Aqui Tão Longe (RTP1) – Review Episódio 1

Em nenhum outro momento da história a humanidade viu tantas séries como actualmente. Existem em quantidade e qualidade, ficando literalmente à escolha do freguês aquilo que quer consumir. Em Portugal, infelizmente, as telenovelas ainda vencem por larga margem este formato que ganhou toda uma nova vida com o advento da internet. Para nossa sorte a RTP1 percebeu a urgência da aposta em séries (e não em telenovelas) originais. Esta mudança de mentalidade já produziu o mega sucesso “Bem-vindos a Beirais” (que, entretanto, já terminou) e pode muito bem estar prestes a repetir a façanha com “Aqui Tão Longe”. Não sabe do que falo? Então vai mesmo ter de ler esta crónica!

Vamos por partes. Primeiro: já não era sem tempo de a RTP perceber que imitar a programação dos canais privados não era solução para vencer a batalha das audiências. Segundo: sim, o serviço público chega algo tardiamente ao filão de ouro que parecem ser as séries. Mas mais vale chegar tarde do que nunca, certo? E, muito sinceramente, não me importo que a RTP chegue tarde desde que esteja verdadeiramente decidida a ficar e a apresentar produtos com qualidade. Terceiro: segundo consta para já teremos quatro novas séries. A partir de Setembro surgem novas séries, de diferentes autores. O que é, sem dúvida alguma, um excelente princípio de conversa.

Quarto: os autores. “Aqui Tão Longe” é uma obra de Filipe Homem Fonseca mas também de Nuno Duarte, Pedro Goulão, Luís Filipe Borges (ou “Boinas”, como ainda hoje o tratam) e de Tiago Santos. Em conjunto escreveram uma série original que promete animar as nossas noites de terça, quarta, quinta e sexta-feira! “Então e as noites de Sábado, Domingo e Segunda-feira?”. Pois, essas terá de animar de outra forma que a série apenas é transmitida quatro noites por semana!

Fátima Belo é "Júlia Torres" em "Aqui Tão Longe"
Fátima Belo é “Júlia Torres” em “Aqui Tão Longe”

Quinto: o núcleo de actores e as personagens principais. Parte do segredo do sucesso de qualquer projecto de ficção é um bom casting. Ou seja, ter o actor certo no papel certo é meio caminho andado para a cena/o episódio/a série correr bem e ter as tão desejadas audiências. É, portanto, de elogiar a presença de nomes consagrados como Fátima Belo e Miguel Damião ou promessas como Inês Curado, Filipa Areosa ou José Mata. Assim como é de elogiar a oportunidade de dois dos maiores actores nacionais de sempre voltarem a brilhar em horário nobre: Rui Mendes e Margarida Carpinteiro. Que refrescante que é ver o saudoso e talentoso Rui Mendes novamente no ar a tempo inteiro! Confesso que como fã do seu trabalho fiquei especialmente satisfeito com a sua presença em “Aqui Tão Longe”!

Sexto: estará a série à altura das expectativas? Quais expectativas? Pelo menos as minhas. Para quem não conhece o trabalho de Filipe Homem Fonseca esta pode ser uma série como tantas outras mas para mim, que o sigo há bons anos, é muito mais do que isso. É o reconhecimento do seu talento e do seu excelente trabalho como argumentista em inúmeros projectos (como Herman EnciclopédiaContra InformaçãoBocage ou Paraíso Filmes apenas para citar alguns exemplos).

Mas voltando à questão….apesar de só podermos fazer um verdadeiro balanço no final das duas temporadas (de 16 episódios cada) confesso que o primeiro episódio foi tão bom quanto esperava. Gostei do genérico, das músicas originais (algo cada vez mais raro na ficção nacional), do ponto de partida, dos temas actuais e que nos remetem para o Portugal de hoje (como o desemprego, o terrorismo, o medo, a incerteza do futuro, a distância, o amor, a traição ou a velhice, por exemplo), do primeiro contacto com as personagens, da velocidade e intensidade dos acontecimentos e dos caminhos que ficam em aberto para os restantes quinze episódios.

A veterana Margarida Carpinteiro ("Lurdes Simões") com o jovem José Mata ("João Simões")
A veterana Margarida Carpinteiro (“Lurdes Simões”) com o jovem José Mata (“João Simões”)

Sétimo: o RTP Play. A prova de que ainda temos um longo caminho a percorrer a nível digital é o facto do RTP Play ser considerado revolucionário. Não me interpretem mal: é absolutamente fantástico o avanço que a RTP tem protagonizado neste capítulo. Contudo lamento, mas ainda está muito distante de tudo aquilo que já se faz no restante mundo. Mas é de pequenos passos que se fazem os grandes avanços civilizacionais por isso ter a oportunidade de ver o “Aqui Tão Longe” no meu computador, quando quiser, e de forma legal é extraordinário. Assim como é extraordinário que a série tenha estreado pouco depois das 22h mas que eu a tenha visto online boas horas antes. Finalmente o mundo online nacional avança verdadeiramente!

Finalizo com dois apartes. Primeiro: admito que a fotografia do episódio me conquistou. Não sou um especialista, contudo algo me cativou de imediato e me fez reparar em pequenos detalhes como poucas vezes aconteceu em toda a minha vida. Segundo: os diálogos estão particularmente bem escritos, trabalhados e cativantes. Sei que um filme/série me vai conquistar quando várias falas ficam a “trabalhar” na minha mente e não as consigo esquecer. Ah e melhor ainda: a maior parte dessas falas eram da personagem do Rui Mendes (a isto se chama a “cereja no topo do bolo” caros leitores!).

Apenas o tempo dirá se “Aqui Tão Longe” será uma aposta vencedora e se esta nova mentalidade da RTP vai singrar e conquistar audiências. Mas para já os primeiros indicadores são muito positivos. “Aqui Tão Longe” passou no primeiro teste: o da estreia. Que venham os restantes quinze!