Pau que nasce direito irá com toda a certeza entortar

“Pau que nasce torto jamais se endireita”. Para uns, as pessoas são aquilo que são e nunca terão a capacidade de mudar. Para outros, as pessoas são pessoas em constante mudança e evolução e, com o passar dos anos, vão alterando a sua forma de pensar e de actuar. Ora, eu, no alto dos meus 41 anos de idade, tenho de reconhecer que faço parte dos dois tipos de pessoas. Há uns anos tinha a certeza — mas provavelmente não a consciência — que as pessoas eram aquilo que eram e que era impossível mudarem a sua personalidade, a sua forma de ser e de actuar na sociedade. Actualmente, sou o completo oposto. Talvez derivado da experiência de vida que possuo aos 41 anos, a minha forma de pensar é totalmente diferente — porque, efectivamente, eu sou a prova viva de que as pessoas mudam; umas para melhor, enquanto outras para bastante pior.

Há 8 anos ainda não era pai e tinha uma forma de pensar completamente diferente. Não pensava sequer em ter filhos e tentava viver a vida ao sabor do vento. Não fazia planos para o futuro e tudo se processava de forma bastante simples. Tinha sempre tempo para tudo e, por vezes, até me aborrecia de ter tempo a mais para preencher. O mundo era diferente, a vida era diferente e eu, obviamente, era bastante diferente. Era uma pessoa que dificilmente encontrava malvadez nas outras pessoas, acreditava que o ser humano era capaz de coisas extraordinárias sempre com uma ideia bem vincada que a vida era bastante básica.

Depois… surgiram as primeiras dificuldades. E com essas dificuldades a surpresa e a constatação que as pessoas, afinal, não eram assim tão boazinhas e inocentes como eu idealizara. Comecei a aperceber-me que sentimentos como o ódio, a injustiça e a necessidade de certas pessoas em proporcionar episódios de mal-estar a outras pessoas, de facto, existiam e em mais quantidade do que eu poderia alguma vez imaginar. E o meu mundo transformou-se num sítio complicado, sombrio e bastante distópico. A própria vida deixou de ter o sentido que tinha e a tristeza interior aproveitou para se apoderar de mim até aos dias de hoje.

O ser simpático e bastante brincalhão deu a sua vez a um ser desconfiado, revoltado e bastante desiludido com a forma de ser do ser humano actual. Não fui criado num ambiente hostil, logo, tudo isso me faz confusão. Fui educado num ambiente de entreajuda, de nunca olhar para trás quando chega a hora de ter de ajudar o próximo. E tudo isso me choca actualmente, quando vejo a malvadez e o puro interesse imperar nas relações entre os seres humanos.

Há 8 anos era uma pessoa totalmente diferente. Era uma pessoa animada, simpática e que acreditava no mundo e no ser humano. Hoje em dia sou o completo oposto. Penso essencialmente no bem-estar na minha única razão de viver — a minha filha — e no bem-estar da minha família e pouquíssimos amigos verdadeiros que possuo. Tornei-me numa pessoa egoísta em prol daquilo que me interessa, se bem que, por vezes, ainda surja uns resquícios da pessoa que outrora era, a verdade é que as pessoas mudam e eu, efectivamente, mudei completamente para pior fruto dos trambolhões que a vida me foi oferecendo ao longo dos anos de forma gratuita.

Na minha vida, a expressão “pau que nasce torto jamais de endireita” devia sofrer uma alteração para “pau que nasce direito irá com toda a certeza entortar”…