Há monstros debaixo da cama, no armário e dentro de nós próprios…

Somos apenas humanos. Só esta frase deveria ser suficiente para justificar todas a fases que passamos, ao longo da vida, enquanto seres humanos que somos. Mas, indubitavelmente, isso não é suficiente para a minha pessoa. Não fico convencido e não consigo interiorizar que basta sermos humanos para entender as múltiplas fases de humor que vou sentindo ao longo da minha vida. Sou um ser estranho e com muito falta de auto-estima. Não me sinto um bom ser humano, um bom cidadão ou basicamente aquilo que se pode denominar como uma “boa pessoa”. A maioria das vezes sinto-me como se não pertencesse a este mundo, e sinto-me deslocado de tudo. Quase sempre não encontro uma correspondência aos meus sentimentos. Sempre que procuro compreensão, obtenho incompreensão. Tenho de aceitar que não somos todos iguais e, por essa mesma simples razão, as pessoas não têm necessariamente de compreender a mente e a forma de pensar umas das outras. E, por vezes, sinto-me perdido na minha vidinha insignificante.

Por vezes parecemos feitos de cristal, de vidro, de uma matéria demasiado frágil que se pode facilmente partir com um pequeno sopro. E sem nos apercebermos, entramos numa espiral de desacreditação e desvalorização intensa e deveras prejudicial. E entramos em Loop, em que tudo é mau, tudo é demasiado negativo e transformamo-nos em seres pessimistas perseguidos por um mundo cruel e demolidor. Invariavelmente, essa forma de sentimento acaba por se metamorfosear naquilo a que se denomina como “depressão”. E eu tenho inúmeros momentos depressivos. E todos eles provêem de algo muito simples, de facto: de falta de aprovação — pessoal e de outros. Desde muito novo que coloquei esta fasquia da aprovação na minha pessoa. E talvez por isso tenha colocado uma máscara de alegria, de brincadeira, mas que, interiormente, se desmonta na incerteza, tristeza e instabilidade emocional.

É bom termos amigos. Aliás, é essencial termos amigos. Mas também é necessário que esses amigos consigam sentir a fundo aquilo que estamos a sentir. Na maioria das vezes não precisamos de um abraço, mas sim de apenas sentir que, do outro lado, está uma pessoa que compreende completamente a nossa forma de pensar e aquilo que estamos a sentir ou tentar transmitir naquele momento. E isso é muito raro de acontecer ou encontrar. E busco por esse tipo de sentimento desde que me lembro, ao longo da minha vida. Não me consigo abrir completamente com alguém que eu não sinta que me está a compreender a cem por cento — o que ainda me consegue revoltar ainda mais e deixar mais desapontado com a vida que tenho, levando-me a interrogar se alguma vez conseguirei encontrar algum tipo de controlo sobre o rumo da minha vida.

Tenho dias em que acordo com vontade de destruir o mundo. Olho ao meu redor e cresce em mim uma necessidade extrema de esmurrar tudo e todos. E nunca sei o explicar por que raio isso acontece — qual foi o rastilho que despertou essa forma de pensar e actuar em mim. Depois, por mais complexo que seja, existem dias em que me sinto interiormente bem, alegre e com vontade para espalhar palhaçadas por onde me desloque. E isso enraivece-me porque, uma vez mais, não encontro um rastilho que explique essa forma de actuar e pensar na vida. E acabo, uma vez mais, por sofrer uma mutuação de humor que me deita abaixo novamente.

Por vezes gostava de ser um robot. De ter um microchip com emoções e pensamentos previamente planeados e introduzidos por mim mesmo. Têm sido 40 anos de muitas incertezas, instabilidade e pensamentos obscuros que me levam a duvidar de tudo e de todos. Não tem sido fácil viver e lidar comigo mesmo e com todas as tormentas da minha mente. Tenho de agradecer a quem lida comigo diariamente e não me dá a devida importância, bloqueando assim um monstro colérico que vive dentro de mim e que, indubitavelmente, cá dentro deve continuar a viver, fechado a 7 chaves…

É simplesmente a vidinha a acontecer…