rasteira. Além de, novamente, haver 5 respostas diferentes não é muito justo considerar apenas um disco como o “melhor do ano”. Eu estou sempre a mudar de disco favorito, por exemplo! Por enquanto o meu favorito deste ano é o “IV” dos Badbadnotgood, mas daqui a uma semana vai ser outro de certeza. Não tomem a minha resposta como definitiva por favor! (Risos)
Onde nos podemos manter actualizados sobre a vossa carreira?
Podem seguir-nos através da nossa página oficial de Facebook, que se encontra aqui: http://facebook.com/capitaofausto
Agradecimentos: Raquel Laíns, Let’s Start a Fire e Capitão Fausto.
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