Um festival de idiotices…

No passado fim-de-semana, perdi o amor aos euros e decidi embarcar numa alucinante viagem de pura nostalgia até aos idos tempos de adolescência… Não comecem já a imaginar parvoíces, que eu fui o tipo de adolescente bastante sério. Não comecem já a pensar que decidi voltar aos tempos em que o meu ser funcionava tal e qual um morcego – dormia de dia, e à noite ia para o forrobodó (e ainda dava umas «trincas» em alguns pescoços femininos…). O que eu decidi fazer foi muito simples: fui ver o concerto dos grandes Silence 4, ao MEO Arena.

Tudo estava reunido para umas horas de pura reminiscência, de idas memórias que alimentam a minha adolescência. Confesso que estava preparado para embarcar nesta viagem alucinante, mas algo tinha de correr mal – não me chamasse eu Ricardo Espada, e não tivesse uma espécie de íman que atrai tudo o que são azares ou más ideias… (Ou gente parva!)

E agora os leitores desta crónica interrogam-se com o que poderá ter acontecido… «Do que será que ele está a falar? Será que aconteceu algo grave? Será que foi raptado por alienígenas antes de chegar ao MEO Arena? Será que tropeçou na escadaria e esbardalhou-se ao comprido, com as pessoas todas a olharem para ele a rirem-se que nem uns perdidos? Será que ele perdeu os bilhetes e acabou por não conseguir entrar e, por conseguinte, não conseguir ver o concerto dos Silence 4? Será que foi assaltado por um anão que lhe deu um pontapé nas canelas, e levou-lhe o telemóvel, carteira e os bilhetes? Será que teve um furo no carro a caminho de Lisboa, e constatou que alguém lhe tinha assaltado o carro e levado o pneu sobresselente e, por essa mesma razão, não conseguiu chegar a tempo de ver o concerto dos Silence 4?»

Porra, que vocês possuem cá uma imaginação de tal maneira fértil, que até arrepia-se-me os pêlos das costas. Tenham lá calma, que não aconteceu nada disso que vocês estão para aí a matutar… Eu só queria partilhar com o vasto auditório de leitores que esta crónica possui (certa de três, em que dois são a minha mãe e irmã…), algumas observações acerca do que se passou durante o concerto. Ou, aliás, sobre o que normalmente se sucede em concertos.

Porque um concerto não poderia ser apenas um simples espaço de divertimento e esquecimento das agruras da vida, eis que existem sempre alguns absolutos idiotas que parecem fazer tudo por tudo para estragar o concerto a quem pagou o bilhetinho (com uma pontada enorme na espinha, assim que se desembolsa a notinha…) para assistir ao concerto.

Falo dos idiotas com a mania das filmagens. Não existe uma alminha que não decida passar o concerto inteiro a gravar vídeos, para depois os colocar no Youtube com o absurdo intuito de mostrar ao mundo que estiveram presentes no concerto. Por causa destes pseudo-realizadores, uma pessoa é obrigada a assistir ao concerto através dos telemóveis que se encontram à nossa frente, a cerca de 30 centímetros por cima da cabeça da besta que está a gravar o concerto.

Mas a quantidade de idiotices que acontecem durante um concerto, não fica por aqui. Era o ficavas! Então e os idiotas que acham – por alma de nossa senhora, com toda a certeza… – que cantam melhor que o próprio vocalista da banda que está em palco, e desatam aos berros ao nosso lado? A dada altura, a voz começa a entranhar-nos nos ouvidos, subindo para o cérebro, fazendo-nos sentir que o nosso cérebro se está a desintegrar aos poucos, e poucos… e poucos… e poucos… É doloroso demais!

E mais! E as bestas que, lamentavelmente, pensam que estão em pleno Antárctico, e que, para não sofrerem de hipotermia, decidem  literalmente encostar-se a nós, deixando um espaço enorme à sua frente? Como se durante um concerto, não fizesse calor suficiente… Mas que parvoíce vem a ser esta? A esta cambada, só me dá vontade de levar um alfinete para o concerto e, de cada vez que se achegam a mim, afincar-lhes uma alfinetada nas nalgas, que até assobiavam! Era o que mereciam – pior era se gostavam da ideia, e ainda se chegassem mais…

Mas calma, que ainda não terminei. Alguém me explique como é que eu tenho um metro e oitenta e cinco de altura, e existe sempre alguém mais alto do que eu? Como é que, no meio de 18 mil pessoas que enchiam o MEO Arena, é possível calhar à minha frente um raça de um gigantão? Quais são as probabilidades de isto acontecer? Eu digo quais são: SÃO ASTRONÓMICAS! E de quem é que é a culpa de isto se suceder? É das pessoas que organizam estes concertos! Assim como os polícias que costumam dispor tudo em degradê – aquando de uma apreensão de vários objectos de contrabando –, num concerto deveria existir o mesmo tipo de organização, mas para o tamanho das pessoas. Era colocar os mais altos atrás, e os mais piquenos à frente. Assim ninguém se chateava, e todos viam o concerto sossegadamente… Ou não, visto que para todos os gigantões míopes, seria como ver uma agulha num palheiro…

Agora vou indo, que tenho de ir para um concerto. E com base na minha experiência pessoal, vou equipado com um mini-escadote, uma fisga para atirar umas pedrinhas aos telemóveis que se encontram à minha frente – impedindo-me de ver o concerto em condições –, e uma caixa cheia de alfinetes! Agora quero ver quem é que me vai impedir de ver o concerto em condições! (Provavelmente, os seguranças… Que me impedirão de entrar com um mini-escadote na mão… Enfim, mas tenho de arriscar porque, lá está: quem não arrisca, não petisca…)

Até para a semana, malta catita…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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