O Primeiro Dia de Aulas

Marcadores fluorescentes ou marcadores normais? Ou será que é preferível os marcadores com cores-pastel? Cadernos novos para todas as disciplinas ou cadernos com separadores? E se, ao invés disso fores adepto de dossier? Mochila ou mala? Agenda escolar ou bullet journal?

A verdade é que estamos perante um acontecimento regular de “compra e venda”, “oportunidade e diversidade”. Mas neste caso, arrisco-me a dizer que a oferta excede a procura e quase sem ser notório a procura também se vai encaixar na variada oferta.

Se for pai/mãe e disser aos seus filhos que quando tinha a idade deles não existiam a maioria das coisas que existem hoje em dia, dificilmente conseguirão imaginar. Porquê? Porque hoje em dia temos tudo com muito mais facilidade.

Estamos perante um “regresso às aulas” que nada tem de preto e branco ou de quadro com giz. Contudo, há coisas que acontecem repetidamente. Vamos então imaginar:

Temos uma família tradicional portuguesa, com a mãe Maria e o filho José e o pai António. O José tem apenas 6 anos acabados de completar. Hoje é o seu primeiro dia de escola. São nove horas e acaba de chegar à sua escola com a sua mãe. Olha em seu redor e vê rostos novos, principalmente o da professora – aquela pessoa que está ali para o ensinar (a ele e aos outros meninos). Por incrível que pareça vê o seu amigo Francisco a chegar também com a sua mãe. Assim já nem tudo parece estranho e se for, tanto é para o José, como para o Francisco.

Ninguém falou com o José sobre o primeiro dia de aulas. Ninguém lhe explicou como iria ser. Ninguém o preparou para esta nova aventura mas a lista do material escolar que a mãe tinha comprado era: lápis para colorir; um caderno com aquelas linhas bem juntinhas para aprender a fazer as letras; os livros da escola; lápis para escrever e uma caneta azul e um dossier para as fichas.

– Porque preciso de tanta coisa? – pergunta o José à mãe.

– Porque é a lista de material que fui buscar à escola. – responde a mãe.

A pergunta do José não está errada e a resposta da mãe também não, mas o problema é mesmo esse, e isso espelha em grande medida a sociedade portuguesa: As exigências escolares iniciais são maiores do que as reais necessidades de quem vive o momento pela primeira vez.

Imaginemos que a lista de coisas necessárias mudava e passava a ser: conhecer a escola; conhecer os colegas; conhecer a professora; aprender a brincar no recreio (hoje em dia diz-se intervalo, não é?); falar sobre o que é entrar para a escola.

Mas nada disso se compra e a verdade é que é necessário colocar as famílias a consumir. E às vezes a consumir sem saber bem para quê, só porque há uma lista.

Caro leitor, eu nasci nos anos 90 e quando eu entrei para a escola em 2001 não existia tanta oferta de material escolar: Sim, tive uma mochila, mas o meu caderno era de linhas normais. Não tive canetas coloridas para escrever, mas lembro-me do meu lápis de carvão da minha afia e da minha borracha. Não tive um iPad mas sabia brincar no recreio e sabia o nome de todos os meus colegas. O quadro da sala de aula tinha um giz branco e um azul e outro rosa e quando terminava ou partia, a professora pedia mais à funcionária que estava na sala de entrada.

Hoje em dia deveríamos ensinar as crianças a descobrir aquilo que realmente é essencial: as boas amizades que se criam; o respeito pelas pessoas mais velhas; o saber brincar e saber sujar-se; a aprendizagem com tempo, conta e medida. E para isto não é necessário um caderno com linhas próprias para desenhar as letras porque um caderno normal também serve. Não são necessárias canetas de todas as cores, porque o lápis de carvão é que permite errar e apagar. Não é necessário um iPad para passar o tempo porque jogar à bola, ao macaquinho do chinês ou à apanhada, ensina muito mais e é bem vais divertido.

Talvez todos nós conheçamos uma mãe Maria e um filho José.

E a todas as mães Marias e filhos José desejo um ótimo começo de ano letivo e que os sonhos de criança se tornem as realidades no primeiro dia de aulas. Afinal de contas, toda a gente anseia sentar-se ao lado do melhor amigo do infantário no primeiro dia de escola, não é?