70 Factos Que Desconhece Sobre O Mundial de Futebol

Ora cá estamos nós novamente em ano de Mundial de Futebol, não é verdade? Como quem não quer a coisa passaram quatro anos e, quase sem darmos por isso, chega a maior competição de futebol do mundo. Quantas vezes não somos apanhados desprevenidos na torrente de informação sobre seleções, jogadores, treinadores, comentadores, estatísticas e afins?

Ora, para garantir que sabe sempre o essencial, não ficando fora de nenhuma conversa neste mês tão importante das nossas vidas, o Ideias e Opiniões traz “A” crónica que faltava. Aqui vai encontrar 70 factos que apostamos que desconhece sobre o Mundial de Futebol. Todos os factos são reais, sendo a ordem cronológica.

Preparados para esta autêntica viagem pela história do futebol?

 

#1 – Com pouco mais de um ano para preparar o primeiro Mundial de Futebol (1930), a realizar em solo uruguaio, Jules Rimet (Presidente da FIFA) decidiu que não existira qualquer qualificação, sendo as seleções convidadas a participar na prova. A esmagadora maioria dos convidados declinou o convite, torcendo o nariz ao facto de terem de atravessar o Atlântico para participar num evento futebolístico quando o mundo estava mergulhado numa grave crise económica.

#2 – Em francês se escreveu o primeiro golo da competição. A 13 de Julho de 1930 o jogo inaugural veria o 1-0 acontecer aos 19 minutos de jogo. O marcador? Lucien Laurent. Não tão feliz, mas igualmente histórica, foi a primeira lesão. Por coincidência também ela aconteceu a um jogador francês. O guarda-redes Thepot tornou-se assim no primeiro jogador de sempre a sair do relvado por lesão, prejudicando gravemente o seu país.

#3 – O Roménia vs Peru, desta mesma competição, tornou-se num jogo histórico mas…por maus motivos. É que este seria o jogo com menos espectadores de sempre! Conseguem imaginar quantos? Não conseguem não. É que acredito que nem nas vossas piores estimativas falassem em apenas…300 pessoas!

#4 – Continuemos a falar da Roménia, até porque esta é uma curiosidade das boas! O então dono do trono da Roménia, o Rei Carol, decidiu chamar a si a responsabilidade não só de escolher os jogadores (a quem prometeu que o seu posto de trabalho se manteria após o regresso ao Uruguai…rico amigo, hein?), como ainda de, imaginem só, de os orientar em campo! O Rei romeno fez então questão de viajar com os súbditos/atletas para a América do Sul e…nem fez má figura! Conseguiu um interessante sétimo lugar, ficando assim à frente de potências como Bélgica ou França.

Seleção do Uruguai em 1930

#5 – Entre os convocados da seleção do Uruguai vamos encontrar mais uma curiosidade. É que Héctor Castro ficou célebre pelo que demonstrou em campo mas, acima de tudo, por…não ter a mão direita! O preconceito talvez vos leve a pensar que não era bom jogador…mas enganam-se redondamente: conseguia jogar em qualquer posição ofensiva, sendo sempre sinónimo de atrevimento, velocidade e entrega! Aliás, ele ficaria célebre por marcar o último golo do primeiro Mundial de sempre. Era conhecido como El Manco ou El Divino Manco, devido à sua condição claro. Já agora, curiosidade extra: viria a ser treinador e, muitos anos mais tarde, ao falecer, tornou-se o primeiro ex-jogador do Club Nacional de Football a ser velado na sede do clube.

#6 – Quatro anos depois coube a Itália organizar a segunda edição do torneio. Ora à desconfiança das seleções europeias em 1930 seguiu-se….pagamento em igual moeda quatro anos depois por parte dos países sul-americanos. O Uruguai recusou defender o título conquistado em casa (sendo esta a primeira, e única vez, que tal aconteceu), e o Paraguai, o Chile, o Perú e a Bolívia também não quiseram enviar as respetivas representações.

#7 – Contudo desta vez houve lugar a uma qualificação! O Egipto conseguiu chegar aos 16 finalistas depois de ter ganho à Palestina nos dois jogos da eliminatória. E, apesar de ter sido eliminada logo na primeira fase, ainda foi a tempo de fazer história – Abdel Fawzi marcou o primeiro golo africano de sempre num mundial. Tudo aconteceu aos 26 minutos da derrota por 4-2 frente à Hungria (sendo também da sua autoria o segundo golo africano, a 27 de Maio de 1934, em Nápoles).

#8 – O Alemanha vs Áustria (jogo que viria a decidir o 3º e 4º classificado), ficou marcado por um episódio caricato. Quando subiram ao relvado perceberam que…ambas vestiam equipamentos da mesma cor: totalmente brancos! Depois de uns minutos de impasse lá se arranjou uma solução – a Áustria vestiu uns coletes azuis, habitualmente destinados aos treinos do Nápoles, clube detentor do estádio onde se realizou a partida.

#9 – Ao nono facto chegamos a 1938 e ao Mundial de Futebol de França. Contudo, esta ainda não foi a competição ideal: a Espanha recusou participar (relembre-se que estava em plena Guerra Civil: 1936 – 1939), a Inglaterra continuava a recusar estar presente e os sul-americanos Argentina e Uruguai também não participaram.

#10 – Numa situação ligeiramente diferente estava a Áustria. Por ter sido invadida pelas tropas nazis, estando assim sob o comando de Adolf Hitler, a Áustria não foi por este autorizada a apresentar-se no Mundial de Futebol. Rimet, ainda Presidente da FIFA, acabou por autorizar a Alemanha a incorporar na sua seleção…alguns dos melhores jogadores austríacos!

Seleção das Indias Orientais Holandesas, ou melhor…Indonésia

#11 – Temos um outro facto sobre as seleções presentes neste Mundial. É que pela primeira vez um país asiático marcou presença na competição! As Índias Orientais Holandesas (hoje conhecidas como…Indonésia) foram convidadas a participar pela FIFA, não tendo por isso disputado quaisquer eliminatórias. Conseguiu ainda ser a única seleção por entre todas as que alguma vez participaram num Mundial a….jogar apenas um jogo. Foi frente à Hungria e perderam por uns claríssimos 6-0. Em jeito de bónus (que eu estou a sentir que têm curiosidade sobre esta seleção!) digo-vos ainda que a primeira partida internacional aconteceu apenas quatro anos antes (numa derrota por 3-2 frente às Filipinas) e que até hoje nunca mais voltou a participar num Mundial de Futebol.

#12 – O Brasil vs Checoslováquia, a contar para os quartos-de-final, imortalizou o nome de Frantisek Planicka, guarda-redes da seleção do leste da Europa. Porquê? Porque a dado momento desse mesmo jogo Planicka partiu o braço. Ora, quando todos esperavam que a Checoslováquia ficasse a jogar com dez e um jogador de campo na baliza (sim, porque nesta época as substituições ainda não eram permitidas…), o guardião decidiu aguentar estoicamente as dores e….manter-se em campo até ao final do jogo! Mesmo debilitado efetuou várias defesas espantosas, salvando por diversas vezes a sua equipa. O resultado final foi, assim, um estrondoso empate a uma bola, o que obrigou a um jogo de repetição (era assim que se desempatavam eliminatórias em 1938…), no qual o Brasil venceria por 2-1.

#13 – Ainda nesse mesmo ano é impossível não falar de Cuba. Ou melhor, do guarda-redes titular de Cuba – Caravajales. Graças à sua exibição conseguiu forçar a Roménia a um jogo de repetição para decidir quem passava aos quartos-de-final do Mundial. Contudo, nessa partida foi Ayra, habitual suplente, a ser titular. Estaria Caravajales lesionado? Hum…não. A razão é uma das mais inacreditáveis de sempre: o guardião foi convidado por uma rádio nacional cubana para comentar o jogo e…abdicou de jogar para ir para a bancada servir de comentador. Mesmo sem uma das suas estrelas Cuba levou a melhor vencendo a Roménia por 2-1.

#14 – A II Guerra Mundial obrigou a FIFA a suspender o Mundial de Futebol durante doze anos, cabendo assim ao Brasil receber o regresso da competição em 1950 (dado que, por motivos óbvios, era impossível qualquer país europeu receber o Mundial). Mas, mais uma vez, as ausências foram mais que muitas. Para começar as duas “Alemanhas” (RDA e RFA) foram banidas pela FIFA. Depois um extenso lote composto por Áustria, Escócia, Bélgica, Birmânia, Perú, Equador, Filipinas, Turquia, Hungria, Polónia, Roménia e a Checoslováquia não conseguiram custear o envio de uma seleção para a América do Sul. Mas houve ainda mais duas recusas: A Argentina, devido a problemas com a Confederação Brasileira de Futebol, e a Índia porque…não lhe foi dada autorização para os seus jogadores entrarem em campo descalços! Perante tanta confusão a FIFA tentou repescar Portugal e França mas ambos os países recusaram por motivos económicos, levando a que o Mundial se disputasse apenas com treze selecções.

#15 – Dadas todas estas condicionantes a FIFA resolveu mudar as regras da competição, passando a mesma a ser jogada por grupos do início ao fim. Ou seja, isto equivale a dizer que pela primeira, e única, vez o campeão foi decidido não numa final mas sim por pontos, num “grupo final”, em que todos jogavam contra todos.

#16 – O jogo que decidiu o Campeão do Mundo foi entre Brasil e Uruguai, sendo que ao anfitrião da prova bastava um empate para poder fazer a festa. Um episódio caricato marcou essa partida. Obdulio Varela, capitão Uruguaio e figura maior da prova, fez questão de guardar a bola do encontro. Contudo tal não era permitido, o que levou a que tivesse de…enganar o árbitro. Ora quando o inglês George Reader lhe foi pedir o esférico, pois sabia que este o tinha escondido, Varela mostrou-lhe três bolas diferentes dizendo-lhe para escolher a certa. Reader escolheu aquela que lhe pareceu mais gasta mas…enganou-se, permitindo assim que Varela ficasse mesmo com a bola da segunda vitória do Uruguai no Mundial de Futebol!

#17 – Chegamos assim a 1954 e ao Mundial organizado pela Suíça! E este iria tornar-se num Mundial tecnológico (pelo menos tanto quanto possível para 1954, ok?). Esta foi a primeira vez que a competição foi transmitida na…televisão! Sim, na televisão, estando nós a falar dos anos 50 o que achavam que ia sair daqui? Bom, adiante: numa época em que o ecrã mágico consolidava a presença nos quatro cantos do planeta a Cerimónia de Abertura, assim como o jogo inaugural entre Uruguai e Checoslováquia, mereceram honras de transmissão televisa, um privilégio para a altura!

#18 – É inevitável falar do Brasil e não dizer “a canarinha”, certo? E por acaso sabem quando nasceu essa alcunha? Adivinharam: foi no Mundial de 1954! Ora, depois do desastre de 1950 os brasileiros decidiram implementar algumas mudanças, nomeadamente a passagem dos equipamentos de azul e branco para azul e amarelo. O jornalista Geraldo José de Almeida, ao apelidar o Brasil  de “equipa canarinha” numa crónica sua encarregou-se do resto.

#19 – A Hungria revolucionou o futebol da época através do sistema tático utilizado, onde os atacantes não tinham uma posição fixa e deambulavam por toda a frente de ataque mas…não só. É que antes das partidas os húngaros eram os únicos a fazer algo bastante incomum na época. O quê? Simples: o aquecimento!

Fotografia do Brasil de Pelé no Mundial de 1958

#20 – Quatro anos mais tarde foi a vez da Suécia receber o Mundial de Futebol. E muita história se fez nesta competição! Este foi o Mundial de Pelé. Foi o Mundial do Brasil. E, acima de tudo, foi o Mundial da televisão. O mundo passou a acompanhar todos os pormenores em direto, com várias transmissões a serem efetuadas pela primeira vez, em tempo real, para diversas partes do mundo. Este foi ainda o Mundial em que o formato competitivo estabilizou, entrando em cena a então URSS e regressando a super potência da Argentina.

#21 – O Brasil vs Inglaterra, a contar para a segunda jornada do Grupo 4, não só foi o primeiro jogo de uma fase final a terminar sem qualquer golo como contou ainda com um episódio bem caricato. A meio do jogo, depois de ter falhado uma ocasião clara de golo, o avançado brasileiro Mazzola teve…um ataque de nervos! De forma completamente inesperada o ponta-de-lança começou a espernear e a chorar compulsivamente, deixando todos num misto de surpresa e medo. Como se solucionou a questão? Simples: à antiga! O capitão de equipa do Brasil, Bellini, deu uma bofetada de tal envergadura a Mazzola que este voltou imediatamente ao normal!

#22 – Voltemos a falar de Pelé e do Brasil. É que foi por mero acaso do destino que o, então, prodígio vestiu a camisola 10 no Suécia ’58. Os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol tinham-se esquecido de enviar para a FIFA a listagem oficial dos números dos seus convocados. Qual foi a solução? Dar a numeração de forma aleatória. Quis então o destino que o futuro astro ficasse com a, hoje eterna, camisola 10.

#23 – Ao vencer a competição Bellini, capitão do Brasil, fez também ele história: tornou-se no primeiro a erguer a taça com as duas mãos acima da cabeça. O festejo tornou-se icónico e hoje não pode faltar na festa de qualquer grande competição, mas poucos saberão que nasceu em 1958 a pedido dos jornalistas de então.

#24 – A Irlanda do Norte quase não participou nesta edição do Mundial! Tudo porque a religião anglicana proibia atividades físicas aos Domingos, um dos dias a que se realizavam jogos na competição. Foi então necessário que o clero local emitisse uma autorização oficial, permitindo assim a participação dos jogadores.

#25 – De repente já estamos em 1962, ano da próxima edição do Mundial, e no Chile. Começamos já com polémica, e da boa. É que se hoje em dia ter um jogador naturalizado dá no que dá, imaginem só o que não seria se fosse possível…representar duas seleções diferentes! Parece anedótico mas aconteceram diversas mudanças de nacionalidade. O mítico Puskas alinhou pelas cores da Espanha (apesar de ter nascido, e representado em 1954, a Hungria). O uruguaio Santamaria, que entretanto se havia transferido para o Real Madrid, passa a representar também ele a Espanha. E por fim Mazzola (de quem já aqui falámos nesta crónica) trocou o Brasil pela…Itália!

#26 – Sempre ouvimos dizer que a justiça pode tardar, mas não falha. E um exemplo disso é o jugoslavo Jerkovic. Porquê? Porque apenas vinte e oito anos depois viu ser-lhe reconhecido o devido mérito. Apenas em 1990 é que a FIFA o reconheceu como o melhor marcador do Chile ’62. Isto porque durante a prova um dos seus golos havia sido atribuído ao companheiro Galic: o primeiro na vitória por 5-0 frente à Colômbia, na derradeira jornada do Grupo 1. Ora esse tento transformava um grupo de jogadores (Garrincha, Vavá, Albert, Ivanov, Sanchez e claro o próprio Jerkovic) nos melhores marcadores, todos eles com quatro golos. Foram precisas quase três décadas mas o que interessa é que se fez justiça!

#27 – Assim chegamos ao Inglaterra ’66 e a uma das histórias mais incríveis de sempre: o escândalo do roubo da taça que Jules Rimet mandara fazer aquando o Mundial de 1930. A preciosidade desapareceu do local onde estava exposta, no centro de Londres, e durante dias a polícia local tentou a todo o custo apanhar-lhe o rasto, mas sem sucesso. Até que sete dias após o roubo uma cadela (de seu nome Pickles) acabou por encontrar a taça! O troféu estava embrulhado em jornais, debaixo de uma árvore, numa zona sombria dos subúrbios londrinos. Quem lucrou com este achado foi o dono do animal, que arrecadou a recompensa de cinco mil libras prevista para o responsável pela resolução do mistério.

#28 – Ora se a edição de 1954 ficou marcada pelo advento da televisão o Inglaterra ’66 revelaria importantes avanços técnicos na cobertura televisiva. É que este foi o ano em que as primeiras imagens a cores chegaram a todo o mundo! Outra das novidades passou também pelo aparecimento do vídeo, e das primeiras máquinas de replay, o que permitiu a transmissão de repetições das jogadas!

#29 – E na lista de curiosidades está novamente o Brasil, como não podia deixar de ser. Ora, na preparação para o Mundial um dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) achou que existiam poucos jogadores do mítico clube Corinthians sugerindo convocar o defesa Ditão. Contudo, na hora de datilografar os nomes de batismo a secretária enganou-se e escreveu o nome completo de outro Ditão, um jogador do Flamengo. Com medo de cair no ridículo a CBF…não desfez o mal-entendido e Ditão, o do Flamengo, lá foi convocado por engano.

#30 – O Mundial de Futebol de 1970 realizou-se no México e ficou marcado por mais duas alterações nas regras: pela primeira vez a FIFA permitiu a realização de substituições no decorrer dos encontros (duas no máximo) e começaram a ser mostrados cartões amarelos! Coube ao selecionador da URSS, Gavril Katchalin, estrear a possibilidade no decorrer do intervalo do jogo de abertura (frente ao México, obviamente), trocando Serebrjanikov por Pusach. Para a posterioridade fica também o facto do primeiro jogador amarelado ter sido…precisamente soviético, no empate a zero frente ao anfitrião. Evgeny Lovchev fez uma falta maldosa e o árbitro não deixou de utilizar a regra recentemente aprovada.

#31 – Mesmo tendo em conta a propensão de alguns brasileiros para baptizarem os filhos com nomes estranhos, o que se segue é um autêntico achado no que à originalidade diz respeito: Tospericargerja. Parece inventado, mas juro que é real! Este foi o nome que um índio da Amazónia resolveu dar ao seu descendente como tributo à canarinha, campeã do mundo em 1970. Ou seja, Tospericargerja é o resultado da junção das primeiras sílabas relativas aos nomes dos seis maiores craques brasileiros da Copa do México: Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gérson e Jairzinho.

#32 – Disputava-se o playoff intercontinental da fase de apuramento para o Mundial da RFA, de 1974, entre o Chile e a União Soviética, quando a 21 de Novembro de 1973 o Estádio Nacional de Santiago presenciou uma das mais insólitas partidas da história do futebol. Tinham passado pouco mais de dois meses desde que o golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet derrubara o governo socialista democraticamente eleito, de Salvador Allende. A resposta dos soviéticos, em plena Guerra Fria, foi a recusa em viajar para o Chile e jogar naquele que apelidaram de “estádio da morte”. No entanto os sul-americanos apareceram para disputar a segunda mão, após um empate a zero em Moscovo, e o “jogo fantasma” aconteceu mesmo. Os chilenos deram o pontapé de saída e avançaram para a baliza contrária, deserta, marcando um golo, simbólico, que foi seguido do apito final. A encenação não era mais que o sinónimo da derrota da União Soviética, por falta de comparência. Por sua vez a seleção chilena “carimbou o passaporte” para o Mundial da Alemanha, no ano seguinte.

#33 – O Uruguai resolveu realizar a preparação para o torneio alemão na Indonésia e na Austrália. Neste último país os dirigentes da comitiva decidiram ficar dois dias para além do inicialmente previsto. Em boa hora adiaram a partida para Munique uma vez que o avião onde iriam viajar antes da alteração de planos…acabou por se despenhar, ceifando a vida a todos os 107 passageiros que nele seguiam! É caso para dizer: há horas de sorte!

#34 – O golo mil é sempre um momento marcante de qualquer competição, principalmente quando estamos a falar da “mãe” de todas as provas de futebol. Tudo aconteceu no Mundial de 1978, na Argentina. Essa honra coube ao holandês Rob Rensenbrink, a 11 de Junho de 1978, ao converter uma das quatro grandes penalidades assinaladas no jogo frente à Escócia, que terminou com a vitória dos britânicos por 3-2.

#35 – Na viagem entre Buenos Aires (onde tinha defrontado a anfitriã Argentina na segunda jornada) e Mar del Plata (onde encontrava a Hungria), em jogo a contar para o Grupo 1 da primeira fase, os equipamentos da França desapareceram. Assim sendo não restou outra alternativa senão recorrer aos uniformes de uma equipa amadora daquela localidade argentina. Resultado? Os bleus, precisamente assim denominados devido à cor das suas camisolas, defrontaram a Hungria de verde-e-branco. Mas não estranharam as novas vestes, uma vez que esse foi precisamente o único jogo da prova que os gauleses venceram.

Willy e René van der Kerkhof fariam história lado a lado com a camisola da seleção holandesa no Mundial de 1978

#36 – Pela primeira vez na história do Mundial de Futebol dois irmãos gémeos jogaram lado a lado! Aconteceu entre os selecionados da Holanda: Willy e René van der Kerkhof. Curiosamente, em 1994 e 1998 tal proeza viria a repetir-se com os irmãos gémeos Frank e Ronald de Boer!

#37 – A presença da Holanda na final frente à Argentina chegou a estar comprometida, e tudo por causa de uma…ligadura. O italiano Sérgio Gonella, árbitro do encontro, não autorizou o holandês René van der Kerkhof (onde é que já ouvimos este nome?) a entrar em campo com a ligadura que tinha no pulso direito, recomendação que quase valeu a recusa dos representantes do “país das tulipas” em actuar. Só depois de intensas diligências junto dos jogadores “laranjas” é que foi possível convencê-los a jogar, sendo que, logo após o apito final (acreditando que foram prejudicados pelo juiz transalpino) abandonaram as quatro linhas sem sequer esperar pela coroação dos argentinos como Campeões do Mundo.

#38 – Tempo para chegarmos ao Mundial de Futebol de 1982, organizado pela nossa vizinha Espanha. E, no França vs Kuwait aconteceu um dos episódios mais bizarros de sempre. Senão vejamos: a formação europeia venceu por 4-1 e após um dos últimos golos gauleses, o Xeque Fahid Al-Sabah (que acumulava também o cargo da Federação do Kuwait) resolveu…deixar a tribuna onde se encontrava a assistir. Para onde terá ele ido? Para o relvado. Basicamente invadiu a partida e mandou os seus jogadores abandonar o terreno de jogo. Tudo porque considerava que o referido tento francês havia sido apontado de forma ilegal. Gerou-se, obviamente, uma grande confusão que só ficou resolvida após o árbitro sobiético Miroslav Stupar ter…anulado o golo (que, já agora, era mesmo legal) à França. Tal atitude acabaria por sair cara ao juiz da partida – a FIFA exclui-o nesse mesmo dia do torneio.

#39 – Por esta altura já os Campeonatos do Mundo tinham no currículo jogos recheados de golos e alguns deles com verdadeiras “cabazadas”, mas nunca uma como a que a Hungria infligiu a uma muito macia seleção de El Salvador. Nada mais, nada menos, do que um histórico 10-1, de tal forma que nunca mais se registou outra derrota por tais números.

#40 – O empate sem golos entre a Irlanda do Norte e a Jugoslávia escreveu uma página de história do Mundial de Futebol. Norman Whiteside, jogador norte-irlandês, foi lançado nesse desafio quando tinha apenas 17 anos e 42 dias tornando-se assim no jogador mais jovem de sempre a disputar uma partida do campeonato do mundo. Em oposição este foi também o Mundial em que Dino Zoff, mítico guarda-redes italiano, se sagrou o mais velho jogador campeão do mundo, com 40 anos e 133 dias (mais do dobro da idade de Whiteside).

#41 – O México ’86 esteve para ser o Colômbia ’86 e, só não o foi porque o governo colombiano recusou-se a aceitar as pretensões da federação do seu país e da FIFA, afirmando não ter verba suficiente para suportar a organização de um evento de tal envergadura. RFA, Espanha e Holanda e Bélgica (numa candidatura conjunta) estavam prontas para receber a competição, contudo a FIFA quis manter a tradição de intercalar a realização de um Mundial em solo europeu com outro organizado por um país de fora do Velho Continente. Surgiram então o Brasil, os EUA e o México, pendendo a balança para o país da América Central que assim se tornou no primeiro país a organizar dois mundiais.

#42 – Quase que nem valeu a pena ao uruguaio José Baptista ter-se equipado para jogar frente à Escócia, na última jornada do Grupo 5 (primeira fase). Com os ponteiros do cronómetro do árbitro a contarem apenas 55 segundos, o sul-americano teve uma entrada descabida sobre um adversário e…recebeu ordem de expulsão. Ainda assim o Uruguai aguentou-se bem a jogar só com dez: empatou a zero e acompanhou a RFA rumo aos oitavos-de-final.

Preben Elkjaer-Larsen tornou-se numa das figuras do Mundial de 1986

#43 – Uma das principais sensações da primeira fase foi a Dinamarca. Os escandinavos, que derrotaram a Escócia (1-0), o Uruguai (6-1) e a RFA (2-0), tinham como principal estrela Preben Elkjaer-Larsen. Até aqui nada de estranho, não fosse o facto deste jogador…fumar mais de 30 cigarros por dia!

#44 – As convulsões políticas na Europa do final da década de 80 permitiram que inúmeros países corressem, de uma vez por todas, a “cortina de ferro” que os separava do mundo ocidental. Assim, pela última vez, a República Federal da Alemanha participou separadamente da República Democrática Alemã. Poucos meses depois do Itália ’90, Berlim assistiu à queda do Muro e à unificação dos dois países. A Checoslováquia foi dividida, logo depois, na República Checa e na Eslováquia, enquanto a Jugoslávia se dissolveu em cinco nações: Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Macedónia e Sérvia e Montenegro. A União Soviética acabou também ela por ser dividida em quinze Estados.

#45 – O Itália ’90 marcou a despedida de uma das regras que mais contribuíram para o futebol pouco espetacular que se vivia neste período. Pela última vez os guarda-redes tiveram a permissão de agarrar o esférico quando o mesmo vinha dos pés de alguns dos companheiros de equipa.

#46 – A meia-final entre a RFA e a Inglaterra, que os alemães venceram no desempate por grandes penalidades, (garantido assim a presença na sua sexta final), levou Gary Lineker a proferir um desabafo que ficou famoso na história do futebol: “O futebol é simples, são 22 homens a correr atrás de uma bola e, no final, vencem os alemães”.

#47 – O argentino Diego Armando Maradona voltou a usar a “mão de Deus”. Só que, desta vez, não foi para fazer um golo. Com a mão, ele impediu um golo na partida contra a URSS. O árbitro, outra vez, nada viu. Que sorte, hein?!

#48 – Não foi rápida a viagem até 1994 e ao Mundial de Futebol dos Estados Unidos da América (EUA)? Bom, por falar em Mundial: se houve um jogador talhado para atuar em Mundiais esse homem foi Roger Milla. O ponta-de-lança dos Camarões, que brilhou em 1990, chegou ao Campeonato do Mundo dos EUA com 42 anos e, apesar da pobre participação do seu país acabou por entrar para o Livro dos Recordes do Guiness. Na despedida dos palcos do futebol internacional actuou como suplente nos jogos frente ao Brasil e à URSS. Nesta segunda presença apontou um golo que o tornou no mais velho jogador de sempre a marcar em Mundiais, com 42 anos e 38 dias.

Pagliuca ficaria na história do Mundial de 1994, mas por maus motivos

#49 – Entre os mais de 114 jogadores expulsos em todas as edições do Mundial apenas houve um guarda-redes. Foi ele o italiano Gianluca Pagliuca, que viu o cartão vermelho no jogo frente à Noruega, a contar para o Grupo E, por ter derrubado fora da área um adversário que seguia para a baliza.

#50 – Brasil e Itália disputariam a final do Mundial e…fizeram história. É que pela primeira vez o título foi decidido…nos penáltis! Os brasileiros foram melhores, ficando o placard em 3-2.

#51 – Com a conquista de 1994, o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo tornou-se o único homem a vencer o Mundial em quatro oportunidades. Em 1958 e 1962, ele ganhou como jogador. Em 1970, Zagallo foi o técnico campeão. Em 1994, triunfou como coordenador técnico. Isto sim é um verdadeiro Campeão Mundial!

#52 – E assim chegamos a 1998 e ao Mundial organizado pela França. E começamos por falar, precisamente, da seleção francesa. É que foi uma seleção multicultural aquela que deu à anfitriã o seu único título Mundial. Dos 23 convocados 12 eram de origem estrangeira. Havia Zinedine Zidane (filho de emigrantes argelinos), Djorkaeff e Boghossia (de origem arménia), Patrick Vieira (descendente de cabo-verdianos), Robert Pires (filho de pai português e mãe espanhola), David Trezeguet (que cresceu na Argentina) e Marcel Desailly (nascido no Gana), entre outros!

#53 – Por incrível que pareça foi uma questão de estilo capilar que jogadores como o médio Fernando Redondo ou o avançado Claudio Caniggia não foram convocados para o França 98’. Tudo porque o selecionador argentino Daniel Passarela (que, para quem não sabe, era o capitão dos campeões do mundo de 1978!) definiu regras muito rígidas quanto aos cortes de cabelo dos jogadores argentinos: nada de cabelos compridos. E tanto assim foi que o ponta-de-lança Gabriel Batistuta até trocou a longa cabeleira por algo…mais curto.

#54 – Anteriormente já alguns atletas haviam representado duas seleções diferentes. Contudo com a alteração da legislação essas situações foram proibidas (a não ser que algum contexto político muito particular originasse a divisão/unificação de vários Estados). Devido à guerra civil na antiga Jugoslávia, Robert Prosinecki passou a representar a jovem Croácia. Ora, em 1990, Prosinecki marcou um golo no Mundial e em 1998, já com a camisola croata repetiria o feito, apesar de ser médio-centro. Com este golo conseguiu fazer história: tornou-se no primeiro homem a marcar um golo em dois mundiais por dois países distintos!

#55 – O dinamarquês Ebbe Sand foi o autor do golo mais rápido de um suplente na história dos Mundiais! O atacante apenas precisou de 16 segundos (!) após entrar em campo para marcar um golo na vitória por 4-1 frente à Nigéria!

#56 – O primeiro Mundial do século XXI foi organizado por Japão e Coreia do Sul em 2002 e esteve recheado de novidades, algumas delas ilustrativas daquilo que a FIFA pretendia fazer em termos sociais. O melhor exemplo terá sido a proibição total de fumar nas bancadas de todos os estádios que serviram o torneio. A FIFA recomendou também que os treinadores evitassem puxar do cigarro durante os jogos e pediu a todas as televisões que não transmitissem qualquer imagem de algum dos intervenientes nos jogos a fumar.

#57 – No encontro de atribuição dos 3º e 4º lugares, o turco Hakan Sukur tornou-se no autor do golo mais madrugador na história dos Mundiais. Passavam somente onze segundos desde o início do jogo entre a Turquia e a Coreia do Sul, quando o ponta-de-lança bateu o guarda-redes Lee Won-Jae numa partida que viria a ser vencida por 3-2 pela seleção europeia.

Bora Milutinovic disputou cinco Mundiais consecutivos por cinco seleções diferentes

#58 – O treinador sérvio Bora Milutinovic disputou aqui o seu quinto Mundial consecutivo pela quinta seleção diferente – México, Costa Rica, EUA, Nigéria e China! Ao longo dos anos defrontou o Brasil por três vezes (uma pela Costa Rica, outra pelos Estados Unidos da América e a última pela China) e…perdeu todas.

#59 – Diz o ditado que a vingança serve-se fria. E o clube italiano Perugia que o diga. É que depois do jogador sul-coreano Ahn Jung-Hwan ter ajudado a eliminar a Itália, o clube tomou a decisão de…demitir o jogador.

#60 – Em 2006, seria a Alemanha a receber o Mundial. E um dos momentos mais marcantes aconteceria no Croácia vs Austrália. Nessa partida, pela primeira vez na história, por erro do árbitro inglês Graham Poll, o defesa croata Josip Simunic só foi expulso após levar…três cartões amarelos! O juiz da partida assumiria o erro (até porque nem havia outra hipótese…) dizendo “foi uma falta de atenção minha”. A FIFA não aceitou a desculpa e Graham não atuaria mais nesse Mundial.

#61 – Outro pedaço de história aconteceria na seleção argentina. É que um tal Lionel Messi tornou-se no 5º jogador mais jovem de sempre a marcar num Mundial. Conseguiu o feito com apenas 18 anos e 357 dias, é obra!

#62 – A 15 de Maio de 2004, o mundo ficou a saber que se faria história novamente. Nessa data foi anunciado o país anfitrião do Mundial 2010, o primeiro de sempre em África – a África do Sul!

#63 – Este Mundial marcou o regresso de duas seleções históricas e uma pausa para outra. Honduras e Nova Zelândia voltaram após 28 anos de ausência (a última participação havia acontecido em 1982!). Menos sorte teve a Arábia Saudita: ficou de fora do Mundial pela primeira vez após a sua estreia em 1994!

#64 – Para a história ficou também a quarta vez em que a Alemanha atingiu o 3º lugar no Mundial. Foi o país que mais vezes ficou na terceira posição (em 1934, 1958, 1970, 2006 e 2010) e também o que mais disputou essa colocação. Já a Espanha com a vitória em 2010 ganhou o título pela primeira vez, tornando-se no oitavo país a conquistar um Mundial!

#65 – O Mundial 2014, no Brasil, quebrou um recorde assim que começou. Nunca as redes das balizas tinham balançado tanto na primeira ronda da competição. Ao todo foram marcados 49 golos, numa média de 3,06 golos por jogo, a maior desde 1958!

#66 – Não houve um único empate nos dez primeiros jogos do Mundial 2014! Quem destoou foi o Irão vs Nigéria, que terminou 0 -0. Só no primeiro Mundial da FIFA, em 1930, no Uruguai, este feito foi superado. Aí todos os dezoito jogos da competição tiveram um vencedor!

#67 – Agora um autêntico quatro em um no jogo em que o Brasil viria a ser eliminado pela Alemanha por 7-1, uma goleada histórica. Esta foi a maior derrota de sempre da seleção brasileira no Mundial, foi o jogo com mais golos de uma semifinal do Mundial e ainda o mais desastroso resultado de um país anfitrião. Nota ainda para o quarto golo alemão desse jogo: foi marcado por Miroslav Klose e tornou-se no seu 16º golo num Mundial, um recorde absoluto, ultrapassando…o brasileiro Ronaldo!

#68 – E, finalmente, chegamos a 2018 e ao Mundial da Rússia! Nos convocados do Egito encontramos a primeira curiosidade: o guarda-redes Essam El Hadary tornou-se no jogador mais velho da história do Mundial com 45 anos. Logo atrás dele está o, igualmente, veterano defesa-central mexicano Rafael Márquez, com 39 anos.

#69 – Quem também pode fazer história é Tim Cahill e Cristiano Ronaldo, avançados da Austrália e Portugal, respetivamente. Aos 38 anos o primeiro foi um dos heróis do apuramento contra a Síria ao marcar dois golos, já Cristiano Ronaldo espalhou magia e foi o melhor marcador da nossa fase de apuramento. Caso um deles, ou mesmo os dois, marque pelo menos um golo na Rússia entrará para a história: será o quarto Mundial consecutivo em que fazem balançar as redes adversárias, feito alcançado até hoje apenas por Pelé, Uwe Seeler e Miroslav Klose

Esta é a mascote do Mundial 2018 da Rússia!

#70 – Serão 32 os países a disputar o primeiro Mundial de sempre na Rússia. Da Europa são 14, da Ásia 5, da África 5 e 8 das Américas. O Brasil é o único que disputou todas as edições do Mundial, enquanto Islândia e Panamá se estreiam na competição. Mas dos ausentes também e faz história: Itália, Holanda, Estados Unidos da América ou Chile não se conseguiram apurar para o Mundial 2018, causando espanto entre o mundo do futebol!

 

 

E assim chegámos ao final desta crónica. Antes de terminar queria fazer algumas notas. Primeiro que tudo: se me acompanhou nesta autêntica jornada por todos os Mundiais da história o meu muito obrigado, não é tarefa fácil ler 70 factos seguidos! Segundo: todas as edições do Mundial estão aqui representadas, tenham elas mais ou menos factos interessantes e/ou curiosos para contar.

Terceiro: tentei trazer factos de todo o tipo (dos bizarros aos estatísticos, dos históricos à evolução das regras do futebol), mostrando a diversidade de conteúdo que existe num tema que, aparentemente, quase nada parece ter para contar. Quarto: inicialmente este era para ser um “top 50”, contudo tal tornou-se impossível. Daí até aos 70 foi um passo muito curto, é um facto, mas para tornar tudo mais interessante tentei sempre escapar aos factos mais “fáceis”, aos que “todos” já sabem. Por isso é que não estão aqui pedaços da história do Mundial incontornáveis, não por esquecimento!

Quinto: bom Mundial para todos e que Portugal chegue o mais longe possível. Que Cristiano Ronaldo e companhia voltem a dar uma alegria tão grande quanto a de 2016.

 

Viva Portugal!
Viva o Mundial 2018!