Entrevista a Lei Di Dai – A Rainha do Dancehall e do Raggamuffin!

As entrevistas do Ideias e Opiniões não param! Aliás, não só não param como até atravessam o atlântico para lhe trazer verdadeiros exclusivos! Desta vez tive o prazer de conversar um pouco com a cantora Lei Di Dai, Rainha do Dancehall e do Raggamuffin (título dado nada mais, nada menos, do que pela reputada revista Rolling Stone Brasil!), que por estes dias está em plena digressão em Portugal! Serão três datas, duas em Lisboa e uma no Porto: hoje, dia 18 de Agosto actua no B.Leza, amanhã (sexta-feira, dia 19 de Agosto) espalha boas energias e positividade pelo Crew Hassan e no Sábado (dia 20 de Agosto) fecha esta mini-digressão com um concerto no Breyner 85.

Antes de irmos ao que realmente interessa é obrigatório endereçar um agradecimento à Lei Di Dai pela disponibilidade com que recebeu as nossas perguntas e à Music in My Soul nas pessoas do Gonçalo Dias e da Bárbara Delgado que tudo fizeram para que esta entrevista se concretizasse!

  1. Qual era a sua relação com a música durante a infância e a adolescência? Que referências musicais tinha nessa altura? Cresci ouvindo reggae, samba, jazz, Hip Hop, com minha família e todas essas influências musicais me inspiram até hoje.
  2. Sempre apreciou especialmente o reggae ou essa paixão apenas surgiu mais tarde? Sempre ouvi reggae com meu pai em casa.
  1. Sempre quis ser cantora ou em pequena tinha outros sonhos e ambições? Se o destino não a tivesse conduzido ao mundo da música que profissão teria hoje em dia? Sempre sonhei em ser artista, mas também gosto muito de culinária, acho que seria uma Chef Gourmet.  
  1. Em 1999 nasce a sua primeira banda: os Camarão na Brasa. Como é que surge este projecto? E em que medida é que ele influenciou a sua futura carreira a solo? O Camarão na Brasa foi o início da minha libertação musical. Podíamos fazer música sem rótulos,  músicas do coração e os 5 anos com a banda me influenciou a acredita na minha música autoral e fazer bons contactos musicais.
  1. O que a levou a apostar numa carreira a solo em 2005? O facto de não depender de mais ninguém, pelo menos de forma directa, trouxe-lhe mais liberdade criativa (nas suas músicas e letras, por exemplo)? Sim, foi essencial continuar cantando a solo, para ser mais conhecida na música e isso me trouxe uma liberdade poética muito forte!

    Lei Di Dai
    “Muitas pessoas conheceram o meu trabalho através desse artigo da Rolling Stone, abriu um lindo caminho para a minha carreira a solo. “
  1. De onde vem o nome Lei Di Dai? Existe alguma ligação à Princesa Diana, de Inglaterra (que ficou para sempre conhecida como “Lady Di”)? Não tem nada a ver com a princesa! O meu nome é Daianne em homenagem à grande cantora Diana Ross e um amigo me disse: porque você não assume o nome artístico Lei Di Dai? E eu perguntei-lhe: “porquê?”. E ele disse: “Porque você só segue suas próprias leis!”. E Lei Di Dai foi para fica mais sonoro.
  1. O seu primeiro álbum, “Alpha & Omega” alcançou um sucesso estrondoso no Brasil (tendo chegado, por exemplo, a ser nomeado pela MTV, em 2009, para os VMB) e levou-a inclusivamente em digressão pela Europa. Podemos afirmar que esse sucesso foi a confirmação do quanto o povo brasileiro esperava que alguém apostasse a sério no reggae? O reggae no Brasil tem o seu lugar efetivo, foi maravilhoso conseguir um espaço nas TV’s, jornais e rádios nacionais cantando reggae e dancehall.
  1. Quando em 2006 a revista Rolling Stone a intitula “Rainha do Dancehall e do Raggamuffin” sentiu que, finalmente, o seu trabalho e o impacto da cultura reggae tinha sido reconhecido? Sim! Muitas pessoas conheceram o meu trabalho através desse artigo da Rolling Stone, abriu um lindo caminho para a minha carreira a solo.
  1. Ainda sobre esse título atribuído pela Rolling Stone: esperava que ele tivesse tanto impacto na sua carreira? Esse título foi a bênção necessária para ter 10 anos de carreira solo, fazendo dancehall no país do samba e do Carnaval.
  1. E assim chegamos a 2013 e ao seu segundo disco: “Ragga na Lata”. É justo afirmar que foi neste momento que a sua carreira a solo se consolidou verdadeiramente? Do que falavam estas músicas e estas letras? Minha carreira se consolidou verdadeiramente em 2009. No ano de  2013, quando lançámos o “Ragga na Lata”, foi o ano em que estávamos fazendo muitos concertos e sound system pelo Brasil. Então decidimos lançar no final desse ano uma Mixtape com tudo que tinha gravado depois do primeiro disco ” Alpha & Omega”. O disco acabou por ser produzido por diferentes pessoas e isso influenciou a sonoridade final, levando a um maior destaque e a uma digressão para o “Ragga na Lata” absolutamente incrível! Rendeu mesmo muitos concertos em 2014 e 2015, com letras conscientes e cheias de positividade.

    São estas as três datas que compõem a digressão de Lei Di Dai em Portugal!
    São estas as três datas que compõem a digressão de Lei Di Dai em Portugal!
  1. Três anos depois edita “Quem Tem Fé Tá Vivo”, disco que celebra os seus 10 anos de Carreira. O que podemos esperar deste novo álbum? Esta digressão é a forma perfeita de comemorar a primeira década de carreira? Esse é o meu melhor álbum! A sonoridade é maravilhosa e a qualidade musical está acima da média! Foi todo ele gravado na Redbull Station, em São Paulo, e foi produzido pelos melhores beat makers do país! É uma alegria depois de dez anos de carreira fazer um trabalho com uma qualidade destas.
  1. As suas músicas e letras têm uma mensagem muito forte e marcada. Num mundo recheado de músicas vagas, sem qualquer conteúdo e irritantemente semelhantes e repetitivas, em algum momento teve medo que o público não compreendesse o que a move? O que diferencia o meu trabalho é o facto de eu falar sobre assuntos fortes e transmitir mensagens positivas fazendo as pessoas acreditar no seu próprio talento. Acho que as letras fazem toda diferença no meu trabalho!
  1. Passados dez anos de estúdio, estrada e palco certamente que viveu e presenciou diversos episódios caricatos e engraçados! Conte-nos algum que a tenha marcado especialmente! Acho que o mais engraçado foi abrir a Marcha da Maconha neste ano de 2016, em São Paulo, fumando e cantando e a polícia ao lado sem poder fazer nada! (Risos)
  1. O que aproxima, e o que separa, a Lei Di Dai de 2016 da Lei Di Dai que em 1999 dava os primeiros passos nos Camarões na Brasa? O que aproxima é o mesmo objetivo de 1999: fazer boas músicas! E o que separa é que agora ganho mais dinheiro com a minha música do que quando pertencia ao Camarão na Brasa. (Risos)
  1. Imagine que tem diante de si um extraterrestre e que de entre todas as pessoas no Planeta Terra ele a escolhe a si para colocar a seguinte questão: “O que é o reggae e o que ele significa para ti?”. O que lhe respondia? Respondia que o reggae é a batida do coração e que salvou a minha vida!!! Significa mesmo tudo para mim!
  1. Se no Ideias e Opiniões quisermos aprender mais sobre o reggae que livros devemos de ler e que músicos/cantores (brasileiros e internacionais, claro) devemos de escutar? Para saber mais sobre reggae assistam Rockers e ouçam a fundação do reggae jamaicano (afinal o reggae nasceu na Jamaica).
  1. Ainda existem preconceitos associados ao reggae, à sua cultura e mensagem e a todos(as) aquele(as) que escolhem seguir a sua filosofia de vida? Sim, dizem muitas vezes que o reggae é coisa de hippie. Mas eu não sou hippie! Sou rasta e só puro amor à reggae music e à sua cultura.
  1. Em pleno Século XXI as mulheres ainda são descriminadas no mundo da música? Em algum momento da sua carreira sentiu que tinha sido prejudicada por ser mulher ou por ter escolhido o reggae? O reggae me trouxe a força necessária para enfrentar as dificuldades e para conquistar novos lugares. Graças ao reggae tenho um trabalho e bons contatos!

  1. Imagine que encontra uma lâmpada mágica e que essa lâmpada lhe permite pedir um desejo muito particular e que lhe garante que nunca ninguém saberá que a usou. Com um estalar de dedos o génio da música pode fazer com que três músicas (de qualquer cantor/músico do mundo, de qualquer era e de qualquer língua) passem a ser uma criação sua (com todo o prestígio, reconhecimento, lucros e fama que isso traria, claro). Que músicas escolhia e porquê? 

    Legalize it – Peter Tosh – Pela força da mensagem sobre a  planta sagrada!Bom senso – Tim Maia – Por causa da obra-prima que é o disco “Tim Maia Racional”.Murderer – Barrington Levy – Porque o que Deus abençoa nada amaldiçoa.

  1. No Ideias e Opiniões somos curiosos por natureza e gostamos tanto de descobrir jovens projectos quanto de ouvir boa música por isso impõe-se colocar a seguinte questão: que jovens talentos brasileiros nós, portugueses, temos mesmo de ouvir? Aconselho novos talentos como a Rafela “Bad Sista”, produtora musical e DJ  que produziu algumas faixas do meu novo álbum. É um grande talento mesmo!
  1. No Brasil a música portuguesa ainda é vista como “fado e pouco mais” ou a internet (e as redes sociais, os blogues/sites de música e o youtube em particular) vieram mudar um pouco essa visão? Sim, podemos dizer que a chegada da internet veio mudar a nossa visão da música portuguesa.
  1. Conhece alguns artistas/bandas portugueses? Se sim, quais? Qual a sua opinião sobre os intérpretes portugueses de reggae? Conheço, e gosto muito, de Buraka Som Sistema! Estou em contato com alguns sound system  e tenho interesse em colocá-los no nosso mini-documentário sobre a cultura jamaicana e a sua influência na música mundial.
  1. Considera a hipótese de colaborar com músicos e/ou cantores portugueses no futuro? Sim! Me interesso muito por artistas com influências jamaicanas e em Portugal temos alguns bons artistas desse seguimento.
  1. Que músicas, álbuns ou artistas mais têm rodado ultimamente no seu MP3/Computador/Carro? Shaggy, Shabba Ranks, Nina Simone e Tim Maia.

    Lei Di Dai
    “Acredito que o streaming divulga muitos artistas independentes e isso fortalece o cenário indie.”
  1. Quais são os seus maiores guilty pleasures? Os dancehall ganster dos anos 80 e 90.
  1. A que formato é verdadeiramente fiel: ao Vinyl, à K7, ao CD ou ao formato digital? Ouço todos os formatos, mas hoje em dia ouço muito digital.
  1. Por falar em formato digital….encara o streaming como um aliado ou antes como um inimigo silencioso? O poder viral do streaming, e das redes sociais, é uma forma de potenciar o seu trabalho ou as parcas receitas que daí advêm ainda não compensam essa aposta? Acredito que o streaming divulga muitos artistas independentes e isso fortalece o cenário indie. Aposto muito nesse formato e na divulgação através das redes sociais!
  1. Entrámos recentemente na segunda metade de 2016 por isso esta é a altura ideal para um balanço musical do ano. Na sua opinião qual é, até agora, o Melhor Álbum Brasileiro e o Melhor Álbum Internacional do ano? Melhor Álbum Brasileiro: “Lei Di Dai 10 Anos #QuemTemFéTáVivo” (estou mesmo muito feliz com esse trabalho novo!). Quanto ao Melhor Álbum Internacional estou muito ansiosa pelo novo disco da M.I.A!
  1. Está prestes a começar uma digressão por Portugal que inclui três datas (duas em Lisboa e uma no Porto) mas esta não é a sua estreia no nosso país. Como correu a sua primeira experiência em Portugal? E que expectativas tem para este aguardado regresso? Sim em 2009  fiz uma digressão em Portugal! Começou muito bem na Casa Da Música, no Porto, e passei também por Lisboa e pelo Algarve. A minha expectativa é a melhor possível! Espero rever o público dançante e carinhoso de Portugal! Beijos e até breve!
  1. Onde nos podemos manter actualizados sobre a sua carreira? Podem seguir-me no Facebook e no Soundcloud!Agenda de concertos da Lei Di Dai em Portugal:
    18.08 | B.Leza, Lisboa

    19.08 | Crew Hassan, Lisboa

    20.08 | Breyner 85, Porto

Agradecimentos: Lei Di Dai; Music in My Soul; Gonçalo Dias e Bárbara Delgado.