Guardiola – O demolidor da Baviera?

Quando terminada a época de 2013-2014, os adeptos de um dos maiores clubes de futebol do mundo, o Bayern de Munique, tinham todos os motivos para festejar e estarem completamente satisfeitos com o seu clube. Afinal de contas fizeram o chamado “triplete” e tornam-se no sétimo clube da história a vencer duas competições internas, a Taça da Alemanha e a Bundesliga, e a competição europeia mais importante de todas, a Liga dos Campeões, tudo na mesma época. Feito conseguido pela mão de Jupp Heynckes, que já se sabia, não iria continuar a treinar a equipa. O senhor que se seguiu foi Pep Guardiola.

O espanhol alcançara o mesmo tipo de feito em 2009, quando comandava o FC Barcelona de Xavi, Iniesta, Messi e companhia, numa equipa verdadeiramente maravilhosa que ganhou tudo o que havia para ganhar e que impunha um estilo de jogo baseado numa grande posse de bola e pressão alta que raramente não surtia efeito fosse qual fosse o adversário. Um estilo de jogo que ficou conhecido como tiki-taka, uma expressão que o próprio Guardiola detestava, mas que acabou por ficar ligada a uma das melhores equipas da história do futebol e que ele próprio criou. Criou mas dificilmente voltará a replicar.

Guardiola

O Barcelona de Pep Guardiola actuava num sistema 4-3-3. A baliza era defendida por V. Valdés, enquanto o quarteto defensivo era composto por Daniel Alves, Puyol, Piqué e Abidal, onde o jogo começava a ser criado com passes pelo chão e sem bolas pontapeadas para a frente e para disputas aéreas. No meio-campo, Sergio Busquets servia de pêndulo da equipa e era acompanhado por Xavi e Iniesta que alimentavam o trio da frente composto por David Villa (preferencialmente mais descaído para a esquerda), Pedro (preferencialmente mais descaído para a direita) e Lionel Messi, todos com grande liberdade para se moverem no ataque e serem os primeiros jogadores a exercer pressão na saída de bola do adversário. Este era o 11 típico de uma equipa que asfixiava o adversário nessa mesma saída de bola e que mantinha a redondinha como nenhuma outra, graças à capacidade técnica e disciplina táctica dos seus jogadores, acabando a maioria dos jogos com uma percentagem de posse de bola esmagadoramente maior do que a dos adversários.

Guardiola

Foi este o estilo de jogo que Guardiola tentou implementar no Bayern, mas sem o mesmo sucesso passadas duas épocas. Razão? Os jogadores e as suas características são diferentes. Se com o Xavi, Iniesta, Busquets, Fabregas, Messi e Pedro era possível guardar por muito tempo a posse de bola e esperar a melhor altura para penetrar na defensiva adversária, com jogadores como Müller, Robben, Ribéry, Schweinsteiger, Lewandowski é preciso ser mais directo e ao mesmo tempo mais físico. Não quero com isto dizer que Robben, Ribéry ou por exemplo, Götze sejam maus tecnicamente, aliás, muito pelo contrário. Simplesmente são jogadores com um ADN diferente, sendo que o holandês e o francês são autênticas “flechas” que gostam de rasgar pelas alas e jogar a alta velocidade. E os alemães do plantel também não primam por ter um ADN de conservação de bola e são muito mais directos no seu futebol. São mais dotados para o duelo físico, para o jogo aéreo e para o jogo menos “mastigado” e muito mais rápido. Jupp Heynckes, como bom alemão que é, sabia o que fazer e aproveitou de forma exímia o potencial de que dispunha no seu plantel (onde ainda não estavam nem Götze ou Lewandowski, “roubados” ao Dortmund).

Querendo atingir um patamar ainda superior, os dirigentes do Bayern de Munique foram contratar aquele que para muitos era o melhor treinador do mundo. Se a intenção era espremer ao máximo os jogadores que já tinham nas suas fileiras o resultado não foi alcançado. Aliás, alguns até passaram a render muito menos do que rendiam com Jupp e outros, como no caso de Mario Mandžukić, deixaram de encaixar no estilo de jogo do novo Bayern (como o próprio reconheceu) e acabaram por sair. Luiz Gustavo, Kroos, Shaqiri e Mario Goméz foram outros dos “dispensados” no reinado de Guardiola.

Já outros jogadores como Philipp Lahm ou David Alaba passaram a ocupar outras zonas do terreno, às quais não estavam habituados. Se o fizeram bem? Fizeram, afinal de contas podem ser os dois melhores laterais do mundo, o direito e o esquerdo, respectivamente. Apenas não havia necessidade de adaptar estes jogadores no meio campo quando já existiam Xabi Alonso, Schweinsteiger, Thiago Alcântara (trazido do Barcelona pelo treinador), Javi Martinez, Rode, Höjbjerg ou o jovem Gaudino.

Mario Götze, o menino-prodígio alemão que deu a vitória à sua selecção na Final do Mundial do Brasil, passou a render muito menos com Guardiola e jogar fora da sua posição. As notícias da sua saída são uma constante. Schweinsteiger, um jogador da formação dos bávaros, fustigado por diversas lesões nos últimos dois anos, acabou por sair já neste defeso para o colosso inglês, o Manchester United, ao fim de 14 anos no Bayern. Os adeptos certamente não terão apreciado a saída de um símbolo do clube.

Muitas foram também as lesões na “Era” Guardiola. No último ano estas atingiram o pico e muito por culpa de lesões nas principais figuras, a campanha do Bayern Munique ficou aquém do esperado na Liga dos Campeões, onde os alemães caíram perante o Barcelona nas meias-finais, defraudando os adeptos. Foram tantas as baixas que o Bayern de Munique iniciou o segundo jogo contra o Barcelona com o onze apresentado na imagem, sem Alaba, Robben ou Ribéry e com Müller e Thiago em funções que não são habitualmente suas. Há já quem questione os métodos de treino de Guardiola, dado o número elevado de lesões.

Quem leu este texto até aqui deve pensar que sou um crítico do futebol do Bayern de Guardiola ou do próprio Pep, mas não sou. Guardiola para mim é um génio do futebol, um verdadeiro exemplo dentro e fora do campo. Ele foi campeão da Alemanha com bastante facilidade, chegou longe na Liga dos Campeões e só caiu com o futuro vencedor. Aquilo que sinto é que Guardiola, não respeita as qualidades/características dos jogadores que tem agora à sua disposição. Tal como no Barcelona, são jogadores de classe mundial, o seu jeito de jogar é que é diferente. Guardiola deve adoptar um modelo de jogo que rentabilize as suas potencialidades e não tentar fazer daqueles jogadores aquilo que eles não são. Pode moldar mais a equipa à sua maneira, como fez com as entradas dos espanhóis Bernat, Thiago e Alonso mas também deve respeitar os símbolos do clube como Lahm ou Müller. Este último que se fala ter uma relação complicada com o treinador.

Como simpatizante do Bayern de Munique desde que me lembro, não gostaria de ver Müller e Götze saírem como fez Toni Kroos o ano passado e Schweinsteiger há poucas semanas. São jogadores com perfil para ficarem o resto da carreira na Baviera. Eu ,tal como os fiéis adeptos do Bayern de Munique, espero que os símbolos permaneçam no clube e que Guardiola não destrua por completo aquele Bayern que Jupp Heynckes construiu. Com as entradas do médio box-to-box, Arturo Vidal, do talentoso e rapidíssimo médio ofensivo, Douglas Costa e do jovem Kimmich, penso que o Bayern se está a reforçar bem e que, juntamente com as recuperações de Robben, Ribéry e Badstuber, tem tudo para voltar a ser a melhor equipa da Europa agora sob os comandos de Josep Guardiola.