Quem tramou Zeinal Bava e a PT?

Muito se fala sobre PT e Zeinal Bava nos últimos meses. E tanto que confunde o “comum dos mortais”. Vamos tentar simplificar.

Ia eu no belo do Alfa Pendular Porto – Campanhã Faro para as minhas merecidas férias em meados de Agosto e lia no Expresso online como era possível Zeinal Bava, na altura presidente executivo da PT Portugal e da brasileira Oi, não saber que dinheiro tinha a sua empresa investido na Rio Forte, empresa do Grupo Espirito Santo. Segundo o jornal, quem fazia os relatórios e depois os enviava para Zeinal Bava e para Luís Melo, CFO (administrador financeiro) da empresa, colocava esses valores na secção de simples depósitos bancários e não de investimento.
Mais tarde, li também na comunicação social que Luís Melo disse ao administrador financeiro do BES e do GES (que também era administrador não executivo da PT, pois o BES, agora Novo Banco, é accionista da telecom portuguesa) que a PT não iria mais investir em empresas do grupo Espirito Santo, mas que acabou por investir depois de uma ordem directa de Henrique Granadeiro, chairman e presidente executivo da PT, após a saída de Zeinal Bava para se focar na Oi e na fusão da mesma com a PT SGPS.

Mas dirão os menos entendidos ou menos atentos “que raio é a PT SGPS e a PT Portugal?”. Quando Zeinal Bava assumiu a presidência executiva da Portugal Telecom há uns anos, antes de iniciar a revolução tecnológica que se viu – nomeadamente na fibra óptica -, dividiu as áreas de negócio do grupo em negócios em Portugal e negócios no estrangeiro. Então foi criada uma sub-holding com o nome PT Portugal para agregar todas as empresas de negócios em Portugal.  Em vez de lhe chamar holding, vou chamar-lhe grupo (de empresas) para ser mais fácil de entender. Então, temos a Portugal Telecom SGPS ( que significa Sociedade Gestora de Participações Sociais) S.A., a “empresa mãe”, que agrega todo o grupo PT (ou agregava, visto que do acordo de fusão, a PT Portugal passou a subsidiária da Oi). E temos a PT Portugal SGPS SA, que agrega todas as empresas do grupo com negócios em Portugal (por exemplo, a PT Comunicações, detentora da marca MEO, a MEO SA, antiga TMN, a PT Inovação, etc). Com a fusão, segundo o acordo, a Portugal Telecom SGPS S.A. desaparecerá (assim como a Oi), dando origem à CorpCo (nome ainda provisório). E a PT Portugal SGPS S.A. mudaria de nome para Portugal Telecom.

Mas – há sempre um “mas” nestas coisas, não há? – não estava nos planos da empresa brasileira Oi que, com a fusão, viesse uma empresa com 900 mil euros a menos, dinheiro investido no grupo Espírito Santo por ordem directa de Henrique Granadeiro, como explicado acima. E este facto prejudicou largamente a intenção de Zeinal Bava que, entretanto, já negociava com a TIM, a segunda maior operadora móvel do Brasil, um projecto de fusão, pretendendo manter a operação em Portugal (ou seja, a PT Portugal). Enquanto que o CEO português pretendia a fusão com a TIM e manter a PT Portugal no grupo Oi/PT (ou CorpCo), os accionistas da Oi preferem vender a PT Portugal (entre outros negócios) ao melhor preço possível para poderem negociar a compra da parte que a Telecom Itália tem na TIM, cerca de 66,7% da empresa. Resumindo, os brasileiros preferem ser accionistas maioritários na segunda maior companhia móvel do Brasil do que se fundirem com ela e ficarem com a empresa portuguesa, que não sabe se vai conseguir reaver os 900 mil milhões de euros que investiu no GES, noticia o Económico. A esta altura creio que já todos conseguem responder à pergunta do título, não?

Para terminar esta crónica que já vai longa, em que situação estamos, afinal, neste momento? A associação dos pequenos accionistas da PT levou a administração a tribunal pela decisão de fusão com a Oi e entrepôs uma providência cautelar para evitar que a mesma avançasse. Zeinal Bava saiu da Oi em discordância com a posição dos accionistas empresa brasileira, enquanto esta já negoceia com a Altice, multinacional francesa que já é dona da Cabovisão e da Oni, a venda da PT Portugal. Mas a Telefónica, a telecom espanhola que comprou metade da Vivo à PT há uns anos (e entretanto comprou também empresa de cabo brasileira GVT), diz estar atenta ao que se passa em Portugal, pelo que pode ainda vir de lá alguma oferta. O jornal Económico diz que a própria Vodafone poderá ser uma das interessadas na compra da PT Portugal. A Sonae não será, provavelmente, uma das interessadas, não só porque a Autoridade da Concorrência provavelmente não autorizaria, mas principalmente porque a NOS, fruto da fusão da Optimus com a ZON, já vale neste momento em bolsa o dobro da PT.

Em suma, quem vai vencer esta batalha? Quem der mais dinheiro.

Crónica de João Cerveira