Liberdade: Quem És Tu?

Dizem os meus pais, que me conhecem quase tão bem quanto eu, que se eu tivesse nascido antes de 1974 tinha estado presa, exilada ou até morta. Não me calo, não me conformo e luto por aquilo em que realmente acredito. Porque acho que o mundo está cheio de pessoas mudas, conformadas e sem ideais. E foi num mundo assim que Portugal vivem quase 48 anos.

Disse o presidente norte-americano Ronald Reagan em 1964 que a liberdade “is never more than one generation away from extinction. We didn’t pass it to our children in the bloodstream. It must be fought for, protected, and handed on for them to do the same”. E o essencial desta crónica é isso mesmo: liberdade, quem és tu? Onde estás? Quem está disposto a não abdicar de ti?

Em 2016, segundo a Freedom House, o mundo é menos livre do que alguma vez imaginámos. Vejamos o seguinte mapa e correspondente percentagem.

40%. Quarenta por cento. Apenas 40% do mundo é realmente livre. Quatro em cada dez pessoas são livres. É inacreditável e ridículo e faz-me duvidar se estaremos mesmo no século XXI. A liberdade é, para a maioria dos ocidentais, um dado adquirido. Mas mais de metade do mundo não conhece a sensação de “ser livre”. E o que é isso? O que é ser livre?

Ser livre implica ter liberdade de pensamento, de expressão, de existência. É o livre-arbítrio na sua forma mais pura. Ser livre é comer o que eu quero, pensar o que quero, ir onde quero, fazer o que quero. É ter direito de voto sem restrições ou impedimentos. É poder ler um livro em Angola sobre a podridão de governo que por lá habita sem ir presa (embrulha, Zé Eduardo!). Liberdade é sair à rua com a roupa que eu quero, usando uma burca ou uns calções minúsculos. É rezar por Alá, por Buda ou por Deus nenhum.

Liberdade é não ser obrigada a abandonar o meu país por medo de perder a vida. Liberdade é ser Presidente de um país e, por muito má que a situação esteja, perceber que o voto do povo vale mais que um golpe de Estado. Liberdade é ser gay ou lésbica. Liberdade é rezar cinco vezes por dia virado para Meca ou ir à missa ao domingo. Liberdade é respeitar a cultura dos outros. Liberdade é escolher com quem me quero casar (ou até se me quero casar). Liberdade é criar coisas novas. É imaginar, pensar, amar. É tudo e mais um bocadinho.

A liberdade é um sentimento. É poder deitar-me na relva a olhar para o céu sem ter medo. “Medo de quê?”, perguntam vocês. Muito sinceramente, não sei. No meu país somos livres há 42 anos. E eu não me imagino a existir num Portugal que não este, onde eu posso escrever crónicas e dizer o que penso. Eu posso ser a favor do aborto num país maioritariamente católico. Eu posso apoiar o casamento e a adopção gay num país onde o “correcto” é a heterossexualidade. Eu posso mostrar as pernas ou usar um decote sem ser apedrejada em praça pública. Eu posso até sair à rua sozinha, sem escolta masculina, porque o meu país é livre.

E por ter nascido numa era repleta de liberdade, seja ela de que tipo for, eu tenho de agradecer a quem não baixou os braços, a quem não se calou, a quem quis mais e melhor. Obrigada por não terem desistido de Portugal. Obrigada por terem acreditado que era possível viver num país “à beira-mar plantado” com este sentimento. Que os próximos 42 anos sejam ainda melhores. Que possamos denunciar corrupção e injustiças. Que nos seja permitido escolher o que queremos, como queremos, com quem queremos, onde queremos ou quando queremos.

Liberdade Sempre!

P.S: Esta crónica deveria ter sido escrita ontem. Mas eu fui aproveitar a Liberdade.