Para onde vais ó humanidade?

Cadê a amizade? O que é feito da solidariedade? Quem matou a entreajuda? São perguntas pertinentes que se impõe fazer. Como diria alguém: “Eu ainda sou do tempo em que ajudar era fixe!”. Na verdade, não faço a mais pequena ideia se alguém alguma vez disparou esta frase, mas, pelo menos eu ainda sou do tempo em que fazia sentido ajudar o próximo apenas pelo prazer de ajudar. Algo impensável nos dias de hoje e, até, um motivo válido para ser alvo de chacota por parte de amigos por ser-se tão ingénuo. Porque, infelizmente, hoje em dia, a arte de ajudar está completamente em desuso. Ou, por outras palavras, a arte de ajudar, nos tempos que correm, segue pela necessidade da retribuição directa. O que me deixa um pouco tristonho e até ligeiramente revoltado — mas, lá está: eu, para os meus amigos mais próximos, não passo de um ser ingénuo que ainda vive com pensamentos retrógrados do século passado.

Apesar de ainda ser um jovem nos “entas”, consta que sou demasiado idoso para entender a sociedade actual. Antigamente, se eu visse alguém encostado à beira da estrada com um pneu furado, eu parava para perguntar se precisava de ajuda. Se sim, eu ajudava a trocar o pneu e depois seguia a minha a vida com uma sensação de felicidade interior por ter ajudado alguém que se encontrava numa situação mais complicada. Hoje em dia, para além de ser raro alguém parar para sequer perguntar se precisam de ajuda, é quase considerado um acto de terrorismo ajudar alguém a trocar um pneu furado à beira da estrada. Isso apenas ocorre numa situação muito específica — se existir a certeza que haverá uma retribuição monetária ou algo mais que isso, no caso de se apanhar um malandro com segundas intenções.

A sociedade está de tal forma virada do avesso que, para se ser solidário ou praticar a dita solidariedade, existe o requisito obrigatório de correr a publicar nas redes sociais a execução de tal acto. Há que dar o conhecimento imediato que se ajudou este ou aquele, na esperança de se receber elogios imediatos sobre tal nobre feito. Já não existem amigos que ficam apenas felizes por terem ajudado outros amigos. Hoje em dia, a moda passa por ajudar se, atenção, existir uma contrapartida, monetária ou simplesmente um bem material, a verdade é que tem de existir sempre algo em troca ou essa ajuda nunca será proporcionada. Será talvez por isso que exista cada vez mais pessoas a passar fome, em extrema pobreza e em condições deploráveis — pois essas pessoas, infelizmente e por culpa exclusivamente sua, não possuem nada para dar em troca — sacanas, pá, a quererem ajuda de pessoas interesseiras e sem ter nada para dar em troca. Cambada.