Ai, que fome!

Um dia destes entrou um tipo na minha casa, as gatas ficaram assustadas, coitaditas, não estão habituadas a ver machos por estas bandas, recorri ao diálogo para as acalmar: É só o Técnico de Manutenção do prédio, sosseguem a piriquita, queridas! Enquanto o Técnico fazia a vistoria à casa, eu fazia a vistoria ao Técnico, só para ver se tinha tudo no sítio, atitude normalíssima, suponho, temos de confiar na pessoa que colocamos dentro da nossa casa, mesmo que por escassos minutos. Bonito o gajo, pensei, olhos azuis, cabelo levemente grisalho, talvez tenha a minha idade, sim, está no ponto, marchava, a meio da manhã é sempre uma boa hora. A visita foi rápida, nem deu tempo para reparar se tinha aliança, se bem que, nos dias de hoje ser casado é pouco relevante, conheço alguns tipos casados que são uns foliões, nada contra, oxalá que as esposas também o sejam, assim fica tudo em pé de igualdade.

O tipo da manutenção foi embora, ficou com o meu contacto, por questões meramente profissionais, obviamente, quiçá tenha ficado com boa impressão da minha pessoa, até estava maquilhada e tudo, perfeito! Quem é que precisa do Tinder quando o Badoo nos bate à porta? Ai, que fome! Pensei.

Sozinha em casa, na cozinha, de pé encostada ao balcão, soltei umas valentes gargalhadas, ri da situação, ri de mim própria, o que se tornou bastante terapêutico. Este estado momentâneo de euforia reflectiu-se na minha teoria acerca da sexualidade feminina: A sexualidade da mulher aos quarenta anos é uma premissa para a felicidade. Se há altura boa na vida para a mulher desfrutar inteiramente do sexo é aos quarenta anos, a maturidade aliada à experiência tornam a sensualidade da mulher irresistível. A mulher dos quarenta já não dá importância a opiniões alheias, cuida do corpo e da mente, gosta de si, desfruta do momento e não perde tempo, faz o que gosta e convive com quem realmente quer, tem mais disponibilidade afectiva, a líbido aumenta e a vulnerabilidade diminui, dá-se ao prazer, entrega-se ao sexo, ao orgasmo, ao acto de fazer amor, não se importa com as formas do seu corpo nem com as imperfeições, reconhece-se como um todo e valoriza-se, reconhece a importância do sexo na sua vida e não se acomoda com o que não a satisfaz, é, sobretudo, um encontro consigo mesma e com a sua essência, esta completude feminina é tão bonita de ver e de se viver.

O Técnico vai regressar em breve, ele e os seus olhos azuis, eu e os meus pensamentos lascivos. Ai, que fome! Deem de comer a esta mulher, de preferência batatas fritas.