O Futuro é dos Miúdos

O Futuro é das crianças? Não, o futuro é dos miúdos.

Qual é a diferença? As crianças estão numa das fases mais importantes da sua vida, crescem a um ritmo exponencial, devem ter liberdade para cometer erros e aprender com eles: sabem que se já esfolaram o joelho naquele muro, não voltam a tentar saltá-lo tão brevemente. Os miúdos, os garotos, não crescem. Toda a sua vida ficam presos, sedentários, sem vontade ou liberdade de crescer por si só. E é o que hoje estamos a criar: miúdos.

Os jovens de hoje em dia são cada vez mais mimados, mais protegidos pelos pais que não dão espaço e tempo às crianças para crescerem como deve ser. Para além das horas passadas na escola, ainda têm o resto do dia preenchido com actividades extra-curriculares: têm a música, a dança, e ainda o futebol. Até aqui, tudo bem! Quanto mais diversificadas forem melhor para o crescimento do jovem, até para o ajudar a discernir o que quer, o que mais gosta de fazer. Contudo, quando essa criança ainda tem de chegar a casa ao fim do dia e fazer os “T.P.C.” (que, de dia para dia, são cada vez mais avolumados), estamos a tirar-lhes tempo para serem criativas, para brincarem ao que quiserem, para “repousarem” das actividades obrigatórias às quais já estão sujeitas.

Portugal é dos países que menos liberdade dá às crianças. Não vão para a escola sozinhas, têm de ir de boleia com o pai; passam os Domingos fechadas em casa com a família, agarradas ao tablet, em vez de irem para os baloiços e escorregas de um parque infantil; são constantemente avisadas para terem cuidado com os estranhos, para andarem sempre perto de um adulto, quando vemos a taxa de criminalidade a descer cada vez mais.

Estamos a criar miúdos “totós”, cada vez mais sedentários, mais descoordenados, desajeitados e vulneráveis, que não sabem correr ou saltar; que, um dia mais tarde, não serão capazes de se desenrascar numa situação de stress, porque nunca tiveram a necessidade de procurar soluções autonomamente; que não vão ter criatividade suficiente para inovar e empreender, porque nunca tiveram de inventar uma brincadeira. Uma criança não se educa sentada, fechada numa sala de aula ou em casa. Precisa de se movimentar, de se mexer, procurar a socialização com outras crianças e com a Natureza. Uma criança precisa de alfabetizar o corpo sem que os outros pensem que é hiperactiva, de expandir o seu dicionário de movimentos e de explorar a sua imaginação e criatividade ao inventar jogos e brincadeiras.

Para os pais: organizem ao máximo as vossas vidas de forma a estarem com os vossos filhos. Para fazer o quê? Tudo o que não envolva televisão, filmes, tablet, etc. Aproveitem para despertar a criança que há em todos nós.

Boas brincadeiras.