Peugeot Citroen, crónica de uma morte anunciada (?) – Nuno Araújo

 Um gestor que quadruplicou o seu salário em 2010 para mais de 3 milhões de euros anuais, decide, dois anos depois, despedir pelo menos 8 mil trabalhadores da sua empresa. O que se passa com este mundo?

A França festejou no passado Sábado 223 anos sobre a tomada da Bastilha de Saint-Antoine, prisão situada em Paris. Decorria então o ano de 1789, e a 14 de Julho uma investida popular, em resposta a um pretenso massacre que iria ocorrer, de acordo com Camille Desmoulins, jornalista da época. O que se seguiu marcou de forma indelével o processo revolucionário francês, pois as forças afectas à monarquia não conseguiram deter a fuga dos prisioneiros encarcerados na Bastilha.

A França de hoje tem presidente recém-eleito, o socialista François Hollande. E este mesmo presidente tem uma tarefa extremamente árdua para fazer: impedir a restruturação do grupo empresarial PSA (gestor da Peugeot-Citroen), pelo menos da forma como está desenhado – ainda que o público em geral não conheça pormenores desse mesmo processo.

Phillipe Varin, presidente da PSA, explicou a necessidade da restruturação da empresa por em França os custos do trabalho serem os mais elevados da União Europeia (UE), e isso mesmo justifica a supressão de, pelo menos, 8 mil postos de trabalho directos. Este argumento já foi vigorosamente rejeitado, tanto por François Hollande, como por Jean-Marc Ayrault, primeiro-ministro francês.

Com efeito, é um argumento frágil. Varin aumentou em 4 vezes (quadruplicou, portanto) o seu salário para 3,25 milhões de euros anuais. Isto mesmo foi avançado por Bruno LeRoux, líder parlamentar do PS francês. Acresce dizer que os custos do trabalho, portanto da mão-de-obra, na Alemanha são superiores do que em França. Por exemplo, França, no ano passado, tinha a 5ª mão-de-obra mais cara da UE, enquanto que a Alemanha detinha o 8º posto na mesma tabela(consultando essa tabela, já agora, verificamos que Portugal ocupa um honroso 18º lugar, e ainda querem reduzir salários por cá…).

A fábrica emblemática de Aulnay-sous-Bois, em Seine-Saint-Denis (arredores de Paris) irá encerrar em 2014, levando para o desemprego 3 mil pessoas. Este é, sem dúvida, um rude golpe para o início auspicioso desta fase política do Hollandismo, como a imprensa francesa já apelida. Mas o anúncio da restruturação da PSA, após as eleições francesas (presidenciais e legislativas), cai que nem uma bomba no governo francês, e, acima de tudo, nos trabalhadores que, mais cedo ou mais tarde, irão para o desemprego.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana