Guia Musical Verão 2017- As Canções e os Discos

Os longos dias de sol e as idas convidativas à praia não induzem em erro: a estação favorita de toda a gente está mesmo aí à porta. Que melhor então do que percorrermos a lista de edições estivais que nos acompanharão ao longo dos próximos dois meses e tal? Façam deste o vosso guia essencial:

Nesta primeira parte deste guia musical irão ser destacadas apenas as canções. Dezassete boas opções para um Verão que não tenha que ser passado ao som de “Despacito”, ou não fosse este um guia musical de boa música.

1) Camila Cabello- “Crying in the Club”- Já dizia a canção, há aqueles que nascem para observar e os que nascem para entreter. Karla Camila Cabello Estrabao alinha claramente pela segunda falange: já não havia força que a contivesse nas Fifth Harmony. Agora a solo, Miss Cabello é uma supernova a ter seriamente em atenção e faz-se anunciar com um estrondoso single que é parte angústia existencial, parte êxtase libertado na pista de dança. Sia, Benny Blanco e Cashmere Cat emprestam os seus dotes e um infalível sample de “Genie in a Bottle” faz o resto.

2) Fifth Harmony- “Down”- Céus, quanta mediocridade. Da costela do já não muito elogioso “Work from Home” nasce “Down”, o gémeo mais anémico, tropical e igualmente irritante para a temporada estival. A chave para a sobrevivência das 5H passa por encontrar uma identidade sem Camila, o que para já não acontece. É a vida de sempre, mas em pior – chegará para proporcionar uma corzinha de Verão, no entanto.

3) Miley Cyrus- “Malibu”- Ninguém diria que quatro anos volvidos do twerkgate isto estaria a acontecer. Mas aqui estamos. E é um tanto snif, emocionante snif. A redenção de Miley Cyrus faz-se ao som  de uma delicada composição pop/soft rock que versa sobre a sua reconciliação com o noivo e a descoberta de uma nova liberdade e filosofia de vida. Que este Verão todos possamos encontrar o nosso Malibu state of mind.

4) The Weeknd- “Rockin’” Ultimamente é nos difícil dissociar onde começa The Weeknd e acabam os Daft Punk, mas aí está o 4º single de Starboy – sabiamente guardado para o Verãopara devolver a plenitude dos créditos a Abel Tesfaye. Construído à base de uma infecciosa batida garage-house cortesia dos artífices suecos Max Martin e Ali Payami, “Rockin’” toca em todos os pontos nevrálgicos daquilo que se espera de um hit estival para a pista de dança.

5) Major Lazer ft. Anitta & Pablo Vittar- “Sua Cara”- Que excitante mundo novo é este em que um dos projectos mais ubíquos do nosso tempo constrói um hit em português do Brasil? Um em que vale a pena pertencer: Anitta segue “livre, leve e solta” na sua segunda grande colaboração internacional este Verão e leva à boleia Pablo Vittar, a afiar unhas numa inescapável cataplana dancehall. O show das ultra-poderosas segue dentro de momentos.

6) Charlie Puth- “Attention”- Passaram pouco mais de dois anos desde que escutámos Charlie Puth pela primeira vez, sendo que as reservas a seu respeito são ainda justificadas. “Attention”, o tema de avanço do novo álbum, é desde já a melhor canção do seu breve catálogo: uma mui insinuante e apelativa construção disco pop sobre falso afecto, composta e produzida pelo próprio. O caminho é por aqui, definitivamente.

7) Bruno Mars- “Versace on the Floor”- Quão raro é termos uma slow jam a comandar os êxitos de Verão? Bastante, mas o próximo single de Bruno Mars será a excepção à norma. Embebido no melhor R&B-colchão-de-água de início dos anos 90 de grupos com New Edition ou Boyz II Men, “Versace on the Floor” confere a Bruno Mars a performance da sua vida e mantém 24k Magic na rota certa. “Chunky” e “Finesse” podem esperar.

8) Halsey ft. Lauren Jauregui- “Strangers”- A pop há muito que perdeu o pudor em versar sobre o fascínio acerca de pessoas do mesmo sexo (olhemos para os casos de Sam Smith ou Troye Sivan), mas se excluírmos “I Kissed a Girl”, poucas são as canções no feminino capazes de dignificar o sentimento. “Strangers” fá-lo com particular propriedade e arrojo: é facilmente a melhor canção do curto percurso de Halsey e detecta a próxima grande potência a solo das 5H.

9) Bebe Rexha ft. Lil Wayne- “The Way I Are (Dance With Somebody)”- Dona Rexha já poderia almejar a um lugar mais cativo no mapa-mundi musical não fosse o seu fraco faro para canções acertadas. Há um claro upgrade neste novo single, cujo único erro é pedir emprestado o título tanto à canção de 2007 gramaticalmente incorrecta de Timbaland como a um dos hinos de assinatura de Whitney Houston, também aqui samplado. De resto, livre passe para se tornar num dos temas certificados do Verão de 2017.

10) Katy Perry ft. Nicki Minaj- “Swish Swish”- O melhor catwalk da temporada faz-se ao som do novo single de uma Katy Perry em plena crise de identidade, mas ainda assim algo letal. Com mira apontada à arqui-inimiga Taylor, “Swish Swish” mune-se de uma aguçada batida house e de um engenhoso sample de “Star 69” de Fatboy Slim. O slayanço é real, e quando chega Nicki Minaj – em mais um impiedoso assalto a Remy Ma – rolam cabeças pela pista de dança.

11) Raye- “The Line”- Aos poucos a britânica Raye transforma-se numa das promessas mais seguras de 2017. Recapturando a verve de “You Don’t Know Me” e canalizando o espírito espalha-brasas de Charli XCX, “The Line” convida os ouvintes a um regabofe descomunal mesmo à porta do clube – porque a fome de festa não escolhe um sítio nem hora certas. É o caos e o delírio em movimento.

12) Nick Jonas ft. Anne-Marie & Mike Posner- “Remember I Told You” O Jonas mais novo já provou ter os singles certos – faltam-lhe apenas os álbuns. Pouco menos de um ano após o último Last Year Was Complicated, Nick avança com o cartão de visita do próximo registo, um suculento híbrido pop/electro-R&B com brisa tropical própria para este guia musical e uma certeira contribuição de Anne-Marie. Passava bem sem Mike Posner, no entanto.

13) Lorde- “Perfect Places”- Com “Green Light” a ter já assegurado o seu lugar na lista de melhores canções pop do ano e a edição de Melodrama iminente, Lorde dá-nos a conhecer mais um avanço do registo: a procura do êxtase interminável, o insuportável fardo da solidão e a compreensão de que a vida é um fósforo alimentam esta composição electro-hop derivativa de “Team”.

14) Dua Lipa ft Miguel- “Lost In Your Light”- Watch out, Harry Styles, não és o único a levitar na área. Um dueto tão bem conseguido merecia uma ilustração bem mais competente e imaginativa, mas felizmente para os envolvidos, a canção é forte o suficiente: nada menos do que uma palpitante criação electropop sobre amor assolapado. O prato forte da estação estival, portanto.

15) Tove Styrke- “Say My Name”- Verão que se preze já não se passa sem a habitual jóia pop da coroa sueca. Esse papel em 2017 cabe a Tove Styrke, ainda muito a tempo de fazer um grande splash no mainstream internacional à custa deste irresistível “Say My Name”, desde já candidata a canção pop do ano. É vê-la a destilar über coolness no respectivo vídeo.

16) Galantis- “Hunter”- A dupla sueca de EDM mais incontornável da temporada submete a sua entrada para o campeonato dos êxitos estivais 2017 com um single francamente melhor que os últimos quatro, que parece apontar mais à montanha do que à pista de dança. Glitch house com um breakdown de recorte trap a piscar o olho ao mercado americano – o Verão passa por aqui.

17) Cashmere Cat ft. Ariana Grande- “Quit”- Ainda há vida para extrair do estrondoso Dangerous Woman, mas entre “Everyday” e o re-tratamento de “Beauty and the Beast”, Ariana perdeu algum fôlego. A chave poderá estar nesta colaboração com Cashmere Cat, etérea balada tropical house sob a qual se alicerça 9, a estreia em disco do produtor norueguês.

De seguida, neste guia musical vêm os discos. Os dezassete lançamentos essenciais da temporada para ouvir à sombra, na esplanada, no campo ou beira-mar:

Dua Lipa- Dua Lipa

O álbum de estreia da nova coqueluche britânica chega finalmente quase um ano após a sua data de edição original. Vem carregadinho com os êxitos já conhecidos – “Be the One”, “Hotter than Hell” ou “Blow Your Mind (Mwah)” – e mais uns quantos a caminho (“New Rules” ou “IDGAF”), o que garante desde logo uma escuta sólida e apetitosa.

Alt-J- Relaxer

O terceiro álbum da vida da banda do triângulo recupera algumas das primeiras criações do grupo congeminadas ainda nos seus anos embrionários. Seis das suas oito canções contam com arranjos de cordas executados pela Orquestra Metropolitana de Londres e existem contribuições vocais da parte de Ellie Rowsell dos Wolf Alice e de Marika Hackman. “3WW”, “In Cold Blood” e “Adeline” são os convidativos cartões de visita.

Halsey- Hopeless Fountain Kingdom

Depois de ter ganho a lotaria ao lado dos The Chainsmokers em “Closer”, Halsey aposta forte no seu segundo álbum de originais ao alinhar estetas de peso para a sua concepção: de Benny Blanco e Greg Kurstin, passando por Cashmere Cat até Ricky Reed. Centrado na história de “dois amantes num reino que funciona como uma espécie de limbo”, Hopeless Fountain Kingdom recolhe inspiração na peça de Romeu e Julieta de Shakespeare. “Now or Never” ou “Strangers” são momentos a reter.

Katy Perry- Witness

Estamos ainda todos um pouco confusos em relação ao que Katy Perry pretende com este Witness, mas só o facto de acrescentar novas canções ao seu catálogo já é motivo de júbilo. Um disco onde a realeza da pop (Max Martin, Shellback, Jeff Bhasker) convive com nomes pouco convencionais como Purity Ring, Jack Garratt ou Hot Chip, merece uma escuta atenta do não tão típico fã assim. “Chained to The Rhythm” iniciou bem a campanha, “Bon Appétit” deitou-a por terra e “Swish Swish” divide facções – o consenso em 2017 é uma coisa rara, afinal de contas.

London Grammar- Truth Is a Beautiful Thing

O sucessor de If You Wait fez-se esperar quatro anos, mas começou a ser desvendado pela banda logo na aurora de 2017 com “Rooting for You” e uma senda de inéditos numa escala mensal – “Big Picture”, o tema-título e “Oh Woman Oh Man” – que vieram aperfeiçoar a tónica dream pop etérea esquadrinhada por Hannah Reid, Dot Major e Dan Rothman. Paul Epworth, Jon Hopkins e Greg Kurstin deixam a sua marca neste segundo longa-duração do trio britânico.

Phoenix- Ti Amo

Depois de Bankrupt! os Phoenix procuram a sua “versão fantasiosa de Itália” neste seu sexto álbum de originais. Em Ti Amo os franceses canalizam uma panóplia de sentimentos que vão do “amor, desejo e luxúria à inocência”, revestindo as novas criações de tempero synthpop e italo disco. “J-Boy” e “Goodbye Soleil” são os temas de avanço.

Fleet Foxes- Crack-Up

Seis anos após o último Helplessness Blues, os virtuosos de Seattle estão de volta com Crack-Up, já sem a companhia de Joshua Tillman, também comumente conhecido por Father John Misty. Fortemente influenciado pelo tenso clima político e social americano, o novo registo foi anunciado pelo épico de nove minutos “Third of May / Ōdaigahara”. “Fool’s Errand” e “If You Need To, Keep Time On Me” seguiram no seu encalço.

Lorde- Melodrama

Muita expectativa no álbum da entrada na vida adulta de Lorde, sucessor do aclamado Pure Heroine (2013). Gravado durante um período de 18 meses na companhia do produtor e compositor Jack Antonoff (Bleachers e fun.), Melodrama lida com temáticas de desgosto, isolamento e solidão, patentes nas amostras já reveladas: “Green Light”, “Liability”, “Perfect Places” e “Sober”.

Royal Blood- How Did We Get So Dark?

O duo mais barulhento do rock regressa três anos após a aclamada estreia com a missão de fazer perdurar a vitalidade do género. “Lights Out”, “Hook, Line & Sinker” e “I Only Lie When I Love You”, os velozes e furiosos singles de avanço de How Did We Get So Dark?, mantêm o compelativo binómio baixo-bateria de Ben Thatcher e Mike Kerr. Permissão para mergulhar nas catacumbas.

Portugal. The Man- Woodstock

A trupe mais lusa do panorama indie retorna às edições discográficas com Woodstock, o oitavo título em onze anos de actividade. A descoberta do seu lado mais funky em “Feel It Still” proporcionou ao quinteto do Alaska o seu maior êxito à data, mas a veia psicadélica permanece viva em momentos como “Number One”, “So Young” ou no alucinogénico “Noise Pollution”.

Calvin Harris- Funk Wav Bounces Vol. 1

(30 de Junho)

Reordenar e gentrificar. Ao quinto álbum o DJ escocês aponta em novas direcções para lá do género que o popularizou, servindo agora criações pop-rap, nu-disco e synth-funk que acabam por espalhar as novas tendências do mainstream. Funk Wav Bounces Vol. 1 é pois a tentativa de Harris de se agigantar nos EUA, contando para tal com um batalhão de convidados inteiramente da pátria, onde se destacam nomes como Frank Ocean, Future, Pharrell Williams, Katy Perry, Big Sean, John Legend, Ariana Grande ou Nicki Minaj. “Slide”, “Heatstroke” e “Rollin’” são os temas de avanço.

Haim- Something to Tell You

(7 de Julho)

É o esperado regresso das manas Haim, mais de quatro anos depois da airosa estreia com Days Are Gone. O trio assume a produção executiva do novo registo e recruta também os préstimos de Ariel Rechtshaid e BloodPop. “Right Now” e “Want You Back” foram os primeiros temas revelados, tendo também já sido estreada ao vivo no Saturday Night Live a faixa “Little of Your Love”.

Oh Wonder- Ultralife

(14 de Julho)

Josephine e Anthony regressam para mais uma volta no maravilhoso carrossel indie pop. Ao contrário do álbum de estreia, apenas editado quando todas as suas canções eram já conhecidas, Ultralife tem sido mais parco na sua estratégia, tendo desvendado até ao momento uma mão cheia de singles catitas: o tema-título, “Lifetimes”, “My Friends”, “Heavy” e “High on Humans”.

Mura Masa- Mura Masa

(14 de Julho)

 

Nome de proa da nova geração de produtores de música electrónica do Reino Unido que procura inspiração nas ruas, Alex Crossan faz aqui a sua estreia, depois de dar cartas com a mixtape Soundtrack to a Death (2014) e o EP Someday Somewhere (2015). Neste debute alinham ilustres como A$AP Rocky (“Love$ick”), Charli XCX (“1 Night”), Desiigner (“All Around the World”), Damon Albarn ou Jamie Lidell.

Everything Everything- A Fever Dream

(18 de Agosto)

O quarteto de Manchester encerra o lote estival com A Fever Dream, o quarto álbum de estúdio que editam a 18 de Agosto próximo e que contará com produção de James Ford (Arctic Monkeys, Foals). “Can’t Do”, a primeira amostra revelada, mantém para já a paleta supersónica e esquizóide do anterior Get To Heaven, mas o percurso sem mácula dos Everything Everything faz-nos crer que novos e excitantes rumos poderão estar a caminho.

 

Tudo a postos para uma grande temporada, certo? Boas audições e – se for caso disso – um óptimo descanso. Venha de lá esse Verão!