Que Campeonato é Este?

«Comigo, William vai jogar mais» disse Jorge Jesus no Verão pouco tempo depois de se saber que iria orientar a equipa do Sporting. Não cumpriu com o que disse e com ele o forte médio defensivo parece jogar menos do que há duas épocas atrás.  «Agora há três candidatos em Portugal», disse também Jorge Jesus aquando da sua apresentação no Estádio José Alvalade. Esta promessa cumpriu e ainda bem. Se a primeira afirmação de Jorge Jesus e consequente incumprimento é má para a carreira de William Carvalho, a segunda afirmação é óptima para o Sporting Clube de Portugal e seus adeptos. Para os seus e não só. Eu acredito que verdadeiros adeptos do futebol português gostem que os chamados “Três Grandes”, se confrontem de forma renhida num campeonato que se tem mostrado, pelo menos até ao momento, muito atípico.

Atípico porque como já referi, temos de novo Benfica, Sporting e Porto em disputa pelo título e há muito tempo que tal não acontecia. Nos últimos anos o campeonato tem sido disputado entre Benfica e Porto e muitas vezes quem apareceu a complicar as contas do título foi o Sporting…de Braga. Este ano parece ser diferente numa luta que promete ser muito disputada até final entre os grandes de Lisboa e o grande do Norte. Se o Dragão parece mais fraco que em outros anos, a verdade é que também foi campeão várias vezes em que o Leão esteve adormecido e pouco contou para a corrida. O que se diz para o Porto diz-se para o Benfica, que se habituou (a mal habituar) a vencer o seu arquirrival com relativa facilidade. Este ano já perdeu diversas vezes (em diversas provas) e isso deve custar aos seus adeptos. Os adeptos do Sporting estão em êxtase e percebe-se porquê.

Parece que a equipa de Jorge Jesus anda com a chamada “estrelinha de campeão”. Em jogos complicados já fez recuperações notáveis e nos grandes jogos venceu tanto o Porto como o Benfica, dominando os seus adversários. Obra de Jorge Jesus certamente. Há uns anos seria impensável o Sporting vencer de forma tão clara os jogos grandes e aqui o mérito tem de ser dado inteiramente ao seu treinador. No entanto, esta aparente supremacia leonina parece paradoxal, porque a equipa verde e branca já conseguiu a proeza de perder pontos em jogos acessíveis e com adversários mais modestos. Alguns demasiado modestos e cujo futebol praticado está longe se ser bom. Este Sporting parece ser aquela estilo de equipa que se motiva contra os melhores mas que se descontrai em demasia quando o adversário impõem menos respeito à partida. Os empates frente ao Paços de Ferreira (em casa), Boavista (fora), Tondela (em casa) e Rio Ave (em casa) e ainda a derrota frente ao União da Madeira (fora) foram os percalços no bom caminho percorrido até aqui pela equipa de Alvalade. As vitórias contra o Benfica (fora), Braga (em casa) e Porto (em casa) foram os maiores feitos de uma equipa talhada para os jogos de maior pressão e dificuldade acrescida. Ainda faltam batalhas complicadas ao Sporting. Ainda falta jogar com o Benfica em Alvalade, um jogo em que qualquer resultado é possível e duas idas ao Norte, uma ao Estádio do Dragão contra o Porto e uma outra ao Estádio Nacional de Braga frente ao Braga, na última jornada. Este último duelo promete, não só por ser um ótimo jogo para fechar o campeonato, mas também por já termos assistido a grandes duelos este ano entre estas duas grandes equipas de futebol que gostam de dar espetáculo e marcar golos. Muitos golos.

E por falar em golos, é impossível não associar o bom campeonato do Sporting ao seu maior goleador e ídolo dos adeptos, Islam Slimani. O ponta-de-lança argelino já leva 16 golos no campeonato e tem sido uma verdadeira dor de cabeça nas defensivas adversárias, não só pelo que marca mas também pelo que trabalha para a equipa. O Sporting já teve avançados muito mais talentosos que Slimani, mas dificilmente teve alguém tão trabalhador e lutador. Aquelas frases que dizem que o trabalho pode compensar mais do que o talento fazem todo o sentido para este jogador. Está em grande e ao contrário do supracitado William Carvalho, este sim, está a jogar muito mais com Jesus. Para além de Slimani penso que deveremos valorizar as épocas de João Mário e Adrien Silva, jogadores que já estavam no plantel e que subiram consideravelmente o seu rendimento nos últimos meses. A nível de contratações, a minha preferência tem de recair sobre Bryan Ruiz, um jogador claramente acima da média na Primeira Liga e um dos jogadores que mais qualidade trouxe ao futebol do Sporting, apesar de ter baixado ligeiramente o seu rendimento. Dá gosto ver o costa-riquenho jogar, mesmo que por vezes tenha de desempenhar funções às quais não estava habituado antes de trabalhar com Jorge Jesus.

No outro lado da 2ª Circular Rui Vitória teve a difícil tarefa de suceder a Jorge Jesus no comando técnico do bicampeão nacional, o Benfica. O início foi complicado para o treinador ribatejano. A equipa estranhou a mudança de treinador e os próprios adeptos benfiquistas não pareciam satisfeitos com a nova escolha de Luís Filipe Vieira. Como em qualquer profissão, é preciso dar-se tempo às pessoas para trabalhar e imporem as suas ideias. Foi o que aconteceu com Rui Vitória. Começou algo tremido mas, quando finalmente estabilizou, já conseguiu grandes resultados para alegria dos adeptos encarnados.

Uma derrota com o Arouca (fora), uma com o Porto (fora), outra com o Sporting (em casa), o empate (fora) com o União da Madeira e agora mais recentemente a derrota em casa, novamente com o Porto, constituíram as perdas de pontos de uma equipa que aina ambiciona ser tricampeã. Uma equipa que já perdeu pontos em deslocações a redutos de equipas fáceis e que, ao contrário do que acontecia em anos recentes, parece estar com dificuldades em vencer os jogos mais complicados frente aos seus mais diretos rivais seja fora seja na Luz. Não creio, contudo, que possamos reduzir o desempenho do Benfica a estas derrotas. O Benfica é a equipa que mais marca na prova e que mais goleadas alcançou. O experiente Jonas tem sido este ano aquilo que foi a época passada, um jogador mortífero nos jogos em que o Benfica se limita a atacar e dizimar os adversários, e um jogador discreto perante as equipas mais organizadas. Certo, certo é que já leva 23 golos e pode ambicionar ser o melhor marcador da Europa. Seria bom para o futebol português. O reforço Mitroglou também já provou ser uma boa aposta, levando 12 golos na prova mesmo não tendo sido tantas vezes titular como o seu companheiro de ataque. Não é o jogador mais habilidoso, no entanto, a suas características físicas fazem muita diferença no nosso campeonato. Quem também tem estado muito bem é Pizzi, o médio português já marcou por 5 ocasiões e já arrancou grandes exibições de águia ao peito. A surpresa tem sido um miúdo da formação, Renato Sanches. O médio que se estreou com Rui Vitória tem trazido velocidade e força (muita força) ao meio campo encarnado, cada vez mais pendente das suas arrancadas. Teremos jogador para o futuro? Se limar algumas arestas, sobretudo do ponto de vista tático, penso que sim. Gaitán esteve lesionado algum tempo e este facto contribui para que a sua época não esteja a ser a melhor, no entanto, em forma é provavelmente o melhor jogador da Liga. Quando voltar à sua melhor forma e a ele se juntar Salvio, os encarnados podem esperar um upgrade na sua equipa que pode fazer a diferença para o que resta do campeonato.

Ainda é altamente provável que todos os grandes escorreguem até ao fim do campeonato e tendo este aspeto em conta, o dérbi de Lisboa em Alvalade poderá ser crucial nas contas do título, quer pelos participantes no jogo quer pelo adversário que fica à espreita.

Quem fica à espreita é o Porto. Se por acaso os azuis e brancos têm perdido o jogo na Luz, este texto seria totalmente diferente e a luta do campeonato poderia resumir-se a Sporting e Benfica. Tal não aconteceu. Partindo ligeiramente com menos favoritismo (tendo em conta o momento de forma, mudança de treinador, etc.) a verdade é que os dragões levaram a melhor sobre as águias neste confronto e mantêm o sonho do título. Os seus adeptos que agradeçam a Iker Casillas, o guarda-redes que muitos apelidavam de produto de marketing e de não fazer a diferença (eu inclusive) deu uma bofetada de luva branca aos mais críticos com um par de grandes defesas frente aos encarnados. Embora tenham vencido o grande rival, os azuis e brancos também estão longe de fazer uma época brilhante. O futebol de Lopetegui era entediante, pouco convincente e nada espetacular. Poucos remates, poucos golos e pouca solidez defensiva aliadas a maus resultados ditaram o despedimento do treinador basco. Com a sua saída o futebol não melhorou grande coisa, primeiro com Rui Barros como treinador interino e agora com José Peseiro como treinador principal. Os empates com o Marítimo (fora), Moreirense (fora), Braga (em casa) e Rio Ave (em casa) bem como as derrotas frente ao Sporting (fora), Guimarães (fora) e Arouca (em casa) mostram um percurso algo inconstante que colocam o Porto atrás dos seus adversários diretos na classificação do campeonato em que nada está decidido. No Dragão, os destaques têm sido mais pela negativa do que pela positiva e a nível de reforços só Layún, Danilo Pereira e talvez Corona, merecem especial destaque, sobretudo o lateral mexicano que tem colecionado assistências. André André começou bastante bem, mas parece algo desgastado. O que disse e continuo a dizer para Rui Vitória, digo agora para José Peseiro: É preciso tempo para as pessoas trabalharem e implementarem as suas ideias. Só daqui a uns tempos é que poderemos avaliar corretamente o trabalho desempenhado.

Os dragões ainda têm jogos complicados, nomeadamente a deslocação à “Pedreira” para enfrentar o Sporting de Braga e a receção ao Sporting a três jornadas do fim. Tudo pode acontecer num campeonato a três, onde algumas surpresas têm acontecido principalmente aos habituais candidatos dos últimos anos. O Sporting disse finalmente “presente” e vai estar a lutar pelo título até ao fim. Os jogos frente aos principais rivais têm sido o seu prato forte mas algumas escorregadelas com equipas mas fracas podem vir a sair muito caras no futuro. Por outro lado, no Benfica tem acontecido o oposto, ganham-se quase todos os jogos com grande facilidade e muitos golos e perdem-se os grandes duelos com equipas mais fechadas e da sua igualha. Rui Vitória ainda não conseguiu vencer nenhum Clássico/Dérbi. Será em Alvalade? Ou Jesus levará a melhor de novo?

O Porto tem sido um misto de ambos os fenómenos, e para mim não deixa de ser uma surpresa ganhar-se duas vezes ao Benfica (por exemplo) e perder-se em casa frente ao Arouca. São acontecimentos estranhos só possíveis em futebol, o desporto que tanto nos apaixona. Creio que cada um dos “Três Grandes” tem os seus próprios argumentos de peso para atacar o título nas jornadas que faltam para o final do campeonato. O Sporting tem o melhor treinador e também o mais experiente. O Benfica tem a base da equipa que foi campeã pelas últimas duas vezes e conta ainda com o melhor marcador da prova, Jonas. O Porto tem o melhor plantel pese embora algumas posições desfavorecidas (central e médio ofensivo centro) que deveriam e poderiam ter ser colmatadas em Janeiro. A vitória sobre o Benfica vai trazer moral ao novo treinador e ao seu plantel, mas será que chega?

As três equipas ainda estão na Europa. O Benfica é o representante português na Liga dos Campeões e irá enfrentar o Zenit de André Villas-Boas. Na Liga Europa, o Porto irá enfrentar Borussia Dortmund e o Sporting tem encontro marcado com o Bayer Leverkusen. Todos têm adversários complicados e consoante passem ou não, podem alterar as suas hipóteses na principal prova interna. Quanto maior o número provas em que se participa em simultâneo, maior o desgaste físico, mas também maior a moral, quer de jogadores quer de adeptos.

Quem irá levar a melhor? O Benfica conseguirá o tricampeonato? O Porto conseguirá pôr fim a dois anos sem ser campeão? E o Sporting? É desta que dá uma alegria de maior aos seus fiéis adeptos? E este campeonato louco? Vai ser decidido nos grandes ou nos pequenos jogos? Deixe-nos a sua opinião na caixa de comentários.