Dragon Ball Super: o regresso a Portugal

Muito se tem escrito, ao longo dos anos, sobre Dragon Ball. Essa mítica série de animação japonesa (conhecida como anime) que tinha o condão de parar, durante os anos 80 e 90, por completo, as aulas em Portugal (de relembrar o testemunho dos dobradores, sobre a forma como Dragon Ball bloqueava as aulas no Instituto Superior Técnico e, depreendemos nós, em muitas outras Universidades e escolas).

Dragon Ball marcou uma época. A época em que os dobradores portugueses tiveram a liberdade de reinterpretar as personagens, com efeitos que apaixonaram gerações de telespetadores. Se a série já estava destinada ao sucesso, não só pela envolvência da história, fantástica e inovadora para a época, mesmo em relação ao género shonen, o acrescento de piadas e referências, em português, serviu para capturar um vasto público, numa época em que a SIC se afirmava como um sucesso de audiências.

Para aqueles que não conhecem o Dragon Ball, trata-se da história, criada pelo grande mestre Akira Toriyama, de um rapazinho de 12 anos chamado Son Goku, de origem alienígena (mas isto, apenas descobrimos na segunda série: Dragon Ball Z), da sua amiga, Bulma Briefs, e das suas infindáveis aventuras em busca das Bolas do Dragão, capazes de concederem qualquer desejo. Parece simples, não é? Não se engane: Dragon Ball tem 153 episódios, Dragon Ball Z tem 291 episódios e a nova série, Dragon Ball Super, tem, atualmente, 58 episódios, 2 novos filmes, e está contratualizada para 100 episódios, com a possibilidade de ser expandida para 200, pela Toei Animation (e nem sequer estamos a contar com os 12 filmes e 64 episódios de Dragon Ball GT, um spin-off de Dragon Ball Z, que, entretanto, foi declarado não-canónico pelo criador da série). Muitas voltas e reviravoltas teve esta série, ao longo do tempo.

Mas, mais importante, Dragon Ball marcou um fenómeno não limitado a Portugal: constituiu o anime de entrada, para a larga maioria do público ocidental, à animação japonesa, revolucionando, para sempre, as interações culturais e artísticas entre o Japão, os EUA, a Europa e a América Latina.

Sucede que, finalmente, e após 15 anos de espera, Dragon Ball regressa, em versão portuguesa, às televisões, sobre a forma de Dragon Ball Super. E este primeiro episódio começa, apenas, 6 meses depois do final de Dragon Ball Z, após a batalha final com o Kid Buu (ou Bubu pequeno) aliando o velho humor do Mestre Toriyama, introduzindo-nos Son Goku e a sua família, bem como a sua obsessão com o treino que, neste ponto da história, tem muito pouca finalidade, uma vez que as ameaças ao Universo foram derrotadas… Ou assim pensam eles, uma vez que nos são introduzidas, logo no primeiro episódio, de forma destrutivamente misteriosa, duas novas personagens: Bills, o Deus da Destruição, e Whiz, o seu Mestre. Nesta nova série iremos acompanhar as aventuras e desventuras de Son Goku e muitas outras personagens conhecidas do grande público, como Son Gohan, Vegeta, Coraçãozinho de Satã (ou Picollo), Hércules, Bulma, Son Goten, Trunks e muitos outros, que cresceram com a geração dos anos 90.

Em termos de animação, é de referenciar que a qualidade da mesma é bastante boa. Traços distintos, modernizados (mantendo a tradição da animação japonesa dos anos 80/90 e do Mestre Toriyama, mas com o auxílio tecnológico proporcionado pelo meio da década de 2010), sendo que esta, ainda assim, manteve alguns erros que esperamos que, antes do lançamento em DVD, deverão ser sanados. Façamos figas para que a Toei não sacrifique a qualidade pela rapidez (enquanto aguardamos o mítico episódio 5, o qual, pessoalmente, estou muito curioso para ver qual será a reação do público português).

Referenciamos, ainda, uma pequena avaliação da interpretação da versão portuguesa: o regresso de Henrique Feist (Son Goku), João Loy (Vegeta), Ricardo Spínola (Tartaruga Genial) ou Cristina Cavalinhos (Bulma) foi assegurado pela SIC (e pelos próprios atores e fãs), no episódio que foi lançado hoje, perto das 10h de 24 de Setembro de 2016, na (claro está) SIC, e foi com extrema satisfação que a redação do Ideias e Opiniões verificou que a mística se manteve. A que nos referimos, concretamente, com “a mística”? Simples. As piadas. A infantilização contraditória com as temáticas relacionadas com a vida e a morte, tão presentes em Dragon Ball, que é pontuada por referências culturais internas (deixaremos para vosso deleite os inevitáveis vídeos que irão surgir, nas próximas horas). Ah! E já agora: “Cozido à Portuguesa”, e mais não direi. Interpretação, essa, que me transportou para a época em que eu corria para casa, de forma a acompanhar todos os episódios da série, que encarnou, na nossa humilde opinião, na perfeição o espírito do primeiro episódio desta nova série. Como nem tudo são rosas, tenho algumas dúvidas sobre a voz atribuída ao principal antagonista, nesta nova série: Bills, porém, deveremos aguardar a decorrência desta escolha, uma vez que esta personagem será extremamente importante, nos próximos episódios, e iremos observar um crescimento interessante no seu desenvolvimento, pelo que a escolha da voz não terá sido feita sem consideração pelo futuro.

Quanto às restantes vozes: mantém-se, na sua maioria, muito similar aos originais (embora nos tenha parecido que Son Goku ainda estava pouco fluido, em algumas cenas), com mudanças em personagens secundárias (como a Kika, ou Chichi), sem destoar, todavia, do espírito Dragon Ball ou da sua interpretação original portuguesa.

Por fim, em relação aos genéricos: a abertura é realizada por meio da música “Chōzetsu Dynamic!”, dobrada, claro está, em português. Neste ponto, conhecendo a versão original em japonês, e interpretações múltiplas em português do Brasil, Inglês-EUA, Inglês-Reino Unido, Alemão e Espanhol-América Latina, devo referenciar que estou extremamente satisfeito com o resultado final: encarna o espírito da música na perfeição, mantendo uma satisfatória adaptação à língua portuguesa.

Em suma: a minha criança interior teve uma manhã para recordar. Dragon Ball voltou e, desta vez, com os interpretes que conheci primeiramente. Por 23 minutos, fui um puto. E quero mais. Muito mais. Obrigado à SIC, aos atores e à comunidade Dragon Ball, em Portugal, por terem tornado a dobragem portuguesa uma realidade.

O Herói voltou, de facto, à casa. E não percam o próximo episódio, porque nós, aqui no Ideias e Opiniões, também não!