Especial Grécia

Bem-vindos sejam os meus caros leitores, compreendo a vossa surpresa de verem o meu estaminé aberto em dia de folga, mas o Eurogrupo passou-me a perna! Acontece que eu esperava lançar a crónica sobre a Grécia para o próximo mês, mas o Eurogrupo não quis esperar tanto tempo para ler mais um tesourinho que vos deixo, e por isso apressou tudo. Perderam a paciência com o velho Varoufakis e com o adorável Tsipras e basicamente com toda a Grécia. Algo que eu compreendo, e até respeito, agora porem-me a fazer horas extraordinárias é que me revolta! Parece que é a minha produtividade que vai pagar a divida dos Helénicos, mas não! Se fosse, já estavam em banca rota faz muito tempo!

Vejamos então os factos desta trama:

  • Em 2010, 2 de Maio, Papandreou, líder do PASOK e chefe de Governo da então República Helénica, firmou um acordo com o FMI e o Banco Central Europeu para fazer face à enorme divida que o país havia contraído;
  • Quando a Troika dos credores entrou neste mítico país deparou-se com problemas mais graves do que a dívida: a sua causa. Estamos a falar da tragédia das suas contas publicas e da comédia de desorganização social que tinha – onde brilhavam nos papeis principais a Economia Paralela, o enriquecimento ilícito, a corrupção, entre outros;
  • Passou a falar-se então de conceitos nunca antes abordados com esta dimensão. Palavras como Troika (dos credores), FMI, resgate, austeridade, entre tantas outras invadiram as conversas de café.
  • Os Nórdicos, com a classe que habitualmente lhes é reconhecida criaram também eles novos conceitos, nomeadamente os PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Passo então a explicar o conceito: tratavam-se dos países mais frágeis, segundo as agências de rating, face à crise mundial de 2008-2009, mas para estes países civilizados e democratas do Norte, esta sigla significava ainda que se tratam de países porcos, sujos, calões, pobres e burros.
  • O resto dos meninos no recreio perceberam que era neste grupo que estavam as miúdas mais “gostosas” e decidiram tentar entrar de diversas formas – a Islândia e o Reino Unido vieram acrescentar mais duas letras à sigla passando assim a ser PIIIGGS: Portugal, Irlanda, Itália, Islândia, Grécia, Grã-Bretanha e Espanha; já a Alemanha e os Franceses acharam que era mais giro fazer isto à moda de violador de Telheiras e entraram a matar. Não foram bem aceites. O que é normal, reparem, em alguma escola se vê os “betinhos” no mesmo grupo que os “dreds”? Pessoalmente agradeço a estes novos países a companhia, note-se que daqui a pouco tempo fala-se nos países que fazem parte do grupo de Portugal e os outros. Torna-se assim mais fácil decorar os 27 países da UE. Parece que já estou a imaginar as aulas de Geografia daqui a uns tempos: “Joãozinho quais são os países da UE sem ser aqueles que são feios e porcos como nós?” – responde o João – “Então é a Alemanha, a França, a Holanda e os Escandinavos”
  • Depois da Grécia mais 4 países pediram regate financeiro. Foram eles Portugal, Espanha, Irlanda e o Chipre. Com este ponto percebemos então o significado de Solidariedade na Europa. É um bocado como aquela saga de filmes “The Hunger Games”. Neste momento a Europa está dividida em “distritos”. É intenção que cada um deles tenha uma função diferente. Estamos com azar, a nós foi dada a “oportunidade” de ser o Distrito 12 – mão de obra barata. Já a Grécia é o Distrito 13 – onde houve uma revolta, como o Capitólio, leia-se a Alemanha, não gostou, decidiu espalhar pelos outros 12 distritos que este estava acabado, que nada de lá restava, que a desordem e a insatisfação são severamente punidas.
  • A Irlanda foi a melhor bolacha do pacote, para contrariar a regra, foram os primeiros a “serem comidos” e aqueles que o comilão FMI mais gostou. Notem que foi tão bom que ao contrário de Portugal tiveram a “sorte” de sair sem programa cautelar. Obviamente os problemas de ambos os países divergem e bastante. Mas não é menos verdade que apesar disso, os dois seguiram as diretivas da “mamãe” Troika e cumpriram todas as metas. Sinto que foram injustos com a Irlanda. Só porque não têm precedentes nesta coisa da crise não foram dignos deste serviço de babysitting!
  • Cinco anos, dois resgates e um perdão parcial de divida à Grécia depois, o rato de laboratório da Europa, está num clima de insegurança em que todos os dias ora se anuncia um acordo entre ambas as partes, ora se anuncia que não há acordo! Dando a ideia de que ainda não chega. De que este caminho está certo. De que a culpa é dos gregos. Dá para acreditar que aquela gente acha que tem o direito de ter duas refeições quentes por dia!? Ridículo não é!?

Meus caros, sinto que está perto o dia em que ouviremos os nossos compadres Helénicos a cantarem-nos ao ouvido: “Are you, are you/ Coming to the tree/ Wear a necklace of hope,/ Side by side with me./ Strange things did happen here/ No stranger would it be/ If we met at midnight/ In the hanging tree.” Porque é esta a sensação que a Europa dá. Hoje é a Grécia o bode expiatório, amanhã somos nós. O efeito bola de neve ou dominó podem ser aqui aplicados. Lembro que toda esta crise é generalizada por este fenómeno. Começou no Lehman Bros. e chegou rapidamente aos países mais frágeis da economia europeia.

grécia

O nosso País não pode aguentar os fardos de uma Grécia que correu mal! Nem sequer merece isso. Digo já que esta crónica foi escrita com uma moeda Euro presente em 19 países incluindo a Grécia, mas receio que está realidade pode vir a mudar em breve, e para nós, Portugal, isto pode, não vai, correr bem! Continuando a utilizar a analogia dos Jogos de Fome, nós podemos estar a ser o Peeta da helénica Katniss, e isso é estar a ser arrastado para uma competição à qual não fomos feitos para vencer.

Também não podemos continuar a empurrar com a barriga este problema, ou tomar decisões cobardes por medo, mas temos de ser honestos uns com os outros. Ter noção do que são os efeitos de 5 anos de austeridade num país! No seu povo! Lembrar que a História ensina que nada de bom sai depois de tanto esforço! Que a falácia de populismo acaba por vencer! E que esse não é o caminho para o Velho Continente! Que os países do Sul, os mais bonitos da Europa, não merecem serem mal tratados! E que com cooperação estes países conseguem evoluir, mas para isso temos de aproximar os nossos salários e o nosso poder de compra ao do resto da Europa, temos de ser competitivos pela qualidade, e não pelo baixo preço! Temos de ser uma mais valia e não um arrasto!

Grécia

A  Alemanha por duas vezes tentou controlar a Europa, por duas vezes falhou. Desta vez parece estar a conseguir, mas todos os impérios caiem, nós já tivemos o nosso, e também não foi excepção. Receio que é isso mesmo que vá acontecer a estes nossos compinchas germânicos.

Deixo-vos com um forte abraço solidário e com aquela que é das melhores musicas que alguma vez se fez soar numa banda sonora. Deixo-vos ainda com a esperança que a história que ainda falta ser vista neste drama tenha melhores momentos do que aqueles que já vivemos.

https://www.youtube.com/watch?v=F3hTW9e20d8

PS: já reparam que os primeiros a serem dominados são os franceses?! Mas o que raio é que eles comem ao pequeno almoço!? Será que alguma vez vão mudar?!