Top Hits #1- O Início

Quem segue atentamente o Ideias e Opiniões sabe que primamos não só pela qualidade, como pela inovação. Tentamos, mês após mês, criar algo novo e diferente, algo que ainda não foi feito ou dito, surpreendendo assim quem nos segue e quem nos vai descobrindo. Ora este mês de Novembro marca a estreia de mais um desses nossos passos em frente: o Top Hits!

Mas esta não é uma crónica comum! O Top Hits não só é assinado a meias (por Bruno Neves e Vasco Wilton, para quem não reparou no topo da crónica), como tem regras estabelecidas que contamos respeitar, nomeadamente: um número fixo de escolhas musicais (dez), sendo metade delas nacionais e a outra metade internacionais; apenas serão incluídos lançamentos/edições recentes ou descobertas dos cronistas (e essas podem não ser recentes, claro está) e cada crónica terá ainda direito a dois clássicos intemporais (um nacional e outro internacional).

Sobre esta parte técnica resta dizer que as escolhas serão divididas entre os dois cronistas: um mês um de nós ficará com 3 escolhas nacionais, 2 internacionais e 1 clássico internacional e o outro com 3 escolhas internacionais, 2 nacionais e 1 clássico nacional. Para que o sistema seja justo implementaremos a rotatividade, obviamente!

Dito isto vamos, finalmente, às escolhas musicais deste mês!

Top Hits Nacional

#1 – Noiserv – “00:00:00:00”

Três anos após a edição de “Almost Visible Orchestra” finalmente surgiu um novo trabalho do maior artesão musical dos tempos modernos: Noiserv! Desta vez a autêntica “orquestra”, a que já nos havíamos habituado refira-se, dá lugar a um piano tocado a várias mãos. Mais do que “apenas” um disco esta é uma autêntica “banda sonora para um filme que ainda não existe, mas que talvez um dia venha a existir”, como próprio Noiserv afirmou.

Para além do artwork surpreendente e absolutamente genial (conquista de forma fácil e justa o prémio de “Melhor Artwork do Ano”) destaque para os três singles já conhecidos: “Sete”, “Vinte e Três” e “Quinze”. “00:00:00:00” tem não só um nome bastante peculiar (será um dos maiores desafios de sempre anunciá-lo para quem trabalha em rádio e televisão, por exemplo) como parece concentrar em si mesmo a essência do Outono. Se fosse possível transformar o Outono num disco a escolha só poderia recair na recente obra-prima de Noiserv. As palavras podem ser poucas, mas o talento está lá a rodos. Para nossa sorte e privilégio.

Os três temas já tiveram direito a videoclip (cada um melhor que o anterior, sejamos justos), contudo o destaque vai para “Quinze”, o terceiro single deste disco.

#2 – Cristina Branco – “Menina”

É a entrada do top que há mais tempo está nas bancas (desde meados de Setembro para sermos precisos), contudo era impossível não a incluir nesta fina selecção. Depois de treze discos de inegável qualidade, que pareciam sempre passar ao lado do grande público, finalmente fez-se justiça e vimos a tendência inverter-se por completo.

“Menina” é um portento. A lista de músicos, cantores e nomes de outros universos que colaboraram com Cristina Branco torna este disco numa das maiores pérolas de 2016. Senão vejamos a lista de colaborações: Filho da Mãe, Ricardo Cruz, António Lobo Antunes, André Henriques, Ana Bacalhau (vocalista dos Deolinda), Kalaf (Buraka Som Sistema), Jorge Cruz (Diabo na Cruz) e ainda parte de um texto de Amália que foi integrado num fado tradicional. É ou não é um lote de excelência?

Seja ou não fã de Fado é impossível não se deixar conquistar por este álbum. O equilíbrio perfeito entre alegria e melancolia, ou a excelente noção de ritmo e da sua evolução e transição de tema para tema, tornam a audição deste “Menina” numa experiência deveras prazerosa.

Quanto a singles, para já temos dois: o cativante “E Ás Vezes Dou Por Mim” (que me conquistou por completo logo na primeira audição) e mais recentemente o veloz, e mordaz, “Boatos”, que pode ouvir abaixo.

#3 – NBC – “Toda a Gente Pode Ser Tudo”

Depois de duas décadas dedicadas ao mundo da música, do aclamado álbum “Maturidade” (2008) e da confirmação que foi “EPidemia” (2013) finalmente fomos brindados com um novo trabalho da autoria de NBC. E só por isso 2016 já seria um bom ano.

Sob o título “Toda a Gente Pode Ser Tudo” aqui estão reunidas dezasseis poderosas faixas que misturam sonoridades, estilos e géneros mas onde a palavra e a mensagem são sempre Rainhas e Senhoras. NBC consegue provar, uma vez mais, todo o seu talento mas, mais importante ainda, a sua inteligência e a profundidade das suas letras e mensagens. Gostar de Hip Hop Nacional e não ouvir o novo disco de NBC é uma verdadeira blasfémia!

A sonoridade não podia deixar de navegar nos clássicos blues, vindo assim ao de cima um soul maduro, irreverente, desconcertante e provocatório. Este é o momento de NBC. E nem poderá ser de outra forma perante um trabalho tão notável.

Depois do surpreendente single “Intro” (que se tornou rapidamente numa das minhas músicas favoritas de 2016, confesso) foi lançado recentemente “Acorda”, o segundo single oficial deste brilhante disco, que pode ouvir imediatamente abaixo.

#4 Jimmy P – “Essência”

Jimmy P é um dos novos valores da música portuguesa. Boa voz, bom ritmo, boa música. Jimmy tem todas estas características. É um dos melhores artistas do seu género musical, o Hip Hop com alguns toques de Soul, R&B e Funk. As suas letras são inspiradoras e emotivas. Não há uma música que não tenha uma letra que faça sentido, ou para nós, ou para o autor. Jimmy consegue, por exemplo, abordar temas importantes como a morte ou o racismo. E isto é algo que valoriza em muito o seu trabalho.

Essência é o seu segundo trabalho, lançado já este ano. Algumas das suas músicas já se tornaram mainstream, podendo ouvi-las ou na rádio ou nas novelas. Conta com 12 faixas tendo algumas colaborações, nomeadamente, a de outro nome recente e emergente da música portuguesa: Diogo Piçarra. Mas não é só Diogo Piçarra que colabora com Jimmy P neste álbum! Fábia Maia, Dji Tafinha e Terra Preta são as restantes colaborações do seu álbum!

Joel Plácido, nome verdadeiro de Jimmy P, é sem dúvida alguma um nome para reter, pois vai ouvir falar muito dele nos próximos anos! A música que escolhi destacar nesta nossa estreia diz-me muito e emocionou-me na primeira vez que a ouvi. Trata-se de “Entre as Estrelas”, tema que conta com a colaboração de Diogo Piçarra e que aborda o tema da morte. É muito emotiva, faz-nos lembrar e homenagear os nossos entes queridos que, infelizmente, já não se encontram entre nós. O videoclip é muito bonito e a música tem a particularidade de ter sido escrita pelos dois cantores.

#5 Dengaz – “Para Sempre

Dengaz é mais um dos novos artistas de Hip Hop que surgiu nos últimos anos e que conquistou o mainstream, graças não só ao seu talento enquanto artista e letrista, mas também devido às colaborações que foi acumulando ao longo dos anos. O caso mais reconhecido é o da música “Nada Errado”, onde António Zambujo foi convidado para colaborar, tendo depois inundado as rádios e, mais recentemente, novelas.

Para Sempre é um trabalho do ano passado, contudo, recentemente foi lançada a versão unplugged, que conta com as músicas deste disco, que fez parte dos melhores discos do ano passado para o Ideias e Opiniões, num registo mais intimista. É neste registo intimista, editado recentemente, que se encontra uma versão da música que dá nome ao álbum que conta com a colaboração de um dos melhores artistas brasileiros da actualidade: Seu Jorge.

“Para Sempre” é uma música muito bonita que Dengaz dedicou à sua filha, mas que o/a caro/a leitor/a pode dedicar ao/à seu/sua mais que tudo. Vá por mim, a letra adequa-se e a música é tão bonita que vale a pena até fazer uma serenata, isto claro, se tiver voz de rouxinol, caso contrário deixe isso para quem sabe! Seu Jorge tem nesta música uma interpretação de nos deixar derretidos. Não creio que a escolha de Dengaz tenha sido por acaso. Pode também assistir ao videoclip onde pode ver os artistas a gravar a música. Uma palavra também merecida para o instrumental, que faz toda a diferença no que diz respeito à emoção que a música quer passar!

Clássico Intemporal Nacional

Falar de música portuguesa e não falar de Rui Veloso é crime. Bom, se não é, devia ser! É que Rui Veloso, também graças às maravilhosas letras escritas por Carlos Tê, tem as melhores músicas cantadas em português que eu alguma vez ouvi. Tem baladas, tem rock ‘n roll, tem blues, ou seja, Rui Veloso consegue ser um artista não dos sete ofícios, mas, à vontade, dos sete estilos musicais.

A meu ver, seria impossível não destacar Rui Veloso nesta nossa primeira crónica sobre música, onde temos a oportunidade de escolher um Clássico Intemporal Nacional. Rui Veloso consegue ser um daqueles nomes que qualquer português, em qualquer lado do mundo, pode ouvir e sentir-se em casa! Há uma grande qualidade nas suas interpretações e as suas músicas são qualquer coisa de magnífico. Felizmente, fui desde cedo “educado” pelos meus pais para gostar das músicas deste senhor.

“A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)” é uma balada magnífica onde entram piano, harmónica e voz. Incrível como três instrumentos são suficientes para fazer esta música extremamente bonita!

Top Hits Internacional

#1 – Bear Me Again – “Here, I’m Fine”

Este quarteto oriundo de Belo Horizonte é um dos maiores diamantes da cena musical independente brasileira da actualidade. Depois da estreia de sonho que foi o disco “Analogies and Metaphors” chega-nos agora o EP “Here, I’m Fine”.

Do inglês irrepreensível ao ritmo contagiante, ou das mensagens intrincadas à sonoridade indie-folk, é impossível ficar indiferente aos Bear Me Again. Descobri-os há muito pouco tempo e desde então que têm rodado incessantemente por estes lados, acompanhando-me para todo o lado. Esperemos que 2017 marque a estreia destes bravos cavaleiros do folk pelos palcos lusitanos!

O novíssimo EP tem, para já, um single: “Here, I’m Fine”, a faixa-título desta pequena-grande maravilha auditiva proveniente do nosso “país-irmão”. É com o lyric vídeo do referido single que vos deixamos por agora:

#2 – Bruno Mars – “24K Magic”

É oficial: Bruno Mars está mesmo de volta! Quatro anos após o lançamento do seu último disco, “Unorthodox Jukebox” para os mais esquecidos, surge agora “24K Magic”: um conjunto de nove potentes canções que prometem arrebatar até o mais frio dos corações (rimou e tudo!).

Antes do álbum ter chegado aos principais serviços de streaming, e confirmar as suspeitas de que se aproximava mais um grande trabalho discográfico, já eram conhecidos três temas: “24K Magic”, que podem ver e ouvir abaixo, “Versace on the Floor” e “Chunky”. Numa era em que um álbum sem convidados especiais é como um jardim sem flores, é impossível não referir o facto de Bruno Mars ter apenas uma pequeníssima, e muito improvável, participação: a da actriz Halle Berry, no tema “Calling All My Lovelies”. Para compensar, na produção do disco teve a ajuda de Babyface, T-Pain, Emile Haynie e James Fauntleroy (tendo este último trabalhado em todas as nove canções).

Ouvir este disco por inteiro é como viajar no tempo. É mergulhar de cabeça na música, nos filmes, nas séries e nos videojogos dos anos 70 e 80. É um banho de imersão temperado de nostalgia, relembrando um tempo que, tanto na vida como na música, não volta mais. É uma prova de talento e classe dignas de registo por um dos cantores mais consistentes da actualidade. É um conjunto de temas onde quase todos parecem ter potencial, e estatuto, de single. É desejar que este seja um disco eterno para que nunca tenhamos que sair da pequena redoma mental para onde somos transportados.

#3 – Sia – “This is Acting”

Sia é das artistas mais icónicas dos últimos anos! Para além do elemento de descoberta que é o facto da australiana não mostrar a cara em público, temos a sorte de poder ouvir a sua voz fantástica nas suas canções. This is Acting é o seu mais recente disco, lançado este ano e de onde se retiraram três singles, “Alive”, “Cheap Thrills” e “The Greatest”.

Para além de muito boa cantora, Sia é também autora de várias letras para outros artistas. O/A caro/a leitor/a se calhar não está a par, mas artistas como Beyoncé ou Rihanna, duas enormes artistas do mundo pop, cantaram músicas escritas por Sia. Podemos assim perceber que a australiana é um poço de criatividade e que devemos valorizar todo o seu trabalho pela música moderna.

This is Acting é o regresso aos discos por parte da cantora. Tanto a versão deluxe como a normal contêm várias músicas de enorme qualidade, sendo que na versão deluxe, tanto o single “Cheap Thrills”, como “The Greatest”, tiveram a colaboração de outro artista. No caso da primeira canção é Sean Paul que acompanha a australiana; já no caso da segunda canção é Kendrick Lamar, autor de um dos melhores álbuns do ano passado, To Pimp a Butterfly. A versão deluxe, contém ainda versões de músicas com remixes que dão outra roupagem às canções.

É precisamente, “The Greatest” que escolho destacar nesta nossa estreia. É que a voz de Sia, às vezes um pouco rouca nos agudos, faz toda a diferença nesta música, que é excelente enquanto música motivadora, que nos diz a nós mesmos que somos os melhores. Perfeita para ouvir quando estiver mais desanimado! Prometo que no mínimo vai soltar um gingar de ancas e um bater de pé. O seu videoclip é no mínimo arrebatador, em mais uma excelente performance de Maddie Ziegler! E, ainda por cima, com uma mensagem subliminar bastante emocionante, que embora não seja a oficial, consta que é uma homenagem ao atentado de Orlando deste ano, onde várias pessoas da comunidade LGBT foram mortas a tiro num bar.

#4 The Weeknd – “Starboy

Starboy é o primeiro single do mais recente trabalho, com o mesmo nome, do canadiano Abel Makkonen Tesfaye, mais conhecido por The Weeknd. Starboy irá ser lançado ainda este mês, não estando, no momento em que escrevo estas linhas, disponível para ouvir na íntegra. Contudo, pelo seu single podemos já antecipar que irá ser mais um belíssimo trabalho do canadiano que, no ano passado, chegou ao mainstream com o seu álbum Beauty Behind Madness.

Starboy terá várias colaborações de artistas, nas suas 18 faixas, a saber: Daft Punk, Kendrick Lamar, Lana Del Rey e Future. No caso de Daft Punk a colaboração é dupla e é curiosamente nos dois de três singles que já são conhecidos. Em termos de musicalidade parece não haver grandes diferenças do disco anterior, contudo, há um amadurecimento claro.

A sua voz melódica coloca “Starboy” no registo que mais gostamos de o ouvir, aliás a sua letra parece mostrar um Weeknd mais maduro e preparado para o que a indústria lhe poderá trazer. Para além disto, tem também a colaboração de Daft Punk que apesar de ser complicado de notar, é reconhecível para os fãs do duo de DJ’s, já que aqueles ecos meio metalizados são inconfundíveis. Não tenho dúvidas que Starboy vai receber, no mínimo, uma nomeação para um Grammy na categoria de single do ano. Já o seu videoclip conta, igualmente, uma história bastante interessante, sobretudo em conjunto com a letra da música.

#5 Avenged Sevenfold – “The Stage”

Os Avenged Sevenfold estão de volta! Depois de um período em que houve algumas novidades, como a mudança de baterista, posição que desde a morte de The Rev tem tido algumas mudanças. Primeiro foi Mike Portnoy a sentar-se à frente da bateria, por pouco tempo, quando decidiu ajudar a banda norte-americana. Seguiu-se Arin Ilejay, que colaborou no disco anterior. E agora, Brooks Wackerman. The Stage traz de volta, segundo o vocalista da banda Matt Shadows, o verdadeiro estilo da banda, já que para ele, o álbum anterior, Hail to the King, tinha ficado muito colado ao estilo dos Metallica.

The Stage é o título do álbum homónimo, e do single de apresentação, dos norte-americanos. Ao longo de 11 faixas, os Avenged Sevenfold adoptam um estilo mais irreverente, que a crítica tem elogiado bastante. Já sentia falta dos solos de Syn Gates e das poderosas malhas que sempre conquistaram os seus fãs!

Já o seu single, para além de possuir todas as características comuns da banda, apresenta-se de forma poderosa, com um início dramático e com um videoclip bastante interessante, com a representação da história em fantoches, enquanto ouvimos a voz de Matt Shadows por trás. Como fã incontornável da banda, tenho uma opinião muito boa desta música, mas se o/a caro/a leitor/a gosta de música rock este é uma boa escolha para ouvir.

Clássico Intemporal Internacional

Leonard Cohen – “Hallelujah”

Num mês marcado pela morte de um dos maiores ícones da música mundial era impossível não ser este o meu Clássico Intemporal Internacional em destaque. O poeta, e cantor, canadiano faleceu na noite de 7 de Novembro após uma queda ocorrida a meio da noite, apanhando tudo e todos de surpresa.

Apesar dos 82 anos de vida tinha acabado de lançar o álbum “You Want It Darker” e planeava uma digressão norte-americana e uma outra europeia para muito em breve. Embora tenha editado largas dezenas de discos, que venderam muitos milhões de cópias, para muito boa gente será para sempre recordado por apenas um tema: “Hallelujah”.

É precisamente com a sua brilhante interpretação da tão famosa canção que o Ideias e Opiniões se despede de Cohen. Até sempre gentil e talentoso poeta, tu que foste uma das maiores vozes do teu tempo e que pautaste a tua existência pela sabedoria com que escolhias as palavras que dizias, escrevias e cantavas.

O nosso compromisso é este: todos os meses trazer-lhe boa música, de vários géneros diferentes, de artistas diferentes, dando a conhecer quer novos talentos, quer músicas novas de artistas já consagrados. Esperemos que goste deste conceito e desta novidade que o Ideias e Opiniões tem para si!

Esperemos que tenha apreciado as nossas sugestões e aproveite para cantar e dançar ao som destas e de outras músicas. Nós cá estaremos todos os meses para lhe mostrar o que de bom se anda a fazer cá dentro e lá fora.

Até para o mês que vem!
Bruno Neves e Vasco Wilton