O sonho comanda o Universo

Todos nós sonhamos. Uns, por vezes, sonham acordados, mas geralmente os sonhos surgem quando estamos pacatamente a dormir. Existem 4 fases do sono, mas os sonhos só acontecem quando chegamos à fase 4 — mais conhecida por REM (Rapid Eye Movements). É nessa fase do sono em que a nossa respiração e actividade cerebral eléctrica acelera e, apesar de estarmos completamente paralisados na cama, o nosso cérebro está numa verdadeira montanha russa. O que é bastante saudável, clinicamente falando

Todas as pessoas sonham, apesar de muitas afirmarem que não o fazem porque simplesmente não se lembram de o ter feito. Eu, ao contrário dessas pessoas, lembro-me praticamente de todos os meus sonhos e acordo inúmeras vezes durante um sonho — seja ele um bom sonho, ou mesmo um medíocre. Ao que parece, o meu cérebro aprecia estar em alta rotação durante o meu sono, sonhando e sonhando sem parar. Existem noites em que acordo sobressaltado de um sonho e penso que tenho imediatamente de apontar esse sonho em algum lado, não para criar algo com ele, mas para tentar regressar ao sonho na noite seguinte. Geralmente, não consigo. Mas já aconteceu conseguir regressar ao sonho.

Por vezes, acordo de manhã com um sonho na cabeça e levo esse sonho comigo para onde vou durante o dia, em que estou bem acordado e envolvido em múltiplas tarefas. Dependendo do sonho, vou tentando arranjar uma forma de, nessa noite, conseguir alterar o sonho para algo que pareça mais benéfico para mim. Habitualmente, isso torna-se impossível de acontecer, mas uma ou outra vez consigo regressar ao sonho e alterá-lo à minha maneira, ou manipulá-lo para que seja mais conveniente para a minha pessoa — o que me torna, possivelmente, numa pessoa manipuladora e até narcisista, no que aos meus próprios sonhos diz respeito.

Nunca tive a oportunidade de me filmar a dormir, mas penso que — e apesar de isto ser demasiado estranho de se dizer ­ou mesmo de se pensar — devia ser bastante interessante de o fazer. Porque tendo eu a consciência de que me encontro a sonhar, consigo ter a percepção do meu estado de espírito durante todo aquele processo. E é sempre um sentimento de felicidade e de bem-estar interior, o que me leva a pensar que, enquanto estou a sonhar, deverei estar efectivamente a sorrir. Ou, então, a fazer expressões faciais capaz de assustar o meu próprio gato — ser esse que aprecia dormir aos meus pés, na cama.

Enquanto estamos compenetrados num sonho, podemos ser tudo aquilo que quisermos. Se conseguirmos ter a capacidade de manipular o nosso próprio cérebro, podemos ser tudo aquilo que não conseguimos ser no mundo real. Conseguimos ser super-heróis, pais, filhos, escritores, astronautas, extraterrestres e o melhor de todas as hipóteses: voltarmos à infância e sermos crianças novamente. E todos os sonhos são nossos. Não são de mais ninguém e, por vezes, nem podem ser partilhados com mais ninguém, com o risco de serem inconvenientes para todos aqueles que mais gostamos e nos rodeiam.

Fernando Pessoa dizia, e passo a citar: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo.” Eu vou um pouco mais além e afirmo que, em relação à minha pessoa: “Os sonhos comandam todo o meu universo.”

Um dia que perca a capacidade de sonhar, perderei a capacidade de saber viver.