Quem é que não tinha saudades do Verão? Agora que sabemos que a estação favorita de todos não foi cancelada, temos todas as condições reunidas para compilar, sob a forma de indispensável guia, as canções sensacionais e os discos catitas que nos acompanharão ao longo da temporada. Tudo para que tenham uma época estival feliz e relaxada.
Vamos primeiro às canções:
1) Calvin Harris & Dua Lipa- “One Kiss”- Já devíamos ter aprendido a não subestimar as capacidades de Calvin Harris. “One Kiss” não é de todo o banger mais incrível da forja de êxitos do DJ escocês, mas um bastante sólido e aditivo a que regressamos vezes sem conta com o êxtase da primeira vez. Junta-se-lhe uma Dua Lipa em estado de graça e temos um dinâmico pedaço de deep house que alimentará noites de Verão a fio.
2) Clean Bandit feat. Demi Lovato- “Solo”- Woop woop woop! Depois de “Symphony” e “I Miss You”, dois singles mais midtempo, o trio britânico precisava de voltar a aumentar o compasso. “Solo” chega então para devolver os Clean Bandit à pista de dança e para dar a Demi Lovato a melhor colaboração da sua vida. Misto de “Rockabye” (sem a brisa dancehall) e de “Anywhere” (a mesma cama de vocoders), a canção celebra a emancipação e independência pós-desolação amorosa. #hinaodaporra, pois claro.
3) Camila Cabello- “She Loves Control”- A maioria das fichas parecem ter sido apostadas em “Sangria Wine”, o promissor mas algo insuflado novo single estreado a meias com Pharrell Williams, mas ainda há esperança que Camilita ganhe bom senso e dê ao seu debute o terceiro single que verdadeiramente necessita. Cruzamento entre reggaeton e flamenco tecido por Frank Dukes e Skrillex, “She Loves Control” soa a um estrondoso êxito estival à espera de acontecer.
4) Jennifer Lopez feat. DJ Khaled & Cardi B- “Dinero”- Se em 2017 tivemos “Wild Thoughts”, este ano o equivalente surge na figura de “Dinero”, fogoso híbrido de trap latino com elementos de bachata, assistido pelo mestre de cerimónias DJ Khaled e pela sista do Bronx, Cardi B, a entregar collabs até dar o check in na maternidade. Tudo a postos para que se torne no maior êxito de J.Lo desde “Ain’t Your Mama”.
5) Ella Mai- “Boo’d Up”- Se no ano passado tivemos Khalid a revelar-se Príncipe de uma nova dinastia do R&B, em 2018 a equivalente feminina parece surgir na figura de Ella Mai, uma londrina de 23 anos que assina pela editora de DJ Mustard, o afamado produtor de hip hop norte-americano que tece também esta valente feel-good jam R&B noventista sobre a maravilhosa sensação de se ser um tonto apaixonado. Vejam-na só a tornar-se no hit inesperado da estação.
6) Liam Payne feat J Balvin- “Familiar”- Quem diria que os hitmakers dos One Direction se resumiriam a Zayn e Liam Payne? Cruzando o seu balanço R&B com as sensibilidades latinas que tomaram de assalto a pop desde o Verão passado, Liam entrega-nos um sedutor affair latino ao melhor nível de “Señorita” de Justin Timberlake, sobre intimidades e cortejos na pista de dança. J Balvin valida e potencia o efeito irresistível da canção.
7) Kelly Clarkson- “Heat”- Em termos de cotação pública, Kelly Clarkson está na sua melhor forma desde os tempos áureos de Breakaway, mas essa popularidade, infelizmente, ainda não se traduziu para o plano musical. Meaning of Life, todo uma prova de vida em campos de soul, pop e R&B, é o seu melhor álbum em anos e “Heat”, esfuziante súplica por um suplemento romântico por parte da cara-metade, ansia e vibra pela libertação. So come on love!
8) Ne-Yo feat. Bebe Rexha & Stefflon Don- “Push Back”- Só por via de um sopro milagroso é que “Push Back” ainda pode encontrar a aclamação comercial merecida, mas no que toca a hits certificados para a época estival poucos merecem mais o diploma do que ela. Ne-Yo regressa assim pela mão dos Stargate com um muito apetitoso híbrido pop/dancehall condimentado a gosto pelas certeiras participações de Miss Rexha e Stefflon Don.
9) Cardi B feat. Bad Bunny & J Balvin- “I Like It”- Agora que Cardi B já provou que é mais do que “Bodak Yellow” dava a entender, é tempo de Invasion of Privacy mostrar os seus trunfos. Certificado e apto para o Verão surge “I Like It”, infeccioso pedaço de salsa/trap latino eficientemente assistido por Bad Bunny e J Balvin que, à semelhança de “La Modelo”, volta a absorver as heranças latinas da sua intérprete. Muita fé em que se torne o campeão deste Verão.
10) Justin Timberlake- “Wave”- Man of the Woods é um dos álbuns mais mal-amados do ano (quanto mais da carreira de JT), mas isso não impede que não transporte o seu quinhão de potenciais êxitos. Em “Waves” Justin Timberlake sai da floresta e procura uma escapadela romântica num qualquer panorama insular, assistido pela inventiva produção dos The Neptunes. Para ouvir entre um mergulho no mar e um refresco de piña colada.
11) Tove Lo feat. Charli XCX, Icona Pop, Elliphant & Alma- “Bitches”- Lembram-se daquele Verão em que Tove Lo recrutou o seu próprio grupo feminino multicultural e deu às massas o bop lésbico da temporada que Rita Ora tentou fazer com “Girls” e falhou redondamente? Pedaço de electropop intoxicante com o diabo no corpo, era o trunfo de Blue Lips que aguardava pela libertação. Vai ser tão bom, não foi?
12) George Ezra- “Shotgun”- Para alguém que construiu o seu álbum de estreia baseado numa viagem de comboio pela Europa, a tentação de canalizar a mesma inspiração ambulante em temas futuros é grande. É isso mesmo que Georgie faz no mais recente single do seu último disco, folk pop leve e luminosa sobre embarcar no desconhecido e encontrar razões para permanecer. Hino balnear, de estrada, festival, e tudo o mais que rime com sol, aventura e boa disposição.
13) Ariana Grande- “No Tears Left to Cry”- Vai ser um Verão de cura e apaziguamento emocional para Ariana Grande, ainda a recuperar do abalo sofrido com os atentados de Manchester em Maio do ano passado. A regeneração faz-se na pista de dança ao som de “No Tears Left to Cry”, compelativo objecto dance pop pós-traumático diluído na cadência emocional de “One Last Time” e na brisa EDM fortalecedora de “Break Free” – tudo com a suavidade de uma folha ao vento. Juntos, reconstruímos.
14) Khalid feat Ty Dolla $ign & 6LACK- “OTW”- Depois de um excelente “Love Lies”, Khalid entrega-nos um não menos sublime “OTW”, melódico e sedutor pedaço de trap R&B de influências 90s com produção de Nineteen85 (“Hold On, We’re Going Home”, “Too Good”) que versa sobre estar lá para o #crush, aprimorando assim a sonoridade praticada na estreia de 2017. Ideal para aquelas deambulações nocturnas solitárias.
15) Louis the Child feat. Wafia- “Better Not”- Não é por acaso que as propostas electrónicas têm outro encanto na estação mais quente do ano – à medida que as temperaturas subirem, este pode muito bem ser o bop que nos fará companhia. Louis the Child, dupla norte-americana que se move nas águas contemporâneas de Flume ou Odesza, procura aqui o seu primeiro hit no mainstream: um irrecusável pedaço de future bass celestial sobre não desperdiçar o amor quando este bate à porta.
16) Troye Sivan- “Bloom”- Parece que este ano a Primavera nos vai acompanhar um pouco mais do que o esperado, pelo que é recomendável que este Verão levemos também “Bloom” na algibeira. Tremenda canção pop sobre desejo queer e indutora de borboletas no estômago, segue no encalço do soberbo “My My My!” e atesta a vitalidade de Troye Sivan enquanto autor das melhores canções pop no masculino em 2018.
17) Friendly Fires- “Love Like Waves”- Passaram sete anos desde a edição de Pala, mas o trio britânico não se esqueceu de como fazer grandes canções. “Love Like Waves” soa à continuação natural do indie-funk tropical explorado nesse disco, feito à base de steel drums, uma linha de sintetizador inebriante e uma secção rítmica altamente dançável. Dificilmente encontrarão algo mais estival que isto.
18) Post Malone- “Better Now”- Post Malone está tão em alta que nem tem que se dar ao trabalho de escolher os singles de Beerbongs & Bentleys – estes escolhem-se sozinhos. A montanha de streamings de “Better Now” – híbrido pop-rap emocionalmente turbulento que Drake ou a Taylor Swift de Reputation não descartariam – assim o ditou e, como tal, preparem-se para ouvir isto um pouco por todo o lado ao longo deste Verão.
19) Luis Fonsi & Stefflon Don- “Calypso”- Báilalo, báilalo. A última coisa que precisamos é de voltar a ter um Verão dominado pelo autor de “Despacito”, mas quando a investida de 2018 é tão divertida e irrecusável quanto “Calypso”, reggaeton perfumado de essências caribenhas com um vídeo paradisíaco a condizer, não há muito a fazer. Maldito Fonsi.
20) Years & Years- “If You’re Over Me”- Porque é que será que as melhores canções dos Years & Years resultam todas de amor turbulento e arruinado? Segundo avanço de Palo Santo, “If You’re Over Me” é a proposta mais poppy quiçá de sempre do trio britânico, ainda que verse sobre aqueles sentimentos conflituantes para com uma antiga paixão não resolvida. Porque o Verão também não é alheio a segundas ou terceiras oportunidades.
E porque a música ainda passa essencialmente por bons discos, olhamos agora para algumas das propostas que irão marcar a estação mais quente do ano:
Ben Howard- Noonday Dream
Quatro anos após o último I Forget Where We Were, o cantautor inglês retorna com o seu terceiro disco de estúdio, já longe da folk soalheira e hínica da estreia de 2011, prosseguindo na rota sinuosa, introspectiva e experimental iniciada no álbum de 2014. As canções de Noonday Dream foram compostas e produzidas pelo próprio intérprete quase em regime de reclusão à boa moda de Bon Iver, e estreadas ao vivo entre nós no concerto do passado dia 27 de Maio no Coliseu de Lisboa.
Muita esperança depositada nesta jovem de apenas 21 anos que é tida como uma das revelações de 2018. Herdeira dos ensinamentos soul de Amy Winehouse, da cartilha jazz de Billie Holiday e da escola R&B de Lauryn Hill, Jorja Smith apresenta em Lost & Found sérios argumentos para uma carreira tão notável quanto as figuras de que recolhe inspiração. Escute-se “Blue Lights”, “Teenage Fantasy” ou “Don’t Watch Me Cry” para compreender as loas que lhe são tecidas.
Depois do mais desinspirado Sheezus (2014), Lily Allen está de volta – e desta vez é a valer. Sem freios ou inibições, No Shame detalha a crise de identidade em que mergulhou após o lançamento do terceiro álbum, as razões que contribuíram para o fim do seu casamento, dilemas maternais e ecos do seu passado turbulento. O processo catártico e confessional resulta no seu melhor álbum em anos: “Trigger Bang”, “Three” ou “Come on Then” são pontos altos.
So Sad So Sexy marca o regresso de Lykke Li à música após ter sido mãe e de ter perdido a sua progenitora. À semelhança do anterior I Never Learn (2018), ainda é a tristeza que mais permeia o seu trabalho, mas desta vez a sueca traz novas influências para cima da mesa, derivativas do universo do hip hop e R&B, que fazem com que este seja o título mais comercial e acessível do seu percurso. Malay, Jeff Bhasker, Ali Payami, Kid Harpoon ou Emile Haynie emprestam a sua visão ao álbum.
Christina Aguilera- Liberation
Esperámos seis longos anos pelo sucessor de Lotus, mas ele aí está. O oitavo álbum de estúdio de Legendtina chega com o cunho criativo de ilustres como Anderson Paak, Kanye West, MNEK ou Ricky Reed e de colaboradores menos mediáticos como Charlie Heat, Dumbfoundead ou Jon Bellion, que conferem a Liberation uma identidade hip hop e R&B expressa em temas como “Accelerate”, “Like I Do” ou “Deserve”. A mensagem, essa, é de liberdade e empoderamento.
Panic! at the Disco- Pray for the Wicked
É já com a estação estival a decorrer que chega o sexto disco dos Panic! at the Disco – um dos activos mais acarinhados da Fueled By Ramen – agora um projecto a solo da mente de Brendon Urie, ainda que em palco albergue outros tantos músicos. À semelhança do álbum anterior, Pray for the Wicked conta com produção de Jake Sinclair e parece seguir a toada power pop/rock deste. “Say Amen (Saturday Night)”, “High Hopes” e “(Fuck A) Silver Lining” são os cartões de visita.
Florence and the Machine- High as Hope
(29 de Junho)
Desde Abril que Flo e a sua máquina têm vindo a preparar o regresso às edições discográficas. High as Hope, o quarto de originais para o grupo britânico, sucede ao aclamado How Big, How Blue, How Beautiful (2015) e é o primeiro da banda a não contar com produção de Paul Epworth, substituído no comando pelo norte-americano Emile Haynie. O registo é antecedido por “Sky Full of Song”, “Hunger” e “Big God”.
Drake- Scorpion
Drake comandou o primeiro semestre de 2018 à custa de “God’s Plan” e “Nice for What”, e prepara-se para prolongar o reinado à medida que entramos no segundo, agora com a edição de Scorpion, o seu quinto álbum de estúdio que sucede à playlist More Life (2017) e a Views (2016). O rei do streaming mantém perto os habituais colaboradores (Noah “40” Shebib, Boi-1da, Murda Beatz ou Lil Wayne) e mantém o segredo do alinhamento até ao derradeiro momento. Recordes serão esmagados.
Gorillaz- The Now Now
Não há fome que não dê em fartura: a banda virtual mais cool do planeta entrega-nos o seu sexto álbum de estúdio pouco mais de um ano decorrido da edição de Humanz. Gravado num período recorde em Fevereiro último, The Now Now nasceu com a intenção de que a banda de Damon Albarn tivesse novas canções para tocar na estrada. Em oposição ao disco anterior, os temas deste álbum foram alinhavados por James Ford e contam com um número de colaborações mais reduzido.
Years & Years- Palo Santo
Escrito e gravado nos 18 meses que se seguiram ao término da digressão mundial de Communion, o segundo disco dos Years & Years segue a história de uma sociedade distópica e sem género povoada por andróides, designada Palo Santo. O conceito tem sido explorado nos vídeos de “Sanctify” e “If You’re Over Me”, os primeiros avanços do registo que conta com contribuições de Greg Kurstin, Mark Ralph, Kid Harpoon, Two Inch Punch ou Steve Mac na produção.
Nicki Minaj- Queen
Nome pomposo? Check. Capa estrondosa? Confere. Conteúdo sumarento? Veremos. É o regresso de Nicki Minaj quatro anos após The Pinkprint, numa altura em que o seu trono é ameaçado (usurpado?) por essa potência intitulada Cardi B. “Chun-Li”, “Rich Sex” e “Bed” em parceria com Ariana Grande são para já os cartões-de-visita revelados deste quarto álbum da norte-americana que será pretexto para uma digressão internacional conjunta com Future a começar em Setembro próximo.
Ariana Grande- Sweetener
Miss Grande vem a trabalhar no sucessor de Dangerous Woman desde Julho de 2016, quando se encontrava ainda a promover o disco de “Side to Side”. Claramente afectado pelo atentado de Manchester, Sweetener pretende ser um disco de convalescença e regeneração, como “No Tears Left to Cry” e “The Light Is Coming” – as primeiras amostras reveladas – sugerem. Max Martin, Pharrell Williams, Tommy Brown, Ilya e Savan Kotecha são alguns dos nomes associados ao projecto. Do alinhamento constam 15 temas e três colaborações, entre elas com Nicki Minaj e Missy Elliott.
Troye Sivan- Bloom
Poucos têm tido uma maturação tão estupenda em 2018 como Troye Sivan. Descrito como um álbum de “expressão gay desafiadora”, Bloom começou por nos ser apresentado em Janeiro com o libertador “My My My! e o confessional “The Good Side”. O tema-título chegaria com a Primavera avançada no calendário, seguido do mais recente “Dance to This”, em dueto com Ariana Grande. A produção deste segundo disco do australiano está assegurada por estetas como Bram Inscore, Oscar Görres, Oscar Holter, Jam City ou Ariel Rechtshaid – oxalá que seja tão incrível quanto indica que será.
Que este maravilhoso guia vos possa acompanhar ao longo dos próximos meses: um Verão feliz e regenerador para todos!
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