Querida, cheguei aos 40 – André Marques

Os homens quando atingem a meta dos 40 têm a alegre mania de idealizar. Inteligentes que são, a maior idealização é engrenar miúdas com idade para serem suas filhas. Mas o problema é que certas meninas apenas os vêem como simples avozinhos que já deram o que tinham a dar. Por mais artistas de circo que tentem ser. E alguns até ganham a Lotaria. Assim como há as devassas que conseguem saborear de boca cheia uma pila meio murcha e felpuda. e algumas até ganham o Euromilhões. Casos da vida. Coisas de mulher. Para os homens é o chamado murro na pila. Salvo seja.

A idade é uma merda. E quando é ela a passar por nós, torna-se ainda pior. Deixa os homens com a sensibilidade no grau maior. Como um carro topo de gama. Descobrem que a juventude faz parte do passado. A atração jamais recuperada. Aos poucos começam a suar das mãos, a deixar escapar os sonhos por entre os dedos. A autoestima despista-se numa saída ruinosa qualquer. Talvez na A8. Como quem vai para o Bombarral. Ou para Leiria. Ou para porcaria nenhuma. Néscios. Loucos que são, entregam-se à loucura dos 20 anos. Como se a idade parasse no tempo. Nunca pára. Só pára na cabeça. E quando a temos no lugar. Mas nem todos os homens funcionam assim. Obviamente.

Enquanto uns desmoronam para a vida, outros aproveitam para recuperar o físico. Começam a gastar rios de dinheiro em cremes, oceanos de notas em coisas supérfluas. Outros até tentam salvar o casamento; a mulherzinha a dias com falta de sexo, a mulherzinha que lava as meias com sabão azul e branco, e por aí em diante. Homens felizes. Aparentemente. E o facto de escavarem buracos em busca de mulheres mais novas, permite-lhes usar o método da reinvenção da sexualidade, para mostrarem que ainda estão aí para as curvas. Não as de Santiago. As da barriga, dos papos, e afins.

Regra geral, é nos 40 que a saúde começa a definhar. Enferruja como um cano antigo. Merda. Mas por outro lado; a vida profissional tende a intensificar-se, as responsabilidades familiares tornam-se mais exigentes e a pila cada vez mais malandra. Afinal, nem tudo é mau. E um homem com 40 anos é sempre mais do que aquilo que imaginamos. Depois há os que mudam de vida, de rua, de cidade, de bairro. Os que batem com a porta na própria cara. Ou pelo menos, tentam. Abandonam as mulheres, os filhos, o sabão azul e branco, as meias sujas, a vida mundana de todos os dias. O que necessariamente não conduz à infidelidade. Deixam crescer os pelos do peito até conseguirem fazer tranças.

Alguns peritos afirmam que a crise da meia-idade é uma coisa normal. Como comer um iogurte. É necessário ter consciência de que a vida não é eterna. É bom sonhar, ninguém diz o contrário, mas o mais importante é entendermos que às vezes – por pensarmos exageradamente – torna-se tarde demais para realizarmos determinadas coisas que nos fazem felizes. Viver, por exemplo.

Como diz Charles Péguy “Os 40 anos são uma idade terrível. É a idade em que nos tornamos naquilo que somos.”

Em suma, a maioria dos homens enche-se de retrovirais inconclusivos. Coitados, na tentativa de manterem intacto o sexo imunitário para todo o sempre. Para um dia se for preciso. Conforme as restrições. Coitados.

Podia defecar ainda mais um pouco este assunto. Mas não. É do ópio. Estou doente. Ou melhor, estive doente até há poucos dias. Mas mesmo assim ainda tive a força suficiente para destilar algumas frases parvas, não falhar alguns pontos de final e conjugar de forma correta alguns verbos. Assim como virgulas, parágrafos, etc. Peço desculpa se não acertei na gramática. Tomei cenas maradas.

Depois de tudo isto, e no auge dos meus 27 anos, prefiro uma crise de meia-idade a uma crise politica.

Fica a dica.

AndréMarquesLogoCrónica de André Marques
Crónicas Improváveis
Visite a página do Facebook do autor: aqui