Martin Luther King Jr. – O Homem e o Discurso

I have a dream,
that one day on the red hills of Georgia,
the sons of former slaves and the sons of former slave owners,
will be able to sit down, together at the table of brotherhood.”

Martin Luther King Junior nasceu em Atlanta a 15 de Janeiro de 1929, numa época em que imperava a segregação racial e a sombra do Ku Klux Klan pairava nas ruas. Andou em escolas para negros, estava proibido de entrar em diversos locais públicos, que eram reservados a brancos e até o seu contacto com os brancos podia tornar-se algo perigoso, quando mal entendido. Como para todos os outros negros, é claro.

Sempre foi um aluno excepcional e, tal como o seu pai e avô, decidiu tornar-se pastor baptista. Em 1953, casou com Coretta Scott e, em 1954 tornou-se ministro do culto na igreja baptista em Montgmery, Alabama, no sul dos EUA.

Apesar de desde muito novo Martin se interessar pela luta contra a segregação racial foi só em 1955, que a verdadeira batalha começou. Nesse ano, Rosa Parks, uma jovem negra, recusa-se a ceder o seu lugar no autocarro a um branco. É presa. Os negros revoltam-se mas Martin Luther King, que era apologista dos ideais de Gandhi e da não-violência, consegue convencê-los a uma resistência pacifica. Decidem boicotar os autocarros.

Martin_Luther_King,_Jr._and_Lyndon_JohnsonA partir daí e durante um ano, todos os negros deixaram de andar nos autocarros, que começam a viajar quase sempre vazios. O prejuízo da companhia aumentava a cada dia.

Martin Luther King Jr. é preso pela primeira vez em 1956, sob o pretexto de excesso de velocidade. Na verdade, a prisão não era mais do que uma forma de repressão àquilo a que agora se chama a “revolução negra”. Seria preso mais 11 vezes.

Nesse mesmo ano, a corte distrital e a corte suprema, impulsionadas pela luta dos negros, dão como inconstitucional a segregação racial nos autocarros e os autocarros de Montgomery tornam-se alvo de integração. No entanto, nada se faz sem resistência. Em 1961, um grupo que procurava introduzir a integração racial nos autocarros é preso ao chegar ao Alabama e o autocarro em que seguem é incendiado.

É ainda em 1956 que Martin e a sua família começam a sentir verdadeiramente o perigo à sua volta, com telefonemas, ameaças carregadas de ódio e insultos obscenos. A 30 de Janeiro uma bomba vem mesmo concretizar essas ameaças, destruindo parte da casa da família. Coretta e a filha salvam-se, como por milagre.

Na rua em volta da casa, uma pequena multidão enfurece-se ao ver o ocorrido. Surgem ameaças, muitos dizem que vão fazer o mesmo aos brancos. É nessa altura que King surge dos destroços da casa. Pede pela não violência e lembra-os que devem amar os seus inimigos. Depois, afirma ainda que “o movimento não parará, porque o que estamos a fazer é justo e Deus está connosco”.

Em 1960, começam os sinais de que uma nova fase se inicia na luta pelos direitos dos negros. Um grupo de estudantes organiza uma assembleia em Greensboro contra a segregação nos serviços de mesa.

1963 foi o ano do centenário da libertação dos escravos. King decide então tornar esse ano um marco na luta pelos direitos dos negros. Viam-se cada vez mais pequenos grupos de negros caminhando pelas ruas das cidades. Um pouco por todo o lado começam a surgir os chamados sit-in. Neles, negros entravam em lugares reservados a brancos e sentavam-se calmamente até que a policia chegasse para os levar. Os negócios começam a perder grande parte dos seus lucros.

Inicia-se então uma resposta cada vez mais agressiva por parte das autoridades. São proibidos os sit-in bem como os boicotes e quem insiste é preso e muitas vezes agredido.

Na Páscoa, os negros unem-se numa marcha pacifica mesmo com a proibição imposta pouco antes. Mais de 3000 negros encheram as prisões nesse dia e muitos outros continuaram a marchar, por já não haver espaço para eles, cercando as prisões onde os seus irmãos de luta se encontravam. Não ofereceram qualquer resistência.

Ao fim do dia, todos os presos são mandados embora excepto um: Martin Luther King Jr. É nessa altura que ele escreve a conhecida Carta de uma prisão em Birmingham”.

O presidente Kennedy, movido pelas imagens brutais das lutas que se travavam contra o movimento e pela repercussão que essas mesmas imagens estavam a ter, fez em Maio desse ano um discurso dramático no qual manifestava o seu apoio e compreensão pela luta dos negros. Disse ainda que iria apresentar ao congresso o Civil Rights Bill, numa tentativa de estabelecer igualdade entre brancos e negros.

Foi em Agosto do mesmo ano, durante a primeira marcha do protesto em Washinton D.C. (a famosa “Marcha pela Liberdade”), como forma de apoio às intenções de Kennedy, que Martin Luther King Jr. proferiu o seu famoso discurso “I Have a Dream”.

Martin Luther King Jr costumava dizer que não era um homem corajoso, mas isso nunca o impediu de lutar por aquilo em que acreditava. E além de ser um bom pai de família e um pastor inspirador, ele era sem dúvida alguma um orador capaz de motivar multidões.

Kennedy tinha sido assassinado em Dallas a 22 de Novembro. Muitos aplaudiram o assassinato, afirmando que “o amigo dos negros tinha recebido o que merecia”.

O Civil Rights Bill foi aprovado pelo Congresso em Fevereiro de 1964, apenas alguns meses antes de King ser galardoado com o Prémio Nobel da Paz.

Ao receber o Prémio em Oslo King viria a dizer que o recebia “em nome de todos os negros que lutavam”.

Martin Luther King Jr. foi assassinado a tiro a 4 de Abril de 1968, apenas um dia depois de proferir o discurso “I’ve Been to the Mountaintop”.

Deixou mulher, quatro filhos e uma longa história de luta, fé e coragem.