“O Que Eu Digo Não Se Escreve…” — A chegada dos novos iPhones…

Para quem é um fervoroso adepto das traquitanas que a Apple possui, o mundo parece parar de 6 em 6 meses – espaço de tempo em que são lançados novos produtos pela empresa da maçã. Ora, mais recentemente, a Apple voltou a apresentar os seus novos iPhones em mais um evento catita cheio de suspense e glamour – apanágio da cultura americana, que são os primeiros a criar um enorme ênfase à volta daquilo que é, indubitavelmente, algo simples e que nunca irá ser a cura para um dos enormes flagelos do mundo: o cancro.

 

 

Como tem sido paradigma, sempre que a marca lança um novo iPhone, o seus preços são, cada vez mais, elevadíssimos. O novo iPhone pode chegar perto dos 1600 euros. Tendo em conta este pequenino pormenor, decidi abordar algumas pessoas na rua (na verdade foi só uma, porque tenho uma filha para criar que me ocupa bastante tempo, e também porque é só estúpido andar na rua a entrevistar pessoas, quando se pode usar esse tempo precioso para, por exemplo, ler um simples livro…) para saber a sua opinião sobre este tema. Ora vejamos…

 

 

Eu: Olá, amigo. Como está?

 

Pessoa: Desculpe, não posso. Não tenho tempo! Estou cheio de pressa!

 

Eu: Calma, isto é rápido. É só uma pergunta ou duas!

 

Pessoa: Não posso! Se me atraso, podem esgotar! E depois todo o meu esforço terá sido em vão!

 

Eu: Esgotar? Esforço? Está a falar do quê?

 

Pessoa: Do novo iPhone, claro! Mas há alguma coisa mais importante no mundo do que isso?! Pfff.

 

Eu: Ah! Mas era mesmo sobre o iPhone que eu pretendo fazer-lhe uma pergunta ou duas. É rápido!

 

Pessoa: Ai é? Ah, sendo assim o caso muda de figura. Ora diga lá!

 

Eu: Muito bem. Já vi que é um adepto dos produtos da Apple. Diga-me, o que acha do facto dos preços dos novos iPhones serem tão elevados?

 

Pessoa: Acho bem! Quando o produto é bom, há que pagar o devido valor por ele.

 

Eu: Ah, então quer dizer que o senhor está à vontade para comprar um iPhone no valor de 1600 euros.

 

Pessoa: Claro que não. É muito dinheiro. Mas acho que vale a pena fazer alguns sacrifícios e esforços para o obter.

 

Eu: Ah, ainda bem que coloca a questão nesse sentido. Então que esforços e sacrifícios teve de fazer para poder adquirir o novo iPhone?

 

Pessoa: Ah, nada de mais… Primeiro, vendi o recheio da casa. Como tenho um T1, não tinha muita coisa em casa. Logo, a venda do recheio da casa não foi suficiente para chegar aos 1600 euros. Optei então por vender um rim. Correu bem, mas ainda assim não chegava. Não quis entrar em loucuras, por isso achei que era boa ideia vender alguns órgãos que tivesse aos pares no corpo, para assim não correr o risco de falecer. Vendi um pulmão, um testículo e um olho. Mesmo assim, ainda faltavam alguns trocos. Então, num bocadinho de desespero, mas ressalvo que vale sempre a pena quando se trata do novo iPhone, decidi que não custava nada vender-me a mim mesmo. E foi assim que consegui os 1600 euros para o iPhone. Foi fácil até…

 

Ilustração de um dos rins vendidos

 

Eu: Uau… Como é que você ainda consegue manter-se em pé e a respirar, homem?

 

Pessoa: Simples, com umas sessões de fisioterapia e isto vai ao lugar. Por falar nisso, visto que eu não posso vender mais nada para além do meu próprio corpo, e como preciso de dinheiro para as sessões de fisioterapia, o meu amigo não quer uns favorzinhos? Eu vendo-lhe o meu corpo. Pode fazer o que quiser comigo, e eu faço-lhe um bom preço. Vá, não diga que não, é por uma boa causa…

 

Eu: Amigo… sem um testículo, um pulmão, um olho, um rim e sabe-se lá mais o quê, para comprar vegetais vou ao Lidl e fica-me mais em conta…