5 Filmes Que Vos Vão Dar a Volta à Cabeça

O calor deste Verão tem colocado muitos de nós de cabeça à roda. No entanto, a época já vai longa e aproximamo-nos cada vez mais do fim dos dias mais quentes. Com o começo do Outono voltam as aulas, volta o trabalho, voltam as rotinas mais caseiras e com elas os filmes à noite.

Ora, se os “exageros de temperatura” deste Verão nos colocaram quase a delirar, por vezes são os filmes a dar a volta à nossa cabeça, nos dias mais frios. Epá, eu bem que tentei escapar a esta comparação meio metafórico-analógico-qualquer coisa que tentei fazer, mas não resisti. My bad! Mas, afinal de contas, quem é não gosta de filmes com enredos um pouco mais desafiantes? Que faça aquele extra mile pelo espectador?

A Arte é um exercício extremamente dinâmico entre criador e público, e o Cinema não é excepção. São inúmeros os filmes que transcendem o seu propósito, fazendo-nos questionar a verdadeira finalidade da criação artística em si. Ao longo dos anos, a provocação mental tem sido um factor nuclear para realizadores como Terry Gilliam, Stanley Kubrick ou Lars Von Trier, que com grande autoridade me “picaram os miolos”.

Ainda por aqui? Sim? Então não será agora que vai parar de ler. Deixe-se provocar por este fraco suspense e atire-se de cabeça para esta espiral de aventuras…

Mulholland Drive (2001)

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Recentemente considerado o melhor filme do século XXI (até à data) através de uma votação promovida pela BBC Culture, este clássico de David Lynch é um autêntico “bico-de-obra”, até para os espectadores mais atentos.

Mulholland Drive pertence à categoria Fight Club (peço desculpa, mas hoje não teremos Brad Pitt), retratando de uma forma surrealista a cisão entre corpo e mente, assim como a fragmentação do “eu”. Através das brilhantes representações de Naomi Watts e Laura Harring, o espectador é transportado para o limiar entre a realidade e o sonho, factor que torna Mulholland Drive num dos melhores thrillers psicológicos que alguma vez vi (e com uma das cenas que mais me arrepiou desde que me lembro!)

É muito difícil ser concreto quando estamos a falar de uma obra-prima tão versatilmente esquizofrénica. As sinopses estão reservadas para os corajosos que virem o filme. Seja como for, garanto-vos: it will blow your mind away! E não é pouco, e não é muito… bastante.

Ter a capacidade de prever o futuro pode ser algo impressionante e devastador ao mesmo tempo. Estaremos apenas a dançar na linha do destino? Ethan Hawke explica-lhe tudo já a seguir.

Predestination (2014)

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Dos irmãos Spierig chega-nos um filme que cruza em estilo e, parcialmente, em conteúdo dois filmes muito conhecidos: Inception e Minority Report. A relação com o primeiro está intimamente ligada à manipulação do tempo, assim como à distorção da realidade. No entanto, em Predestination não há sonhos, apenas uma grande e frenética dose de viagens no tempo. Já no caso do segundo filme, Predestination poderia perfeitamente ser um caso em Minority Report. Afinal de contas, o conceito é praticamente o mesmo: “impedir um crime antes de acontecer”.

À semelhança de Mulholland Drive, a cadência do filme é um pouco lenta até ao clímax. A partir daí, torna-se uma autêntica maratona de emoções. A produção cinematográfica prima por conseguir fazer o que muitos filmes de mistério não conseguem: dar muita informação em pouco tempo (cerca de hora e meia).

Sente-se com sorte hoje? Então talvez consiga ajudar Slevin Kelevra a colocar a sua vida em ordem. Mas será que ele precisa realmente de ajuda?

Lucky Number Slevin (2006)

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Por vezes estamos no sítio errado, à hora errada. Como alguns críticos de cinema que com frequência leio: elitismo e uma frieza incrível. Lucky Number Slevin deixou a crítica dividida, pairando no ar a acusação de ser um filme “que se acha mais inteligente, do que realmente é”.

Na minha opinião, é um filme muito bom pelo facto de dar ao espectador um argumento que desafia, mas que ao mesmo tempo não cria uma névoa de dúvida exagerada na cabeça de quem está a ver. Simplificando, Lucky Number Slevin é um filme mais descontraído, mas não descura de um suspense contínuo e fascinante.

E tem o Bruce Willis, man! Para não falar das presenças de Morgan Freeman e Ben Kinglsey, dois cabecilhas (rivais) do crime que querem caçar o nosso amigo Slevin (Josh Harnett), enquanto se tentam destruir mutuamente. A manipulação é, muitas vezes, a palavra de ordem, sendo que a única personagem que simboliza a inocência é interpretada pela nossa amiga Lucy Liu.

Há situações em que começamos a ver a nossa vida a andar para trás (o Slevin que o saiba). É exactamente nesses momentos que nos agarramos a momentos, objectos e memórias que nos fazem recordar de tempos melhores, símbolos orientadores do nosso futuro. Ilusões, talvez?

Memento (2000)

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O génio dos irmãos Nolan vem ao de cima com um thriller fantástico e verdadeiramente único. O filme é apresentado de trás para a frente, contando a história de Leonard Shelby, um homem que procura incansavelmente o responsável pelo assassinato da sua mulher. Nada de novo, portanto? Think again. Lenny tem um problema de perda de memória a curto-prazo, facto que torna o drama ainda mais interessante para quem está do outro lado do ecrã.

É muito complicado explicar a maneira como as cenas estão filmadas. Não pelos planos, mas pela forma que a história se (des)enrola. Em Memento, não faltam pormenores, não há cenas sem significado. As peças do puzzle estão lá todas! Já as teorias chegam depois. O filme atraiu, inclusive, a atenção da comunidade científica, sendo que o realismo na representação da amnésia a curto-prazo de Lenny foi amplamente elogiado por neurologistas e psiquiatras espalhados por todo o mundo. And you can’t beat that!

E esse realismo só é possível através da interpretação do Guy Pearce. A voz dele chega a ser assustadora e representa na perfeição o mártir que é a vida do protagonista. Destaco também o papel do Joe Pantoliano, Teddy, um actor que me impressionou muito, nos poucos papéis que teve ao longo dos anos.

Memento é a prova viva que, com um orçamento relativamente reduzido, um punhado de cenários e meia dúzia de actores, se consegue criar um autêntico clássico cinematográfico. E para encher este revólver de cinco balas… um último filme. Está preparado para o derradeiro xeque-mate à sua cabeça?

Revolver (2005)

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Quem diria que o Jason Statham fazia algo que não arrear em pessoas. A verdade é que Revolver surge noutra fase da sua carreira, dando seguimento ao seu êxito em dois dos meus filmes favoritos: Snatch (ou Porcos e Diamantes para os mais distraídos) e Lock, Stock And Two Smoking Barrels. De notar que os três filmes contam com a realização de Guy Ritchie, ele que foi um dos meus realizadores de eleição durante alguns anos.

Revolver teve uma aceitação fraca por parte dos críticos, um pouco como o que aconteceu com Lucky Number Slevin. Injustamente ou não, o filme foi ignorado por algumas comunidades cinéfilas, que alegaram que o filme teria um enredo excessivamente confuso e complexo.

Tenho uma teoria muito particular acerca deste filme, e talvez seja essa a verdadeira razão que fez com eu o escolhesse para esta lista. Shall we begin? Ora bem, eu vejo uma analogia entre a vida e o xadrez. Um jogo no qual Jake Green (Jason Statham) nunca está as dez jogadas à frente que precisa para se safar de todos os seus problemas. O mesmo acontece com o “vilão” Dorothy Macha (Ray Liotta), cuja falta de controlo emocional deixa muito a desejar (note-se que estamos a falar dum chefe da Máfia!).

Green é um jogador de poker que, durante 7 anos de cadeia solitária aprendeu “A Fórmula”. Uma técnica infalível que o levaria a ganhar qualquer jogo. Incluindo o jogo mais importante de todos: a vida (não, este filme não é sobre escola da vida, aviso já). O elemento xadrez (em concreto) é lançado para a película através de um par de ases que Green conheceu enquanto esteve preso, um mestre da “aldrabice” e um génio do xadrez.

E alguém conhece a teoria da dinâmica das personalidades de Freud (que divide a mente humana em ID, SuperEgo e Ego)? É só uma das dezenas de explicações que têm surgido ao longo dos anos, uma teoria pouco explorada que pode ser aplicada ao filme e que me parece, relativamente, óbvia. Mas aqui não me alongo, não quero estragar a surpresa! Para saber o resto, basta ver o filme.

Ah… as alegações finais. Aquele momento que remonta sempre ao início do texto (que devem ter começado a ler em 1626) e que serve para cativar o leitor a ler outra crónica do humilde colunista no mês seguinte. Jokes aside, espero continuar a ver filmes que me façam realmente pensar e espero que tenha despertado essa mesma curiosidade nos excelentíssimos leitores. Hollywood tem deixado escapar alguns projectos ambiciosos em prol de filmes “sem sal”, que provocam tudo menos a nossa mente. Mas não foi por isso que deixámos de ter Interstellar, Source Code ou Shutter Island nos últimos anos. A chama continua lá!

Que este suspense sem igual nunca desapareça do mundo do Cinema. São estes os filmes que mantém o coração da Sétima Arte a bater bem forte! Bem, está na hora de me despedir. Em Setembro há mais, por isso fiquem atentos. Até lá, podem continuar a esfregar as mãos para as próximas estreias, a época das séries está quase a começar. So long… partners!