A solidão

Alguém me disse um dia, há algum tempo, que dificilmente eu iria amar ou ser amada por alguém, justificou a sua opinião com a minha intensidade ser intimidante. Talvez estivesse certo. A curta conversa ficou arrumada numa gaveta feliz das minhas memórias, até hoje.

Tenho a mania de acreditar no amor, no amor verdadeiro, pleno, imortal, tenho a mania de acreditar em almas gémeas, no conceito Nada Acontece por Acaso, no andar de mãos dadas, no Até Que a Morte nos Separe, nos votos do coração, mesmo sem anel e sem festa, tenho a mania de acreditar no gostar a valer, na fidelidade, na paixão genuína, no dar tudo por aquele amor e pela pessoa que amamos. As mulheres são ridículas, eu sinto-me ridícula, desejamos e ansiamos viver um amor igual ao que assistimos nos filmes românticos, o nosso amado corre atrás de nós numa noite de chuva e grita para que toda a gente na rua oiça: Não consigo viver sem ti! Apanha o próximo avião com destino a nós, deixando tudo e todos para trás, com a música Take My Breath Away como banda sonora, uma coita amorosa semelhante às Cantigas de Amor que estudamos no secundário. Queremos ser a Julia Roberts em Pretty Woman, a Merly Streep do filme As Pontes de Madison County, a Renée Zellweger em O Diário de Bridget Jones, mas eu sou apenas eu, a Sandra, que sente uma resoluta descrença no amor.

A Sandra terminou um casamento de vinte anos, uma relação em que deu absolutamente tudo de si mesma ( um hábito cruel das mulheres ) alugou uma casa às pressas e dormiu no chão, ficou sem nada, completamente despedaçada por dentro. Quais as razões para um homem causar sofrimento à mulher que gosta? Não faço a mínima ideia e acho que nunca vou saber. A única coisa que eu sei é que agora ando com uma placa que colei na testa, semelhante aos sinais de proibição que estou a aprender nas aulas de código, a minha é Proibido Parar e Estacionar, assim, não permito que nenhum sacana se aproxime e a minha carência vença a melhor. A propósito de carência, um dia destes cheguei mais tarde a casa e o meu filho perguntou-me aonde tinha estado. Fui sair com um tipo que conheci no Tinder, disse eu. Fizeste bem, disse-me ele ironicamente. Sim, fiz, quando o tipo me disse que tinha quatro filhos fugi a sete pés.

Há algo de taciturno na solidão de uma mulher sozinha, mas com o tempo habituas-te ao silêncio da tua casa e à paz no teu coração.