Reportagem Vodafone Mexefest + Alfabeto Musical G a L

O prometido é devido, e retomamos nesta edição o alfabeto musical (músicas de A a Z podem mudar a sua vida), além disso estamos atentos à actualidade e fazemos o rescaldo do festival de inverno que decorreu na cidade de Lisboa, nos dias 28 e 29 de Novembro, é claro que falamos do Vodafone Mexefest.

Gold & Youth – “Jewel”, banda canadiana que se estreou nos discos em 2013, este foi o terceiro single, e é de facto uma grande música, voz melancólica acompanhada por melodias simples e sintetizadas.

https://www.youtube.com/watch?v=LcTVLHRHC_A

The Head and the Heart – “Another Story”, extraída do segundo álbum desta banda americana, canção folk despretensiosa, mas com uma grande mensagem, e como diz a letra: “… everybody feels a little crazy, but they go on, living with it…”

https://www.youtube.com/watch?v=Zo0UfKqwB94

Ida Maria – “I Like You So Much Better When You’re Naked”, cantora e compositora norueguesa, não há muito a dizer sobre esta música, a não ser: quem é que nunca pensou isto?

https://www.youtube.com/watch?v=VkVy2FeqIyc

Joan as a Police Woman – “To be Loved”, música para todos os apaixonados, cantora americana que causa inveja a muitas mulheres por ter sido namorada do genial Jeff Buckley.

Karen Elson – “The Last Laugh”, é a prova viva que supermodelos podem arriscar outras carreiras, belíssimo álbum de estreia The Ghost Who Walks, grandiosa canção folk, com uma mensagem de amor intensa, “…guarda o último riso para mim…”

https://soundcloud.com/singhabaaa/the-last-laugh-karen-elson

Lhasa de Sela – “Con Toda Palabra”, infelizmente a música ficou muito mais pobre, com o seu falecimento no dia 1 de Janeiro de 2010 (vítima de cancro da mama), no entanto aqui preferimos celebrar o seu espólio em vez de lamentar a sua morte. Deixou-nos três álbuns e muitas pérolas entre as quais destacamos este “Con Toda Palabra”.

https://www.youtube.com/watch?v=XA_ghTQ0IPU  

Mudando de assunto, a edição de 2014, do Vodafone Mexefest, decorreu nos dias 28 e 29 de Novembro. Como em qualquer edição deste festival o objectivo principal é “mexer” de palco em palco ou de sala em sala, assim é impossível ver e ouvir tudo, por isso fizemos uma prévia selecção e organizamos a nossa agenda de forma cuidada.

Dia 28

20:30- jj, Igreja São Luís dos Franceses

Finalmente conseguimos ver e ouvir a belíssima voz de Elin Kastlender, um dos nossos projectos preferido e não desiludiu, ficamos rendidos, o cenário era sagrado a voz irrepreensível e o ambiente perfeito. Ponto alto: “Let Go”

21:15- Francis Dale, Palácio Foz, Sala de Espelhos

Diogo Ribeiro de seu nome, já o seguiamos há algum tempo, no entanto ao vivo é que testamos os verdadeiros artistas, e não há dúvida, este nome vai dar que falar, não se esqueçam.  A beleza da sala fez a comunhão perfeita, com a beleza da sonoridade. Acedemos ao pedido do cantor e partilhamos e relembramos que o EP Lost In Finite encontra-se para download legal e gratuito no facebook. Foram muitos os pontos altos, mas a cover de Chet Faker “No Diggity” ficou no ouvido.

22:00- tUnE-yArDs, Coliseu dos Recreios

Temos que ser sinceros, não estávamos com grandes expectativas, tínhamos dúvidas de como resultaria a complexidade do som e dos instrumentos ao vivo, e sabe tão bem ser surpreendido. Foi um dos melhores concertos do festival, é freak, apresenta influências africanas, pop, electrónica, folk, tudo mesclado numa harmonia difícil de explicar mas que ao vivo atinge um outro nível, muito graças à forte presença da multi instrumentista e mentora do projecto, Merrill Garbos, sem dúvida para repetir.

23:00- Shura, Casa do Alentejo

Outro dos momentos mais aguardados por nós, a organização disponibilizou-lhes 42 min, mas só utilizaram 30 min. Ao vivo apresenta-se em formato trio que nos remete para os The XX. Actuação curta mas intensa, ainda vão fazer correr muita tinta, não faltaram como é óbvio os dois fenómenos do youtube, que despertaram o interesse de meio mundo, “Touch” e “Just Once”, nome a reter para um futuro próximo.

23:30- Clã, Cinema São Jorge, Sala Manoel de Oliveira

Os portuenses deslocaram-se à capital e mais uma vez arrasaram, uma das melhores bandas nacionais ao vivo, voltaram a não deixar os seus créditos por mãos alheias, Manuela Azevedo e companhia estão melhor do que nunca, é fácil fazer a analogia com o vinho do Porto. Concerto especial que contou com a presença de convidados, ou melhor de amigos, desde os mais antigos, como Sérgio Godinho, aos mais recentes como Samuel Úria. Alinhamento de 18 canções que revisitou clássicos como “Sopro do Coração” e “Dançar na Corda Bamba”, aos temas do último álbum Corrente, donde destacamos a agressiva “Conta de Subtrair”, ainda tiveram tempo para dar uma nova roupagem mais calma e sensual a “G.T.I.”.

24:15- St. Vincent, Coliseu dos Recreios

Concerto que suscitou as mais acérrimas discussões do dia, por um lado houve quem ficasse negativamente surpreendido, por outro lado houve quem, tivesse adorado, nós não só adoramos como lhes atribuímos o prémio de Melhor Concerto do Festival. Muita coisa mudou desde a primeira vez que a vimos em 2010 no palco secundário do SBSR (Superbock Superrock), hoje em dia Annie Clark é uma mulher muito mais segura, é sensual, atrevida, ás vezes provocadora, mas não ficam dúvidas de que nasceu para estar em cima de um palco. Nesta noite ela contou histórias, algumas alucinadas, cantou e bem, ofereceu-nos riffs e distorções de guitarra, representou, teatralizou e arrebatou-nos.

Dia 29

 

20:00- Tiago Iorc, Sociedade de Geografia de Lisboa

O dia começou com uma agradável surpresa, o brasileiro Tiago Iorc, conquistou facilmente o público, para isso recorreu à sua natural e espontânea simpatia. Cantautor folk, apresentou o seu último álbum Zeski e ainda teve tempo para covers de Los Hermanos e Coldplay. Momento alto do concerto aconteceu quando decidiu percorrer a deslumbrante sala de guitarra acústica na mão e cantar a capella, ficamos a aguardar uma próxima visita ao nosso país.

20:40- Adult Jazz, Cinema São Jorge, Sala Manoel de Oliveira

Sala bastante composta, para ver ao vivo, a apresentação do álbum de estreia Gist Is, aclamado pela crítica especializada. Apresentam uma combinação improvável de sons, com vozes despretensiosas  que se constrói e desmorona sucessivamente, mas que surpreendente nos prende e vicia, resultando num concerto que tinha tudo para correr mal, mas que correu muito bem. Para rever num futuro próximo.

21:30- Sharon Van Etten, Coliseu dos Recreios

Recebida com amor e carinho pelos inúmeros fãs, a cantora americana respondeu com simpatia e alguma admiração pelo público ser tão conhecedor da sua música. Concerto competente, voz sem falhas, boa comunicação com o público, no entanto demasiado compenetrada, faltou-lhe alguma improvisação para que o concerto ficasse na nossa retina, cumpriu sem dúvida, mas não deslumbrou.

23:00- Perfume Genius, Cinema São Jorge, Sala Manoel de Oliveira

Fizemos escolhas e abdicamos de tentar ver Cloud Nothings e Palma Violets, que muito queríamos, mas há muito que aguardávamos por uma oportunidade de ver Perfume Genius, um dos concertos mais aguardados. Chegamos com antecedência mas não estávamos preparados para a enoooorrrmmmeee fila que aguardava conseguir entrar no São Jorge, quando estávamos quase a desesperar, conseguimos entrar, perdemos a primeira música mas ficamos na primeira fila, e de lá não mais saímos. Vestido a rigor, indumentária preta, verniz e batom vermelho, que segundo o artista havia estreado especialmente nesta noite. Apresentou o seu repertório ora sofrido e introspectivo, sentado acompanhado ao piano, ora intenso e expansivo, por vezes louco, mas é assim que ele é e nós adoramos o concerto. Lotação completamente esgotada e público rendido. Momento alto: “Lookout, Lookout”.

00:15- Wild Beasts, Coliseu dos Recreios

Recepção calorosa, público em êxtase, banda afirma que é um dos melhores concertos da tour, de certeza um dos grandes vencedores deste festival, para a maioria do público, mas não para nós. Depois de os termos visto em Paredes de Coura, palco secundário em 2011, este concerto soube a pouco, muito pouco. O melhor que podemos afirmar do concerto é que foi competente, mas só isso, durante grande parte foi monótono e até sonolento. A banda limitou-se a reproduzir as músicas dos álbuns, sem lugar para grandes ou pequenas divagações e improvisações, música atrás de música. Os momentos altos foram quase todos baseados no repertório de Two Dancers, 2009. A maior desilusão do festival, de afirmar que isto é apenas a nossa opinião e é passível, como qualquer opinião, de contradição.

Chegou ao fim mais um Vodafone Mexefest, festival que faz todo o sentido, no panorama musical nacional. Pontos negativos: mantém-se a dificuldade em entrar em alguns concertos devido à enorme procura, para isso aconselhamos a um maior cuidado na distribuição dos artistas por salas, dois exemplos: ficou provado que Perfume Genius poderia, e deveria, ter tocado no Coliseu, e Cloud Nothings mereciam uma sala maior e com melhor acústica do que o Ateneu Comercial de Lisboa, outro aspecto negativo é completamente alheio à organização, mas infelizmente estamos numa altura em que existe a moda dos festivais, e assim temos que partilhar concertos, com faladores incomodativos e amantes de “selfies” (nada contra “selfies”) desde que não sejam durante os concertos. Pontos positivos: o Coliseu passar a fazer parte das salas que alberga concertos, não se verificou o espectáculo negativo de esperas intermináveis como aconteceu aquando da visita dos Django-Django e dos Alt-J a este festival, a beleza das salas, o ser possível realizar concertos na Igreja São Luís dos Franceses, é indescritível a beleza e a sensação de assistir a um concerto num cenário tão maravilhoso. Por fim é claro que os melhores pontos positivos vão para os belos concertos que assistimos nestes dois dias de festival.

Na próxima edição continuaremos o já habitual alfabeto musical. Até lá não se esqueçam de ouvir boa música.