Casados (até) à ultima vista!

Eu gosto do programa “Casados à Primeira Vista”, assisti à primeira temporada e assisto à segunda temporada. Sim, assisto e gosto! Os leitores que fiquem atónitos com a minha falha no bom gosto na escolha dos programas televisivos, sinto a vossa frustração ao lerem tais palavras, pois imaginavam uma cronista erudita, que assistia aos programas culturais da RTP e informativos do Odisseia…só que não! Independentemente dos programas deste género serem apelidados de lixo televisivo, nós que estamos confortavelmente sentados no sofá a comer pipocas, enquanto rimos e criticamos porque a Maria casou com o Manel, mas a Maria é irritante e o Manel o que queria mesmo  era marchar a Joaquina, temos muito mais a aprender com este programa do que nos parece à primeira vista.

O mote é lançado: um conjunto de pessoas propõem-se a casar com um desconhecido, três especialistas reúnem-se e colocam em prática toda a sua formação encontrando aquele que consideram ser o par ideal, tendo em conta o perfil de ambos. No dia do casamento, o futuro casal conhece-se em pleno altar, enquanto familiares e amigos assistem. Antes do enlace acontecer há espaço televisivo para dar a conhecer os candidatos, assim como detalhes sobre as suas vidas. A reacção dos noivos ao se conhecerem é a ponto alto do programa, na maioria dos casos o primeiro impacto é bastante positivo. Depois de consagrado o matrimónio e respectivo copo de água, os noivos vão em lua de mel, para destinos que eu não me importava nada de ir, nem que fosse com um desconhecido.

Infelizmente a lua de mel resulta em  pequenos atritos que, ao retomarem a rotina do dia a dia se tornam em problemas de comunicação e incompatibilidade de personalidades e, até hoje, julgo que nenhum casal manteve o casamento, ficando só a amizade.

O que é que nós temos a aprender com isso? Perguntam os leitores. ao que eu respondo com uma forte argumentação que deixará o leitor de queixo caído! Afinal, o que é um casamento? Um papel assinado, votos românticos ditos na casa de Deus, um contrato sem finitude ou o verdadeiro amor entre duas pessoas? Nenhuma das hipóteses! É por mantermos a fasquia do casamento tão alta, que somos o país europeu com a taxa mais alta de divórcios ( além dos impostos claro ). As mulheres querem um parceiro que venha a galope de um unicórnio branco, que não beba, nem fume, nem foda, e muito menos que fale muito e expresse opiniões contrárias à sua, para além disso, convém ter uma excelente mãe para não se tornar uma sogra corrosiva e, se possível, uma carinha laroca e um corpinho jeitoso se, por mero acaso, repito, se por mero acaso o noivo preencher todos os requisitos, a noiva vai reclamar com o fio de cabelo ou com a unha do dedo do pé ou com a forma como ele diz Olá, porque as mulheres o que gostam mesmo é de lixar a cabeça a um gajo, está intrínseco em nós. Por sua vez, o homem vai ter como prioridade o aspecto físico obviamente, se a noiva tiver um belo par de mamas a condizer com um formoso rabo, se tiver um rosto bonito, souber falar e souber estar e, cereja no topo do bolo, gostar de sexo, oh meus amigos, o noivo está no paraíso! Sogra, sogro, filhos…a família chata da noiva, as amigas invejosas e os ex companheiros ressabiados são irrelevantes quando casamos com uma gaja que é super boa e gosta de super sexo…se calhar, digo eu que ainda estou na fase de aprendizagem ( ou não estaremos todos ? ) que o ideal seria baixar a fasquia e contemplar a realidade: não há pessoas perfeitas e ainda bem! A perfeição é um aborrecimento e cria um tédio pavoroso numa relação, quem não gosta de fazer as pazes enrolado nos lençóis da cama enquanto se enrolam duas línguas? Discussões, risos, rotina, sexo, filhos, mais sexo, gargalhadas, choradeiras sem fim, ainda mais sexo, problemas com os filhos, problemas com a sogra, problemas com o trabalho, monotonia, dramatismo no seu expoente máximo, sexo mais e ainda melhor, apaixonados, sem paixão, casamento posto em questão, rame-rame diário, pazes feitas, amor…um casamento é feito de tudo isto e nada disto deve ser levado muito a sério!

Sou a favor das tentativas infinitas da descoberta, especialmente em experiências sociais, que acaba por ser o objectivo deste programa. Quem nos garante que o casamento de 30 anos do vizinho é mais feliz do que o casamento da prima Ofélia que casou em Las Vegas com um tipo que conheceu no dia anterior? Quem pode assumir que para uma relação resultar é fundamental conhecer muito bem o companheiro? Que para dar o passo do casamento é necessário uma serie de coisas de ambas as partes? É por conhecer o noivo no dia do casamento que muito dificilmente a relação ganhará frutos? Mas há tantos divórcios de casamentos longos, como se explica então este paradoxo? Muito mais que a idealização de um casamento perfeito que é perfeitamente impossível é a aceitação da realidade matrimonial como algo positivo e que está sempre a nosso favor, afinal, quem garante que o casamento é até à ultima vista? Vai até onde perdurar a nossa felicidade.