Halloween: Lendas, tradições e curiosidades

O Halloween é cada vez mais celebrado em Portugal. De ano para ano há cada vez mais crianças a pedirem “doçura ou travessura”, mais mascarados nas ruas, mais festas e decorações um pouco por todo o lado. Mas esta tradição que agora todos nós já conhecemos, não é como muitos pensam uma tradição originalmente americana. É uma tradição muito mais antiga.

Apesar da grande influência americana este costume foi levado para a América pelos emigrantes europeus por volta do séc. XIX.

     A Tradição Americana

O nome Halloween deriva de All Hallows’ Eve que significa véspera do dia de Todos os Santos.

Conta a lenda que na noite de dia 31 de Outubro o elo entre o mundo dos vivos e o dos mortos fica mais fraco. Isso abre um portal que permite aos mortos passarem para o nosso lado, entrem nos nossos corpos e ganhem vida. Por isso criou-se o costume de se sair mascarado nessa noite, para assim baralhar os espíritos dos mortos e não ser possuído.

Uma das tradições com maior expressão nesta data, e que tem vindo a ser trazida também para a Europa, é o “trick or treat”. Dita a tradição que as crianças saiam mascaradas na noite de dia 31 e batam à porta pedindo “doçuras ou travessuras”. Se não receberem o doce, têm permissão para pregar uma partida.

Calcula-se que esta parte da tradição do Halloween se tenha baseado num costume vindo das primeiras celebrações do Dia dos Fiéis Defuntos em Inglaterra. Nesse dia os pobres iam pedir comida de porta em porta e os donos das casas acediam, em troca de uma oração pelos seus entes queridos falecidos.

 

Jack O’ Lantern e os símbolos do Halloween

Nessa noite abóboras com velas  dentro são espalhadas um pouco por todo o lado, para guiar Jack O’ Lantern.

 Conta a lenda que Jack era um homem alcoólico e violento, que batia na esposa e nos filhos.

Na noite de dia 31 o Diabo desceu à terra para levar a alma de Jack para o inferno, mas Jack era matreiro e convenceu o Diabo a que o deixasse tomar uma última bebida. O Diabo cedeu e Jack, que não tinha dinheiro para essa última bebida, pediu ao Diabo que ele se transformasse numa moeda, o que ele fez.

Jack pôs o Diabo no bolso junto com uma pequena cruz de prata que o impedia de voltar à sua forma normal. De lá só o deixou sair com o acordo de ficar na terra por mais um ano. No ano seguinte o Diabo voltou, mas acabou por ser novamente enganado por Jack, tendo então de lhe conceder mais dez anos.

Jack acabou por morrer antes dos dez anos se passarem. Foi às portas do céu, onde a entrada lhe foi negada. Depois foi às portas do inferno, mas o Diabo ainda se sentia humilhado por ter sido enganado duas vezes e negou-lhe também a entrada.

Deu a Jack uma brasa e condenou-o a vaguear com ela na escuridão por toda a eternidade. Jack colocou a brasa num nabo, para que durasse mais tempo. Com o tempo as pessoas trocaram os nabos por abóboras pois era mais comuns, criaram o costume de esculpir nelas o rosto de Jack e de lhes colocar dentro uma vela para que nessa noite o seu espírito possa caminhar sem ser na escuridão.

Os gatos pretos são outro símbolo muito usado no Halloween. São tidos como símbolo do mal e do azar e diz-se que as bruxas têm o poder de se transformar nesses animais, para assim poderem caminhar irreconhecíveis. As vassouras, em contrapartida, são usadas para afastar a energia negativa e os morcegos são o símbolo para ver além das aparências.

Em alguns locais acreditava-se que quem quisesse ter contacto com uma bruxa deveria vestir a roupa do avesso e caminhar de costas durante a noite de Halloween.

 

Samhain: a origem pagã

Apesar de ter sido fortemente popularizado dessa forma pela cultura norte americana as origens do Halloween são bem mais antigas. A celebração original chamava-se Samhain, um nome de origem gaélica, e marcava o fim do Verão e o novo ano celta. Era a altura em que os povos do hemisfério norte apanhavam a última colheita do ano e sacrificavam os seus rebanhos deixando apenas os animais mais robustos. Era a celebração mais importante do antigo calendário celta e durava 3 dias: 31 de Outubro, 1 e 2 de Novembro.

Já para os celtas esta festividade estava fortemente relacionada com o mundo sobrenatural. Eles acreditavam que nessa noite o véu que separava o mundo visível do invisível se levantava e os espíritos dos mortos, os deuses e seres do submundo passeavam por entre os vivos.

Acendiam-se fogueiras no topo de colinas para honrar os antepassados e para purificar as pessoas e a terra, afastando os demónios e as bruxas que se acreditava estarem mais fortes nesta época do ano. A cristianização acabou com muitas tradições desta época mas estas fogueiras conseguiram sobreviver até ao século XIX.

Uma outra crença era a de que, como o véu entre os mundos era mais ténue, a noite era propícia para adivinhações. Existiam então diversos jogos de adivinhação, alguns dos quais deram origem a inocentes jogos que conhecemos hoje em dia.

Um desses jogos consistia em tirar com a boca maçãs de um recipiente com água. A primeira rapariga que conseguisse pescar uma maçã seria a primeira a casar.

Um outro jogo, que também tinha como objectivo saber quem iria casar-se ou ficar solteiro, consistia em comer um pequeno bolo que tinha dentro ou um anel ou uma noz.

Em alguns locais eram ainda usadas máscaras feitas de crânios e peles de animais. Usava-se ainda leite e comida (hoje substituídos por doces) para acalmar os espíritos dos mortos.

 

A celebração cristã

Esta celebração foi entretanto substituída pela celebração católica que hoje conhecemos: a Vigília de Todos os Santos na noite de dia 31, o Dia de Todos os Santos, dia 1, e o Dia dos Fiéis Defuntos, dia 2 de Novembro.

O Papa Bonifácio IV instituiu no século VII o feriado do Dia de Todos os Santos em homenagem aos mártires e aos santos da igreja católica, em lugar da antiga celebração celta. As festividades eram, então, semelhantes às celtas: com fogueiras, paradas, jogos e pessoas mascaradas de anjos e demónios.

Curiosidades e tradições de Halloween

Queimada em Vilar de Perdizes

Muito antes dos americanos pedirem “doçuras ou travessuras” já em Portugal as crianças saíam à rua no dia 1 de Novembro para pedirem de porta em porta o “pão por Deus”.

Em Vilar de Perdizes (Montalegre) halloween é sinónimo de festa e animação. Comemora-se a noite dos fachos, em que os rapazes roubam palha às peças e vão para o alto dos montes gritar para tentar afastar bruxas, espíritos e demónios e faz-se a tradicional queimada. Existe ainda o hábito, um pouco por todo o país, de ir aos cemitérios no dia 1 levar flores aos entes falecidos.

Também em Espanha o Dia de las Brujas  é celebrado com fogueiras e queimadas durante três dias.

Em Hong Kong celebra-se o Yue Lan (Festival do Fantasma Faminto) e acredita-se que neste dia os espíritos podem caminhar livremente.

No Camboja o festival chama-se Pchum Ben e tem a duração de 15 dias e na República Checa colocam-se cadeiras para os vivos e para os mortos se sentarem lado a lado em frente à lareira, no dia 2 de Novembro.

Campas decoradas durante a celebração do dia de los muertos, no México

No México esta data têm também uma significativa importância. O Dia de los Muertos é uma tradição bastante popular e que já foi declarada como património imaterial da humanidade pela UNESCO. É uma data para honrar os antepassados falecidos, celebrar a morte e o renascimento. Este costume existe lá há cerca de 3 mil anos e há registos deste culto entre os astecas e os maias, embora no início fosse celebrado durante o mês de Agosto. É uma das festas mexicanas mais animadas, com comida, bolos e os doces preferidos dos mortos que, segundo se crê, vêm visitar os seus parentes.

De notar que esta celebração, uma grande festa, é muitas vezes realizada nos próprios cemitérios, entre as tumbas.  Algumas famílias têm até o costume de abrir as campas, tirar os ossos dos antepassados para os limpar e para que eles também participem nas festas.

Lanternas no Obon festival, no Japão

O equivalente no Japão é o Obon Festival que se realiza em Julho ou Agosto, dependendo da região. Os japoneses crêem que estes são os únicos dias em que os espíritos dos desencarnados voltam a caminhar na sua terra natal. Este festival tem a intenção de salvar os mortos que ficaram presos. Há danças tradicionais, lendas e a cerimónia Toro Nagashi em que se colocam lanternas vermelhas em rios, lagos e mares.

Na China, mais ou menos na mesma altura, comemora-se o Teng Chieh. As pessoas colocam comida e água em frente às fotos dos seus entes falecidos e acendem fogueiras e lanternas para guiar os espíritos.

Na Coreia há música, danças e jogos. As famílias comem juntas e visitam os túmulos dos falecidos com oferendas como forma de lhes agradecer. Na Áustria há missas em honra dos santos e dos mártires e oferendas aos falecidos. Lá a tradição estende-se até 8 de Novembro.

Na Polónia as portas são deixadas abertas para receber os espíritos dos falecidos.