Porto – A Quinta da Prelada

Cada vez mais me deparo, com o fascinante património histórico encontrado afastado do que é hoje o centro histórico do Porto. Ao percorrer as ruas da minha freguesia (Ramalde), encontro casas apalaçadas, cujos jardins urbanos me transmitem um fascínio e orgulho, pela sua afastada localização da bucólica Baixa portuense.

Próximo da Prelada, na Rua dos Castelos, destaca-se um ex-líbris da freguesia, a Quinta da Prelada (1743-1758). Já Agostinho Rebelo da Costa, na sua obra, refere “[…] a da Prelada, quinta majestosa em grandeza, obeliscos, jardins, cascatas, pirâmides e um grande lago que rodeia uma casa acastelada que está no seu centro firmada sobre uma pequena ilha; pertencente a D. Manuel de Noronha e Menezes, fidalgo da Casa Real […]”. A etimologia da Rua dos Castelos, deve-se à presença de dois obeliscos encimados por dois castelos (localizados no atual Largo do Carvalhido), que Nasoni concebeu para a quinta e palacete, sendo transferidos para o jardim do Passeio Alegre, em 1937. O edifício de estilo barroco começou a ser construído na segunda metade do século XVIII, por Nicolau Nasoni, que pertenceu à família Noronha e Menezes (D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo e sua esposa D. Isabel de Noronha e Menezes – irmã de D. Manuel, arcediago do Porto e padrinho de vários filhos de Nasoni), parentes do deão da Sé do Porto, D. Jerónimo de Távora e Noronha, que actuou como um mecenas do arquitecto italiano.

 

Portão_Quinta_da_Prelada

 

O edifício de estilo barroco contém três corpos de alturas, cada um contendo um torreão. Nas varandas, as torres ostentam o brasão ou símbolo da família, assim como o portão de entrada, sendo este datado século XVIII e contém duas sereias apoiadas em duas almofadas. Os obeliscos que existiam na entrada foram transladados para o Passeio Alegre.

O imóvel, assim como a sua quinta, serviu para a realização de vários filmes da empresa Invicta Film Lda., empresa pioneira do cinema Português. Em 1918, a Invicta Film Lda., sociedade instalada provisoriamente na Rua Passos Manuel, efectuou o pedido de construção para um terreno destinado à criação de fitas cinematográficas, realizando vários filmes, entre 1918 e 1924, entre as quais “Frei Bonifácio”; “Os Fidalgos da Casa Mourisca”; “Barba Negra” e “Mulheres da Beira”, a partir de grandes autores da língua Portuguesa, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e Júlio Dinis.

Em 1906, após a morte de D. Francisco de Noronha e Menezes e até 1960, a casa serviu de interligação com o Hospital Santo António – o Hospital de Convalescentes. Entre 1961 e 1973, surgiu como um centro de recuperação para diminuídos físicos. Por fim, em 1974 e até ao ano de 2002, esteve classificado como um lar de terceira idade. Após 12 anos ao abandono, em 2013, deu-se a conclusão da reabilitação da Quinta da Prelada, projecto atribuído ao arquiteto Leitão Barbosa, que integra até hoje o Arquivo da Santa Casa da Misericórdia.